domingo, novembro 19, 2006

E em Portugal, o que se passava por alturas da Revolução francesa? 4


Era D. Maria I quem ocupava o trono, tinha por ministro do Reino José de Seabra da Silva e como intendente-geral da Polícia da Corte e do Reino Pina Manique.

Jorge Borges de Macedo Macedo, no seu artigo “Absolutismo”, publicado no Dicionário de História de Portugal, Figueirinhas, Lisboa, 1971, p.13, diz-nos que:

“(…) apesar de todos os precursores e de todas as simpatias, a revolução Francesa interessou pouco, no plano da acção prática, a população e mesmo as elites".
No plano de acção prática, sim. Não temos registo de nenhuma movimentação social em Portugal que reflectisse influência dos acontecimentos a ocorrerem então em França. Mas de um ponto de vista do interesse em seguir os acontecimentos, em estar informados, os portugueses não foram excepção europeia.
Leio no nosso jornal diário, a nossa “Gazeta de Lisboa”, nº 31, de 4 de Agosto de 1789 o seguinte:

Como a famosa revolução de Paris é o mais interessante objecto da presente conjuntura, e desejamos que os nossos leitores saibam verdadeiramente as ulteriores circunstâncias (que huma voz mal fundada aqui exagera sobremaneira) publicaremos amanhã em um suplemento extraordinário uma carta fidedigna, que, em data de 17 de Julho, acabamos de receber daquela capital a este respeito.”

A possibilidade dos acontecimentos revolucionários em curso virem a afectar a ordem social e política portuguesa nunca esteve excluída, mesmo num país, ou seguramente por isso, que defendia de forma mais ou menos coerciva, a autoridade e o poder da coroa, legitimada por princípios regalistas. Pelo que tenho investigado é verdade que houve uma declarada e intensa censura sobre tudo o que se editava ou podia circular em Portugal à época, mas não era propriamente uma censura de uma natureza extensa (no espaço), ainda que extensa no tempo. Quer dizer, havia muitos livros e jornais a correrem no reino apesar de estarem proibidos, e havia outros que eram autorizados por relapso dos próprios serviços de controlo e vigia da informação.
Havia mais bibliotecas do que normalmente supomos e havia ainda a autorização especial dada aos membros da Real Academia Portuguesa de História que lhes permitia o acesso a obras geralmente proibidas de circular.
Então porque é que em Portugal não há uma reacção semelhante à da revolução francesa?

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