sábado, dezembro 02, 2006

Um jornalista perguntava-se o que estaria o Papa a pensar quando rezava virado para Meca. Não sei muito de teologia, mas rezar não servirá para ajudar precisamente a suspender o pensamento, para descansar quaisquer dores provocadas pela força de vontade ou da extrema consciência, ou de uma sensibilidade afectada por uma dor tal que excede a sua plasticidade?
O que eu muito gostaria de ter ouvido foi a discussão, pública ou íntima, que terá levado à adopção de certas palavras e acções na visita à Turquia. Partindo do pressuposto que mais do que intuição ou revelação, nelas houve dedução. Aí é que o pensamento merecia ser
examinado, e os argumentos mereciam ser seguidos.
Recordo o filme de Manoel de Oliveira sobre a disputa retórica de Padre António Vieira no Vaticano. Hoje a academia portuguesa ignora as regras de orientação da actividade da disputa pública de um tema. A defesa e a refutação de teses é uma técnica que se ensina e que se aprende. Tanto pior para todos nós se aí só se conseguir ver um uso tecnicista, manipulador, do discurso. Ficamos sem defesas para avaliar os discursos falaciosos dos que detêm o poder de nos governar.

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