quinta-feira, novembro 30, 2006

as liberdades e suas representações

Andava eu um dia destes à procura na internet de imagens plásticas sobre a temática ligada à revolução quando descobri, numa página do Museu virtual do patriarcado de Lisboa, uma fotografia com uma escultura do séc. XVIII da Escola de Machado de Castro representando a liberdade. Roliça e formosa, embora emocionalmente pouco densa, a liberdade portuguesa faz-se representar com um ramo de flores numa mão, abrindo-nos a outra para mostar que nada aí trás escondido que seja instrumento perturbador da ordem. Tendo uma pomba a coroá-la nada nela remte para a invocação de um estado de violência. Uma escultura bucólica, pese embora o movimento inquieto das pregas da sua túnica junto aos joelhos.

E olhei depois para a Liberdade que conheço quase de cor da iconografia da Revolução Francesa. Uma liberdade pintada por Delacroix, uma liberdade tão intensamente absorvida na sua paixão de conduzir os homens, com uma bandeira na mão e uma arma na outra, que nem nota, ou se importa sequer, com o facto de o seu peito se ter desnudado.
Com o cabelo desgrenhado, ela constata, sem reacção, olhando por cima do ombro, como a multidão a está a seguir. A seus pés jazem corpos e a seu lado um jovem rapaz em delírio bélico, caminha empunhando duas armas, uma que parece ter acabado de disparar para o ar, ou ir fazê-lo a qualque momento, e outra cujo peso faz descair o braço em direcção ao chão.
Para onde está a liberdade a caminhar?

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