sábado, novembro 25, 2006

Portugal e a Revolução. A Francesa 2


E bom, balanço-me para a resposta. Tantos dias a adiar.

O povo estava informado, as classes dirigentes estavam vigilantes, e no entanto a Revolução, como os franceses a estava a viver, não parece seduzir os portugueses. Nem o povo, nem a burguesia ou a aristocracia parecem sentir necessidade de reagir contra a coroa. Porquê? Será que o sentimento que animou os revolucionários franceses no início, e os americanos também, e que era o de restaurarem uma ordem perdida contra o despotismo das autoridades, não fazia sentido na conjuntura portuguesa?
Sabe-se, é verdade, da existência de conflitos com os senhorios, mas, como explica Nuno Gonçalo Monteiro, esses movimentos, muitos deles orquestrados pelos notáveis da terra “Recorriam escassamente à violência, confinando-se geralmente à resistência passiva ou, quando bem apoiados, ao litigio judicial, escudado numa atitude quase unânime da colectividade local.”, História de Portugal, p. 362. Eram conflitos circunscritos às comarcas. E sobretudo, a Norte do país. O Sul, menos povoado e com outro tipo de divisão da propriedade, nem desses conflitos parece dar-se conta.

Será que os homens que estariam em condições de procurar restaurar essa ordem antiga, perdida ou sonhada num tempo que já tinha sido, estavam, em Portugal, agora, em 1789, suficientemente satisfeitos com o esforço empreendido logo no início do reinado de D. Maria, 1777-1816, com a reacção contra o governo e a pessoa de Marquês de Pombal?

Vou efabular, mas se tivesse o rei D. José I morrido mais tarde e Pombal continuasse as suas violentas e autoritárias reformas políticas, a história da revolução francesa em Portugal não teria outro sentido?

Portugal, no tempo de D. Maria I, terá então procedido exactamente com o intuito revolucionário, no que ao termo se poderia conotar originalmente como o de traduzir uma intenção de restaurar uma ordem perdida. O que veio a acontecer com a reacção anti pombalina conhecida como “a viradeira”. A reabilitação de nobres caídos anteriormente em desgraça e o afastamento de governantes, de entre os quais destaca-se o próprio Marquês de Pombal, terão descansado os ímpetos revolucionários que, em Portugal, não se transformaram em agentes e agenciados da própria necessidade histórica revolucionária que conduziu os franceses?
Explicaria Hannah Arendt, parece-me, que em Portugal, por circunstâncias diversas, das quais eu destaquei de forma simplista a que me parece primordial, os homens de setecentos não se submeterem ao rumo dos acontecimentos, procuraram manter a revolução no domínio da satisfação dos interesses e necessidades decorrentes ainda de uma circunscrita acção humana.

A necessidade dos oprimidos portugueses não pareceu coincidir com a necessidade histórica de tudo mudar para criar algo de novo. Escaparam ao terror da revolução francesa, ou perderam a oportunidade de criar uma nova prática política, como na revolução americana?

Seja como for, a nossa revolução não se tornou revolucionária. Não escapou da vontade dos seus operadores.

Satisfeitinhos com o pouco, ou reconhecidos que era o máximo possível nas circunstâncias possíveis, ou ignorantes acerca das forças com que estava a operar, sendo que a história não lhes quis ditar ali um destino da nova revolução?

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