segunda-feira, fevereiro 25, 2008

vertigem pela forma de vida totalitária

Ontem, quando interpunha mais um livro, outro livro, entre o meu cérebro e a biografia de Churchill que ando a ler há meses e que se tem arrastado, pensei: - Mas porque não acabo eu de ler a biografia? Já li volumes bem maiores com escritas e pensamentos bem mais difíceis, obras bem menos motivadores pela retribuição em deferido do prazer da sua leitura, o que se passa então?
Pus-me a enumerar as dificuldades: trabalhos que tenho para terminar, outros a que tenho que dar continuidade, os quais implicam todos muitas leituras em áreas divergentes; nas viagens é um livro pouco prático para se transportar e o facto de ter duas actividades profissionais concorrentes e que não me deixam muito tempo disponível para leituras que exijam uma longa actividade continuada. Mas... tudo isto é meia verdade. Para não dizer que são no seu conjunto uma justificação falsa. O que me parece, e me parece a sério e me inquietou muito, foi o facto de eu estar a ler com interesse mas também com alguma distracção a vida de um biografado político democrático.
Na verdade todos os biografados que eu tenho lido, da esfera da actividade política, da antiguidade aos nossos dias, foram grandes figuras centralizadoras do poder e mesmo totalitárias.
O que sinto como verdade, e digo-o com sentido desapontamento por mim, é que o fascínio das ideias e das acções impostas pelo terror me terão instigado a uma leitura mais célere do que as demandas de uma vida singular pelos caminhos sempre cheios de percalços eleitorais próprios de um Estado de direito, num sistema democrático do exercício do poder.
É como se seguir uma vida que respeitou os procedimentos de uma sociedade democrática, e que viveu a um nível mais prosaico a sua existência pública, lhe retirasse uma certa vertigem, ainda que por aversão, de seguir de forma ávida a leitura sobre a sua vida. O fascínio pela violência e pela arbitrariedade, mesmo se em sentida repulsa, a ganhar ao exemplo de uma vida de um candidato democrático.

Eu sei, é terrível.

Sem comentários: