Amartya Sen tem um livro traduzido em português pela editora Tinta-da-China que se chama Identidade e Violência.
O livro procura compreender o fenómeno da criação da identidade dos povos a partir da análise concreta do modo como estes se vêm, se dão a ver ou são vistos. Para Sen, a violência entre os vários grupos humanos advém da subvalorização relativa à existência de facto de um conjunto de identidades múltiplas e acumuladas, as quais, se reforçadas a manifestarem-se, permitiriam em algum momento fazer cruzar uma memória, ou uma prática, provocando a vocação da partilha, ao contrário do que acontece verdadeiramente quando se produzem grandes parangonas sobre o que um povo é, ou se pensa que é, que tem por efeito criar uma imagem empolada de si por contraposição à imagem esfacelada do outro, que agride e afasta entre si. Ambas igualmente reflectindo profundo desconhecimento sobre si e sobre os outros, e a aleivosia de quem as promove.
Parece claro que a solução encontrada por Sen parece assentar na assumpção de uma identidade diversa por oposição a uma identidade exclusiva. O que invalidaria pérolas tais como:”Nós os portugueses somos…", qualquer coisa. Qualquer coisa geralmente negativa, para fazer agachar. A palavra é feia, mas muito mais enraizada na vontade de poder do que geralmente se admite publicamente. Apoucamo-nos uns aos outros, mas para que alguém se avulte? Quem ganha merecimento com o nosso contínuo desmerecer, mesmo quando pensamos que o estamos a fazer só contra os outros, porque nós, os bravos da genealogia e da educação, estamos acima de classificação? Quem comprará o que desdenhamos? Mas ao mesmo tempo há que não evitar a crítica, o julgamento mesmo, escudando-nos nesta atitude de vestais sacrificadas a um deus menor. Difícil.
Acho tanta piada quando ouço falar em pseudo-intelectuais, pseudo analistas, pseudo qualquer coisa. Os outros são falsos, têm que necessariamente o ser, para que a minha verdade brilhe?
A Crítica que Sen faz sobre os analistas de conflitos internacionais actuais: “Apesar das nossas diversas diversidades, o mundo é visto, de repente, não como uma série de povos, mas como uma federação de religiões e civilizações. Na Grã-Bretanha, a confusão acerca do que uma sociedade multiétnica deve fazer levou a que se encorajasse a abertura de escolas muçulmanas, escolas hindus, escolas siques, etc., financiadas pelo estado, para suplantarem as já existentes escolas cristãs, sendo as crianças arrumadas à força no domínio de afiliações únicas, muito antes de terem capacidade de raciocinar sobre os diferentes sistemas de identificação que se lhes oferecem.”
O livro procura compreender o fenómeno da criação da identidade dos povos a partir da análise concreta do modo como estes se vêm, se dão a ver ou são vistos. Para Sen, a violência entre os vários grupos humanos advém da subvalorização relativa à existência de facto de um conjunto de identidades múltiplas e acumuladas, as quais, se reforçadas a manifestarem-se, permitiriam em algum momento fazer cruzar uma memória, ou uma prática, provocando a vocação da partilha, ao contrário do que acontece verdadeiramente quando se produzem grandes parangonas sobre o que um povo é, ou se pensa que é, que tem por efeito criar uma imagem empolada de si por contraposição à imagem esfacelada do outro, que agride e afasta entre si. Ambas igualmente reflectindo profundo desconhecimento sobre si e sobre os outros, e a aleivosia de quem as promove.
Parece claro que a solução encontrada por Sen parece assentar na assumpção de uma identidade diversa por oposição a uma identidade exclusiva. O que invalidaria pérolas tais como:”Nós os portugueses somos…", qualquer coisa. Qualquer coisa geralmente negativa, para fazer agachar. A palavra é feia, mas muito mais enraizada na vontade de poder do que geralmente se admite publicamente. Apoucamo-nos uns aos outros, mas para que alguém se avulte? Quem ganha merecimento com o nosso contínuo desmerecer, mesmo quando pensamos que o estamos a fazer só contra os outros, porque nós, os bravos da genealogia e da educação, estamos acima de classificação? Quem comprará o que desdenhamos? Mas ao mesmo tempo há que não evitar a crítica, o julgamento mesmo, escudando-nos nesta atitude de vestais sacrificadas a um deus menor. Difícil.
Acho tanta piada quando ouço falar em pseudo-intelectuais, pseudo analistas, pseudo qualquer coisa. Os outros são falsos, têm que necessariamente o ser, para que a minha verdade brilhe?
A Crítica que Sen faz sobre os analistas de conflitos internacionais actuais: “Apesar das nossas diversas diversidades, o mundo é visto, de repente, não como uma série de povos, mas como uma federação de religiões e civilizações. Na Grã-Bretanha, a confusão acerca do que uma sociedade multiétnica deve fazer levou a que se encorajasse a abertura de escolas muçulmanas, escolas hindus, escolas siques, etc., financiadas pelo estado, para suplantarem as já existentes escolas cristãs, sendo as crianças arrumadas à força no domínio de afiliações únicas, muito antes de terem capacidade de raciocinar sobre os diferentes sistemas de identificação que se lhes oferecem.”
Amartya Sen, Identidade e Violência, trad. M. J. La Fuente, Lisboa, edições Tinta-da-china, p. 44
2 comentários:
"Se, como escrevi em 'Raça e História', existe entre as sociedades humanas um certo óptimo de diversidade além do qual elas não conseguiram prosseguir, mas abaixo do qual tampouco podem descer sem perigo, deve-se reconhecer que essa diversidade resulta em grande parte do desejo de cada cultura de se opor às que a cercam, de distinguir-se delas, em suma, de serem elas mesmas; não se ignoram, imitam-se ocasionalmente, mas, para não perecerem, é necessário que, sob outros aspectos, persista entre elas uma certa impermeabilidade."
Claude Lévi-Strauss, in 'O Olhar Distante'
Mas, então o que é que aproxima e afasta os povos entre si? Que identidades existem que os atrai e repele simultaneamente? O que defendem? O que atacam? O que é que temem perder?
Citando, Gustave Le Bon, in 'As Opiniões e as Crenças': "Qualquer que seja a raça ou o tempo considerado, o objectivo constante da actividade humana foi sempre a pesquisa da felicidade, a qual consiste, em última análise, ainda o repito, em procurar o prazer e evitar a dor. Sobre essa concepção fundamental os homens estiveram constantemente de acordo; as suas divergências aplicam-se somente à idéia que se concebe da felicidade e aos meios de a conquistar.
As suas formas são diversas, mas o termo que se tem em mira é idêntico. Sonhos de amor, de riqueza, de ambição ou de fé são os possantes factores de ilusões que a natureza emprega para conduzir-nos aos seus fins. Realização de um desejo presente ou simples esperança, a felicidade é sempre um fenómeno subjectivo. Desde que os contornos do sonho se implantam um pouco no espírito, com ardor nós tentamos obtê-lo.
Mudar a concepção da felicidade de um indivíduo ou de um povo, isto é, o seu ideal, é mudar, ao mesmo tempo, a sua concepção da vida e, por conseguinte, o seu destino. A história não é mais do que a narração dos esforços empregues pelo homem para edificar um ideal e destruí-lo em seguida, quando, tendo-o atingido, descobre a sua fragilidade.
A esperança de felicidade concebida por cada povo e as crenças que constituem a sua fórmula representam sempre o factor da sua pujança. O seu ideal nasce, cresce e morre com ele, e, qualquer que seja, dota de grande força o povo que o aceita. Essa força é tal que o ideal actua, mesmo quando promete pouca coisa. Compreende-se o mártir, para quem a fogueira simbolizava a porta do céu; mas, que proveito podiam retirar das suas cavalgadas através do mundo um legionário romano e um soldado de Napoleão? A morte ou ferimentos. O seu ideal coletivo era, entretanto, bastante forte para velar todos os sofrimentos. Considerarem-se heróis dessas grandes epopeias era para eles um ideal de felicidade, um paraíso, presente divinamente encantador. Uma nação sem ideal desaparece rapidamente da história."
E que ideais podemos identificar como eticamente válidos entre os povos?
Teresa,
tens tanta coisa interesante para explorar. Logo que puder fá-lo-ei, sim?
Obrigada,
isabel
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