quarta-feira, janeiro 02, 2008

O recrutamento terrorista e a sociedade civil 2

Há em Barcelona uma chama "eterna" em memória dos que morreram pelas liberdades públicas e pela constituição da Catalunha em 1714. Um monumento discreto este "Fossar de les Moreres" a assinalar o cemitério onde alguns daqueles que combateram pela defesa da cidade e da sua Constituição foram enterrados. Hoje o monumento situa-se numa praça, igual a tantas outras dos bairros velhos do centro da cidade, praça esta que fica numa lateral da bela igreja de Santa Maria del Mar.
Podemos deter-nos a ler a inscrição retirada do poema de Soler :
"Al fossar de les moreres
no s'hi enterra cap traïdor;
fins perdent nostres banderes
serà l'urna de l'honor."
E se por mero acaso, mesmo acidental, o turista, se português, estiver a ler, e para mais, o último livro de Urbano Tavares Rodrigo Os cadernos Secretos do Prior do Crato, que poderá levar consigo por ser um livro levezinho que não pesa na mala, compreenderá então muito bem as palavras de Soler e saberá que esta questão da identidade nacional poderá bem ser uma lástima civilizacional, uma chaga para os direitos universais dos povos, uma afronta à globalização das instituições que gerem os conflitos, mas não deixa de ser uma paixão social. E se a nossa paixão por Portugal se aquietou por uma haver uma independência garantida, ainda que sempre ameaçada (afinal porque mandou Salazar na década de trinta armar os fortes de Setúbal?), o que farão os outros com essa paixão nunca realizada? Encontrar formas de a sublimar, claro. Daí as formas de negociar contratos de autonomia. Daí também que nenhum movimento terrorista leve a nossa simpatia.
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E no entanto em algum momento se terá que fazer a distinção entre um grupo que seja entendido como exército de libertação e um grupo terrorista. E esse momento parece-me que será o do apoio popular expresso em eleições livres pela causa. Mas muitas das vezes não se pode referendar essas questões pois tal o impede o poder central. E pode parecer ao turista que a história final é a versão do que teve do seu lado, por estratégia ou por sorte, o melhor ou o maior exército. Do que teve mais força. E aí o turista pode pensar que a história dos fracos também se faz nas entrelinhas do poder dos mais fortes.
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Se calhar Joan R. Resina tem razão , a história dos mais fracos nesse preciso momento da história em que lutaram por qualquer coisa e não ganharam essa coisa, a homenagem à sua luta mesmo se perdida, ainda não terá acabado para os catalães:"En “El vientre de Barcelona: Arqueología de la memoria”, encontramos la imagen más evocativa del libro: la de la ciudad como cuerpo que esconde en sus entrañas los restos de un genocidio político y cultural. A través de esta fértil metáfora, Joan Ramon Resina examina la relación entre la ausencia de lugares de memoria de la historia nacional catalana en Barcelona y el urbanismo practicado en esta ciudad durante las últimas décadas. Siguiendo la idea de Nora de que los lugares de memoria existen como recordatorios de un pasado ya acabado, se sugiere que la ausencia de lugares conmemorativos de las víctimas de las represiones españolas en Barcelona se debe a que la historia que éstos deberían recordar no ha concluido del todo. Como ejemplo aparece el debate institucional surgido en torno al destino de los yacimientos urbanísticos de la derrota de Cataluña ante las tropas de Felipe V en la batalla de 1714, a raíz de su descubrimiento bajo el mercado del Born hace apenas tres años. Puesto que “la relación entre derrota y destrucción de la memoria no es contingente” (86), se advierte perspicazmente que los intentos de no conservar el escenario de esta derrota particular de Cataluña revelan el deseo de hacer desaparecer los incómodos restos materiales –esa “masa indigesta en el vientre de Barcelona” (94)– que legitiman la persistencia de la memoria de los vencidos en 1714, así como de otros posteriores, incluidos los de la guerra civil. Trazando un sugerente paralelismo entre excavación urbana y excavación en la memoria social, Resina reclama el valor de las ruinas como memoria visitable (y visible en las fotografías que complementan el ensayo), es decir, como espacio alegórico de la masacre y de la pérdida de libertades de una nación."
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E é também essa relação de derrota e de destruição da memória, da identidade e da localização no espaço e no tempo social presente e futuro, que deveria ser estudada nos grupos de onde os jovens são recrutados pelos terroristas islâmicos.

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