sexta-feira, janeiro 25, 2008

Estados caseiros1

Hoje li no JN: "A profissão de professor é aquela em que os portugueses mais confiam e também aquela a quem confiariam mais poder no país, segundo uma sondagem mundial efectuada pela Gallup para o Fórum Económico Mundial (WEF). " Desgraçadamente para o país, a ministra que coube em sorte à educação não pensa de todo desta maneira. Não só combateu com armas desiguais e sem nobreza o magro prestígio dos professores, normalmente uma classe que sempre acatou conformadamente todas as ordens e desordens dos sucessivos ministros da tutela (porque não há que confundir, como esta ministra quis fazer, o hipotético poder dos sindicatos dos professores com o real pouco poder dos professores), pessoas que tentam passar as mensagens educacionais/culturais do momento e valores mais assentes na partilha de conhecimento, numa tentativa de equilibrarem a sua função com a sua ideia de função.
O que se está a preperar na educação é exactamente igual ao que se está a passar na saúde, reformas que serão necessárias mas feitas sem reflexão e sem se escutar os verdadeiros conhecedores dos problemas, numa tentativa de empurrar os diferendos com a barriga. As afrontas são diárias, as ordens cruzam-se no éter em tons agressivos, o vocabulário utilizado por secretários de estado e directores para responderem às críticas dos professores, em sede própria, é de tiranetes, eles próprios sem sem educação. E se às portas das escolas não há filas de espera de anos, há perda de consciência e de sentido de comunidade e de ideia de país para décadas. E as pessoas sabem-no. E de certa forma estes dados dão ânimo a uma das classes socio profissionais mais vilipendiadas nestes anos de poder socrático, porque mais dependente do Estado que devia legitimar com a sua transmissão de saber.
Disse desgraçada sorte coube aos professores com este ministério, mas devia ter dito antes: desgraçada sorte coube aos alunos.
E agora tenho a certeza que a senhora virá dizer naquele tom em que todos acreditamos tanto, o quanto ela se regozija com estes resultados sobre a imagem social do professor. A mesma senhora que os desrespeitou publicamente como ninguém dessa tutela o fizera explicitamente alguma vez.

2 comentários:

Anónimo disse...

li, gostei e partilhei.
FM

JOAQUIM CASTILHO disse...

Quando um grupo social ou profissional adora vitimizar-se e utiliza uma linguagem de contra-ataque pouco racional e comicieira penso logo que está a tentar camuflar as suas próprias mazelas e a proteger os seus elementos mais frágeis e oportunistas. É pena que os verdadeiros e esforçados profissionais caiam com frequência , talvez motivados por algum desespero e impotência, nesta cantiga e se acolham sob o manto demagógico e altamente irracional de arautos do descontentamento como por ex.o inefável Mário Nogueira (Fenprof) , Pedro Nunes ( Bastonário da Ordem dos Médicos) ou ainda o fabuloso autarca da Anadia.
Todos querem reformas mas são sempre contra quem as está fazer , porque as reformas vão sempre contra acomodações e “direitos adquiridos” e como é óbvio nunca serão a reforma perfeita e necessária que cada um se imagina e é sempre a ideal. Por isso se passsaram anos e anos e o pântano ( como denunciava o Guterres) continuava com experiências várias e remendos sucessivos.
Ninguém apresenta aternativas coerentes e exequíveis a curto prazo mas todos protestam. Protestar por protestar, mesmo com alguma razão particular, sempre foi uma forma de subdesenvolvimento e disso ainda temos todos muito, desde os intelectuais encartados até aos taxistas e aos pastores de ovelhas da Serra da Estrela.