segunda-feira, outubro 08, 2007

uma cimeira que se quer de princípios

Angela Merkel “critica, mas não se opõe à ida de Zimbabué a Lisboa”

“O presidente sul-africano, Thabo Mbeki, afirmou estar confiante de que as eleições presidenciais e legislativas no Zimbabué, marcadas para Março de 2008, serão livres e justas e os resultados vão ser aceites por todos.” Agência Lusa


“O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, afirmou que nenhum ministro do governo britânico vai participar da cúpula União Europeia-África se o presidente do Zimbabué, Robert Mugabe, estiver em Lisboa.” Agência Lusa






Quem vai ver a sua posição tomar mais força: a senhora Merkel (que sendo uma mulher a quem se reconhece fidelidade a princípios não tem no entanto o escolho de ter cidadãos alemães a reclamarem por justiça relativamente ao que um ditador fez com as suas vidas, facilitando a sua tomada de posição conciliatória) ou o senhor Brown (cuja legitimidade para ocupar o cargo de primeiro-ministro começa a ser questionada fortemente a nível interno, sendo ainda que tem que considerar o número considerável de cidadãos ingleses que foram maltratados por Mugabe e quereclamam, justamente, por solidariedade institucional, não podendo, para efeitos de imagem da soberana Inglaterra, aceitar sentar-se à mesma mesa do ditador africano).

Mas esta questão não se prende só com o dever da nossa diplomacia apoiar ou não um aliado como a Inglaterra, ou de fazer parceria com a politicamente forte Alemanha, pois há que ouvir também os líderes africanos, e estes parecem estar a dizer que o Zimbabué não deve ficar de fora da cimeira, não porque essa participação venha a servir de ratificação de um deplorável estado de coisas no que à gestão dos assuntos públicos diz respeito no Zimbabué, como em muitos outros países africanos, mas para enquadrar as acções, obrigando os seus dirigentes, pelo menos, a formularem explicações e prestarem-se a escrutínio dos seus congéneres europeus, pelo facto de estarem presentes. E é em África que se deve começar por resolver os problemas de África.

Nestas alturas o problema da natureza dos valores no que à questão de serem universais ou relativos diz respeito torna-se central. Mas evocar a universalidade sem argumentar contra a relativização, mesmo se numa mesa de uma cimeira, ou sobretudo numa mesa de uma cimeira, parece-me uma oportunidade que não se pode perder.

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