domingo, março 25, 2007

Nós na Europa política

Olho para o jornal e analiso os dados do último Eurobarómetro sobre a Realidade social Europeia, depois vou ao seu sítio na rede e leio o relatório "European Social reality". De entre as coisas que consideram importantes, os portugueses põem a política em último lugar de interesse. Na realidade, põem os portugueses e todos os outros europeus, mas a média europeia é de 43% e a portuguesa é de 26%. Com um desinteresse maior pela política que os portugueses, na Europa dos 27, só mesmo a Eslováquia.
Os holandeses registam-se como os mais interessados em política, seguidos da Suécia, Dinamarca, Alemanha e Itália (p.15 do relatório).

Presumo que enquanto houver políticos em Portugal que governam para o seu ego ou para o seu bolso, ou para o ego ou o bolso de alguém a quem devem favores, as pessoas continuarão insensibilizadas para a defesa dos direitos comuns e inconscientes do nível de exigências colectivas. Quem compreende por exemplo a medida do ministro da economia de mudar o nome da região Algarve para “Allgarve”? Os algarvios com quem eu falei estão varados com a notícia. Mas penso: - Se este assunto é deveras desorientador no que à adesão à ideia que as pessoas fazem da sua região, porque não se juntam e não protestam ruidosamente contra este artifício do poder central? Porque não exigem ao ministro uma linha de comboio decente entre Tunes e Lagos, que faria mais pela imagem do turismo na região do que todo o dinheiro gasto nos patéticos cartazes “Allgarvios”? Porque não se interessam mais pela política no sentido de intervir mais, de nela quererem participar?
Eu julgo que os portugueses têm a percepção que a política, como a justiça, ou como a legalidade, é uma coisa lá deles, só para alguns, e que nenhum esforço de intervenção será recompensado. A solução, afinal, tem passado por quando estamos mal cá dentro não procuramos mudar as coisas de dentro, não, emigramos e vamos dar mais mundo ao nosso mundo. Tenho familiares e conhecidos que são conhecidos por emigrarem ciclicamente conforme as políticas. Nunca se arrependeram de partir, para os Estados Unidos, para Macau, para a Alemanha, para a Espanha. São os pêndulos portugueses que me permitem medir o autoritarismo inconveniente de certos governantes.
Explicava-me a empregada do bar da minha escola: “Eles fecharam-nos a urgência lá na minha terra que ficava a 13 Km e puseram-nos a uma distância de 50 e tal Km do hospital mais perto, agora todos os meus familiares e conhecidos estão a fazer seguros de saúde em Espanha para serem lá consultados”. Aprendam espanhol gente da raia, aprendam, se já lá vão aos médicos, se já lá nascem os vossos filhos, que diferença existe se começarem a frequentar as suas escolas? Nenhuma, pois claro. Mesmo isto é tudo Europa! E além disso eu sou uma europeísta convicta.
Mas então porque me irritam tanto estas políticas do empurra português porta fora?
Sermos portugueses ou espanhóis ou suecos ou italianos, não é tudo a mesma coisa? Vão lá para os hospitais, trabalhos, cidades, escolas e línguas deles. Nós por cá ficamos todos “allém” na Europa.

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