domingo, dezembro 03, 2006

O terror de esquerda e o terror de direita, igualmente odiosos

Da forma deselegante, porque aérea, no meu post anterior não indiquei o nome do blogue do prof. Nogueira Pinto e outros, porque obviamente não me lembrava qual era o título atribuído.
Hoje, com acesso mais rápido à Internet, posso indicar o endereço para a ligação, é o “Futuro Presente”, http://www.ofuturopresente.blogspot.com/.

Não posso fazer um link porque algo aconteceu à configuração da página onde escrevo os meus textos, e desapareceu-me a barra de ferramentos que me permitia, entre outras coisas, fazer "ligações".

Bom, o post que me criou séria resistência intelectual, e que depois de alguma hesitação inicial me levou a decidir escrever sobre o que não concordava de todo, intitula-se “sobre o 25 de Novembro: 1. o Thermidor francês”.

Não concordo com o último dos seguintes parágrafos: “(…)Os processos de terror de "esquerda" têm sempre uma curiosa marca que os torna mais odiosos: é justificarem-se, permanentemente, pela "virtude", pelo "bem", pelo "mundo melhor". Líderes cínicos ou pelo menos tão maquiavélicos como todos - soltam os seus cães, polícia política, "milícias", povo, camponeses - aterrorizam, prendem, massacram, sempre com um discurso "justificativo".

O "terror" das "direitas" - que também não falta - não tem este lado "ideológico-religioso"; desde os tempos da inquisição, cujos oficiais tratavam mal os corpos para salvar as almas. E os Inquisidores tinham a atenuante de acreditar que era mesmo assim... Modernamente dão-se razões de "bem público", mas não se faz em grandes apologias. Há pelo menos pudor. (…)”

Os discursos de justificação encontram-se sempre nos processos de terror, à esquerda como à direita. Não reconheço em nenhum líder de direita um grau menor quanto à aplicação do terror em nome de uma ideologia justificadora (e não me parece apenas a assumpção de uma estratégia lúcida de manutenção do poder pelo poder). Quando o terror de direita cai sobre o mundo, talvez não procure elaborar um discurso que denote uma clara tentativa de vir substituir o discurso clássico da redenção pela religião, ou pelo poder tradicional, porque na realidade está em muitos casos convencida de poder falar em nome dessa religião ou desse poder tradicional em crise ou em perigo.

Quer a direita quer a esquerda tendem a querer a tal ordem nova, uns, à esquerda, procurando um discurso que dizem querer ser um discurso novo para um homem novo, outros, à direita, com um discurso que dizem reparador daquela ordem perfeita que de algum modo terá sido posta em causa na sociedade e que necessita urgentemente de ser restituída. A nenhuns interessa o presente, e a todos o terror serve para promover a sua ideia de sociedade futura.
Justificando-se com a necessidade de recuperar valores perdidos, a direita justifica o uso do terror provocado em seu nome, tanto quanto a esquerda o faz. Só que pensa que não está a utilizar palavras novas, ou a introduzir valores novos, quando repete palavras ou valores antigos, como, por exemplo quando a direita alemã evocou, ou evoca, palavras como “Deutschland über alles, über alles in der Welt”.

Não precisa a direita de utilizar conceitos humanistas, de legitimar a sua acção pela busca de um admirável mundo bom, para justificar o seu terror, porque geralmente esse discurso do mundo bom já tinha sido proferido num tempo anterior na história que ela julga agora, apenas, vir recuperar/resgatar ao tempo que passou, evocando palavras antigas como se essas palavras significassem o mesmo que então.

Já o post “O 1º DE DEZEMBRO” me merece todo o aplauso. Não sei mesmo como é que a esquerda portuguesa, e alguma direita mais economicista, deixa por reflectir esta questão primordial da nossa nacionalidade. É como se houvesse uma qualquer vergonha da esquerda em falar em pátria, e em valores universais que gerações de portugueses ajudaram a criar e a divulgar pelo mundo como os de liberdade, independência, auto-determinação. E tem toda a razão o professor quando reflecte sobre a importância incontornável do discurso ideológico para a acção política no mundo.

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