Um amigo dizia-me que alguns professores o desiludiram ontem no debate com a ministra, porque enveredaram por explosões sentimentais em frente à governante ao invés de escolherem um discurso argumentativo e combativo dos valores por ela defendidos.
Só depois de terminar as minhas aulas pude acompanhar o debate, e por isso perdi quase toda a primeira parte. Eu respondi ao meu amigo que quando escolhemos indivíduos com pouca representação institucional, seja em que área for, que não tenham treino no papel social de negociadores ou intermediários institucionais, o que tende a acontecer é que as pessoas dizem o que sentem, misturando interesses gerais, racionalizáveis, com interesses pessoais psicológicos e emocionais. Não faz mal nenhum que as pessoas manifestem os seus sentimentos, que são comuns a muita gente, e que permitem de alguma forma a catarse, desde que saibamos que elas não estão a representar os professores como classe profissional, estão a representar um sentir que percepcionam como sendo o do conjunto de professores.
A conclusão é que entre os sindicatos onde os professores estão a deixar de se reconhecer, apesar do seu poder social que ainda lhes subsiste como parceiros de discussão e de mobilização mesmo se forçada, e as recentes e imaturas associações cívicas, os professores continuam pouco representados.
Os professores deviam ter pensado em levar alguém que do seu lado estivesse preparado não só para falar da sua experiência na escola, mas alguém que tivesse estudado os modelos que querem implementar em Portugal e apontar-lhe todas as falhas, apresentando outros modelos onde o papel do professor é mais relevante e mais respeitado, como forma de contraposição. Deviam ter levado os números do continuado facilitismo (que ofendeu muito a ministra e o famigerado encarregado de educação da CONFAP), e mostrado ao país essa verdade.
Assim ficou tudo baseado na casuística. Mas pelo menos deu para se perceber o mal-estar geral sentido nas escolas portuguesas. E se houve professores mal-educados, a tutela já o tinha sido antes e de forma recorrente: os modelos tendem a replicar-se.
4 comentários:
Utilizei a conclusão deste post para reforçar a minha posição no Blog "A educação do meu umbigo" (com indicação da fonte).
Espero que não se importe.
Sou professora de carreira com 30 anos de serviço. Poderia tentar analisar este texto de sua autoria mas não vou fazê-lo por uma simples razão - o título. É que o programa em causa (como todos sabemos)é o "Prós e Prós"...
Não consigo encontrar uma brecha na argumentação de Isabel Morgado sobre o sucedido no dito programa.
O único atalho crítico é feito pelo lado dos "pressupostos" de que o programa não permitiria explanar um objectivo tão ambicioso como ela o define, ou de que o programa estava formatado para favorecer um dos lados.
Este tipo de razão, não é razão nenhuma, porque se vira contra os próprios participantes no programa.
Porque das duas uma, ou não sabiam ao que iam e foram ingénuos, ou sabiam, e então não encontro explicação plausível para a fraca prestação no seu conjunto, em termos de contrariar a essência da política do ME, que não sejam os argumentos aduzidos pela Isabel Morgado.
Portanto, a incapacidade de rebater, mas ao mesmo tempo a necessidade de contrariar, só pode advir de alguma impotência vivida e tipificada pelas várias actores presentes que representaram em nome dos professores, mas que não se quer reconhecer de todo.
Na verdade, admito que em determinadas circunstâncias é preferível recusar a participação no circo mediático, a fim de preservar a probidade pessoal e evitar o Prozac.
Muito obrigada pela vossa leitura e participação.
Enviar um comentário