sábado, agosto 25, 2007

Duração

Num tempo em que a influência dos meus professores sobre as minhas opções culturais era mínima, havia dois cronistas que me tinham sob influência: Miguel Esteves Cardoso e Prado Coelho.
Lia então as crónicas que Prado Coelho escrevia de Paris e que tão bons livros e tantos outros bons autores me ajudaram a conhecer. Amei a Criada Zerlina porque ele me ensinou a fazê-lo, e vi a Eunice Munhoz no teatro Trindade a proferir as palavras que Prado Coelho me ensinou a ouvir. Gostei tanto de Peter Handke e do seu poema traduzido em francês por Poème à la durée, porque Prado Coelho mo ensinou e muito depois de Prado Coelho gostar dele e “me” mostrar como gostar desse conceito novo, o da duração. E é essa a ideia que eu tenho: a de um homem que fazia os outros gostarem do que ele descobria e gostava.
É assim, uma forma de lamento pela sua ausência numa escrita que permitia aprender.

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