quinta-feira, março 08, 2007

Sim...conte-me, eu estou a ouvir.

Camille Claudel, La Confidence


Muita acção bem feita, muito pensamento ordenado, muita perspectiva de futuro tiveram as mulheres e os homens que me procederam porque na verdade eu aprendi tão bem o que me ensinaram: que antes demais, de tudo o mais que se diga ou se faça, eu sou uma Pessoa que, por acaso, tem um género muito bem colado, é o caso, à sua pessoa.
Muito bem me nutriram esses antepassados para que não me passe pela cabeça, ou para isso sinta impulso físico, de deixar de me sentir um ser autónomo, capaz de pensar e de decidir segundo as suas próprias regras, mesmo quando o meu corpo se transformou numa imensa via láctea, ou quando se dobrou com dores sobre si próprio, ou quando deseja, até à alucinação erótica, outro corpo de outra Pessoa que outro género tenha bem colado à sua pessoa, ou quando vestia mini-saia, ou vestidinhos com folhos que o vento fazia balançar e laços no cabelo ou uma fita preta à volta do pescoço à Degas, ou quando sentia o filho com soluços no ventre e a agarrar, de mansinho, o cordão umbilical com a sua mão pequenina.

Eu não sou esta roupinha e os sapatos, às vezes, de salto alto, não sou o cabelo pintado com mesclas de dourado, não sou um conjunto de hormonas sob o domínio do cromossoma XX, não sou umas mamas e um ventre, porque também sou esta pessoa, a Isabel, um ser que pensa, decide, escolhe e age. Age atabalhoadamente, impulsivamente ou racionalmente, mas sempre com assumida responsabilidade e no quadro da máxima liberdade que se percepciona como possível, num esforço para cumprir personalizadamente a vida.


É por todas essas mulheres e homens livres que me procederam, as que lutaram pela igualdade de géneros perante a lei e perante os costumes, e perante aquelas que ainda hoje fazem dessa luta o seu terreno de consagração à humanidade, que eu hoje entro na procissão de louvor.

3 comentários:

Anónimo disse...

Pois então, igualdades são igualdades! Há que tomar medidas que imponham as igualdades!
"Recenseamento militar obrigatório para homens e mulheres" (ler em: http://dn.sapo.pt/2007/03/09/nacional/
recenseamento_militar_obrigatorio_pa.html )

Nem que seja para acentuar as diferenças! Porque a verdade é que somos diferentes, graças a Deus! Porque eu gosto de ser Mulher!

E lá voltamos nós às histórias de guerras entre povos, do sentido social que têm…etc, etc…

Então se passa a ser obrigatório para todos, como ter BI ou cédula, parece-me que isso já por si será suficiente…

Porque devo reconhecer, se já me custou pensar, quando o meu filho de 18 anos se recenseou no serviço militar, de que a partir daquele momento, em caso de guerra ou de necessidade de salvar o país, ele poderia partir… por razões de nobreza pátria; mais me custa olhar a minha princesa e pensar que daqui a pouco tempo sentirei o mesmo, por razões de igualdade!

Mas há que legislar! Há que tomar medidas concretas! Se são iguais… Não importam os verdadeiros e reais fossos entre os direitos e deveres de cada um, enquanto membros de uma sociedade, há que pegar em questões “verdadeiramente fundamentais”! (Pode ser que elas também corram o risco de morrer por lá, e quem sabe se calem)

Anónimo disse...

Severiano Teixeira anunciou que o recenseamento militar vai ser automático e vai integrar as mulheres, para acabar com «discriminações»


«Hoje teria sido melhor se estivesse aqui a ministra da Defesa, mas ninguém é perfeito!». (afirmação do Ministro da Defesa Severiano Teixeira no dia 8 de Março)

Não podia deixar de divulgar tamanho e louvável empenho e tão grande e profunda constatação...

Estou mais descansada... se esta medida vai acabar com as discriminações...

Isabel Salema Morgado disse...

Pois...

isabel