Mais do que evocar um imperativo categórico que se impõe pela razão para controlar a vontade numa tentativa de neutralizar os interesses individuais em nome do interesse geral, a filosofia ética contemporânea procura justificar em primeiro lugar a possibilidade em continuar a defender pressupostos universais a regular a acção humana, assentando na ideia de que é possível compreender que há na humanidade um estado que é partilhável por todos e cada um: 1. A vontade de comunicar entre si regulada por critérios intrínsecos à própria natureza dessa comunicação que permite a visualização dessa realização discursiva em acção de mútua compreensão, e depois vai por aí fora com a defesa de critérios universais de regulação; 2. Ou pela evocação de uma experiência mental passível de ser realizada por todos os indivíduos, em que estes se aprenderiam a saber-se colocar no lugar da neutralização dos seus interesses privados e legislaria da melhor forma possível para todos os cidadãos. À excepção das filosofias que o negam de todo, numa linha de interpretação nietzscheana da evocação de princípios morais como princípios de poder dos dirigentes do momento, ou das teoria analíticas da linguagem, as outras filosofias orbitam à roda destas ideias de Apel e Habermas e de Rawls
Mas cada um de nós da humanidade só conhece o rosto daqueles com quem convive. São esses de quem gostamos ou detestamos, ou nem por isso. A doença e a morte atinge milhões de indivíduos por anos, mas eu sou chamada à cabeceira dos que conheço. É a ausência destes, pela sua morte, que perspectiva a ausência dos que eu não conheço. Mas aprendo a partilhar e a ser solidária com a dor de outrem pelas ideias, logo pelo reforço numa educação do comportamento, ou pela analogia que pressinto na nossa co-existência?
Não é no entanto o facto de eu me interessar pela existência dos outros de quem pouco ou nada sei que me faz mais solidária. Eu posso saber tudo sobre a dor de perder alguém e não querer saber que isso aconteça a outrem, ou não me importar em demasia. Posso saber tudo de como ser solidária e não arriscar um milímetro para além da satisfação da minha vontade do momento. Ouço dizerem-me frequentemente: ”Com a dor dos outros posso eu bem.” E porque não, realmente? Porque é isto um absurdo? Não será por uma explicação que excede a do interesse de cada indivíduo saudável que é o de querer tudo para si da forma que lhe for mais conveniente sem olhar ao como e à custa de quem? E onde se justifica uma explicação de aversão por este comportamento? No principio de cooperação entre sujeitos sem a qual não haveria sociedade, logo não haveria eu como identidade? Mas chega-se a esta constatação como? Pela nossa natureza, pela nossa civilização ou pela nossa imaginação?
Se um cidadão comum devia saber responder a si mesmo sobre o que o “faz correr” e porquê, um político nunca deveria exercer nenhum cargo público, ou apresentar nenhuma medida geral, sem saber responder explicitamente, mesmo se só de si para si, ao conjunto de questões que a filosofia ética contemporânea propõe.
De resto…morrer… bom, esperemos que seja ela a chegar-nos pela forma natural, e não por imaginação ou ideia de civilização de alguém. Mesmo assim sobre aquela já há muito a aprender como fazê-lo, quanto mais sobre a que vem por acréscimo da satisfação da vontade de alguém em defender interesses dos quais eu não vislumbre defesa possível no quadro dos direitos e dos deveres cartografados internacionalmente. Sem reservas.
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