terça-feira, dezembro 19, 2006

O fim dos exames de Filosofia

"O fim dos exames de Filosofia está a ser muito criticado pelos especialistas da área, sobretudo pelas consequências negativas que teve nas salas de aula. Ricardo Santos, da Sociedade Portuguesa de Filosofia, diz que a decisão tomada há um ano pelo Ministério da Educação foi "um golpe" no progresso que o ensino da disciplina vinha a registar.
"Muitos colegas meus testemunharam que a suspensão mudou as práticas nas escolas. As provas tinham contribuído para alguma homogeneidade no ensino da disciplina, mas tudo isso foi posto em causa." (...) Ricardo Santos entende o objectivo do ministério de separar a formação do secundário do acesso ao superior. O problema, são as implicações: "Com exame, se o professor falta muito ou se atrasa na matéria, os alunos reclamam. "Sem prova, só são avaliados em função do que aprendem. E quando menos melhor." in "Diário de Notícias"
Autor: Filomena Naves,
Pedro Sousa Tavares
Data: 15-12-06
Pág.: 20 a 21
Ora bem, o que é que um representante da Sociedade Portuguesa de Filosofia tem a dizer sobre o fim dos exames em filosofia...vamos lá ler, aqui está. Ah, ficamos a saber que esse facto vem distorcer um propósito de homogeneização da disciplina e recompensar esses professores parasitas que andam para aí a faltar muito e a poderem agora atrasarem-se na matéria a leccionar sem que os petizes os caustiquem, pois se não têm exame... como fiscalizar o professor ronceiro? Trastes dos professores.
Eu li bem? Foi um representante da Sociedade Portuguesa de Filosofia a falar? E só tem isto para dizer? A homogeneização dos conteúdos disciplina, e a suposta perda de fiscalidade dos professores de filosofia pelos seus alunos no futuro, é o que o preocupa? Está tudo dito do espírito homogeneizado da época que estamos a viver.
Valha-nos ao menos uma pergunta que Maria Cândida Proença formulou no seu livro e que podia servir para começar a reflectir sobre o caso actual da Filosofia no Secundário. Pergunta ela, devido à análise do currículo nos anos de formação escolar de D. Manuel II: "Mais difícil de explicar é, porém, a ausência do estudo da filosofia, disciplina obrigatória para os alunos oficiais do mesmo nível. Como se explica que a educação do infante tenha sido descurada nesta área, tão importante para o conhecimento da evolução do pensamento humano e das grandes correntes que influenciaram o seu tempo?", D. Manuel II, p. 22
Eu gostaria muito que se tivesse avançado com uma explicação, mas a autora também não a consegue dar, até porque, o que acentua a estranheza, e como reconhece Proença, essa disciplina tinha sido estudada por D. Carlos e D. Afonso. Quem, e porquê, terá ordenado que se retirasse essa disciplina do programa de estudos do último monarca de Portugal?
Quem realmente está a dar ordens para se retirar agora à Filosofia o papel que ela tem tido como disciplina nuclear no ensino secundário em Portugal? Porquê? E se, pondere-se, quem está a propor o fim dos exames quer dar espaço à filosofia e liberdade de actuação aos professores de filosofia, para romperem com essa homogeneização artificial do ensino e do pensamento? Revelo com a questão, aleivosia, esperança idiota, ou inconsciência do sentido dos poderes sociais?
Poderes homogeneamente sorrateiros. Quando lhes tocarem nos interesses acordarão.

1 comentário:

Anónimo disse...

Filosofia nem devia ser obrigatório...