terça-feira, janeiro 30, 2007

Tal como me perturba racionalmente a intervenção agitadada da igreja no debate sobre a lei do aborto, não a sua decisão ou a sua tomada de posição, claro, porque é uma instituição livre numa sociedade livre, também me perturba racionalmente que um governo que anda a economizar todos os tostões na saúde materno-infantil e que não apresenta um plano estruturado de apoio às mães trabalhadoras, venha agora a participar freneticamente em comícios/propaganda sobre a despenalização do aborto até às 10 semanas. Uma posição de força política que não prevê, ou contempla, o sofrimento das mães e pais que sentem que têm necessariamente que abortar, tanto quanto o das que não podem ter filhos por não terem uma sociedade socialmente organizada a favor da maternidade, é uma força que representa um Estado que não dignifica os filhos que sob ele nascem, e que age por força das circunstâncias não só económicas como ideológicas que melhor sirvam a sua ideia de sociedade no momento. Vale o que vale em política, e para mim vale pouco como ideia de sociedade. Já exprimi nestas páginas o meu sentido de voto. Não me envergonho dele, mas também não o considero reflexo do avanço civilizacional que por aí se apregoa. É um declarado sim por um mal que eu desejo, em consciência, que seja menor, e com o maior respeito por cada pessoa afectada. Sem que eu faça nada, porém, para ajudar mães que estejam em dificuldades. Assumo-o.

2 comentários:

Unknown disse...

Porque voto NÃO: 11 razões para dia 11.

http://odivademaquiavel.blogspot.com/2007/02/425-porque-voto-no.html

Isabel Salema Morgado disse...

Obrigada pela referência que deixou de ficar e que fui consultar, Núncio. Mas sabe, e passe qualquer condescendência no meu tom, há que pensar, senão sentir, que há razões que não cabem nas suas razões. Por exemplo, as que que estão tão carregadas de desespero e de sem sentido e de vontade de vazio, que nenhuma palavra ou acto por mais racional e justo e responsável que nos pareça, poderá servir de ajuda.

Que responsabilidade, ou compromisso ou interesse geral é que o Núncio é capaz de assumir quando sob uma forte dor, uma forte paixão, ou um forte medo?

Sim, numa sociedade ideal as suas razões eram razões que baste. Numa sociedade na cabeça de um escritor. Ou de gente morta.

isabel