sexta-feira, dezembro 28, 2007

O recrutamento terrorista e a sociedade civil 1

A questão do terrorismo, da cultura de publicitação de violência e da imposição de uma ordem que se quer nova, contra uma ordem dominante mas que se pretende substituir ou subjugar, tem que ser analisada também do ponto de vista do recrutamento de membros dispostos não só a matar como a fazê-lo morrendo ao mesmo tempo, e isso em nome de um projecto social. Esse projecto social tende a ser sedutor não só na comunidade dos indivíduos mais dispostos a aceitarem a crença por essa forma de politização das suas vidas, mas também junto da sociedade civil onde essas pessoas vivem , e daí uma razão da aparente inesgotabilidade das fontes de recrutamento. Quando as sociedades desses mesmos países consciencializarem o perigo pela arbitrariedade do uso da violência e se sentirem preparadas para negarem o seu apoio emocional, logístico ou racional a essas teorias e acções, elas tenderão a ser tratadas como um caso de polícias e não como manifestações de organizações a procurarem legitimidade, como se de uma luta pela ideia de um pequeno David a combater o grande Golias imperialista ocidental. E se calhar as sociedades civis só começarão a repudiar aquilo que começarem elas próprias a conhecer como formas de abuso, como tentativas de espoliar os próprios cidadãos que esses grupos radicais dizem proteger.

Benazir Bhutto talvez continue a sua própria batalha pela democratização do Paquistão na luta de ideias que se seguirá, onde ela poderá permanecer como exemplo de acção, como contraponto no mundo de ideias radicais sobre a vida social.

Ouço na CNN uma jornalista que entrevistou recentemente Bhutto, fala de uma mulher que tinha consciência do perigo que corria mas também do seu sentido de obrigações como política numa campanha em democracia, a de que tinha que ir fazer campanha e passar a sua palavra directamente em encontros e comícios. Fala de uma mulher que também se sentia culpabilizada pela atenção excessiva que dera à política nos últimos dez anos em detrimento da sua vida familiar. Como se ser mulher e ser política é sempre uma tarefa tremenda. Existência tremenda.

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