quarta-feira, abril 11, 2007

Que pensamentos e que livros nos levam a que tipo de acções?

"Mas porque é que a oposição clara ao Estado Novo me parece a mim ser toda feita à esquerda, e, sobretudo, à extrema-esquerda?" - perguntei ontem a um lúcido, crítico e inteligente colega de economia, com quem aprecio conversar, e que me contava que pertencera e actuara em tempos como activista do MRPP.

- "Porque a dita esquerda democrática" - respondeu-me - " só aparecia quando havia eleições. Depois desse período, já na clandestinidade, só os membros com mais coragem física, mais empenhamento ideológico, é que ousavam enfrentar a polícia e a autoridade reinante. E esses membros mais corajosos da sociedade que se oponha ao regime e proponham uma mudança pela revolução, ou eram comunistas ou pertenciam a grupos de extrema-esquerda. Grupos marxistas-leninistas ou anti-marxistas."

"Qual era era a fonte doutrinária? - Perguntei.
Reproduzo de memória a resposta: "Os intelectuais franceses para os socialistas e também, sobretudo, para os de extrema-esquerda. Da União Soviética para os comunistas, mediados pelo pensamento francês. Era de lá que nos chegava a literatura, os modelos de acção, as propostas ideológicas. Nota que toda a imprensa de divulgação ideológica em Portugal como o "Jornal do Fundão", "Seara Nova", "Vértice", "Comércio do Funchal" e o "Tempo e o Modo" é uma imprensa feita à imagem e semelhança do "Tel Quel"."

"E do pensamento anglo-saxónico? E dos intelectuais portugueses?" - inquiri ainda. Ao que me foi respondido: - "Dos primeiros chegavam-nos sobretudo livros técnicos.
O pensamento ideológico de vertente liberal saxónica era residual e estava representado pela dita Ala Liberal na Assembleia Nacional de Sá Carneiro e outros que procuravam tranformar o regime de forma gradual e sem revolução." Quanto aos intelectuais portugueses, em termos políticos, pensavam o que os intelectuais franceses pensavam."
Um pequeno passo mais num caminho longo que há a percorrer. A saber: onde assentam as crenças ideológicas dos portugueses?

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