domingo, julho 13, 2008

Dentro do pequeno lago de plástico quatro peixes vermelhos volteiam harmoniosamente. Põe-se-lhes comida e um ensandece e persegue durante minutos os outros três num frenesim que não dá descanso. Não come nem deixa comer.

A ida à cooperativa agrícola é uma colagem aos cheiros e à vivência do passado, não só porque muitos insistem, por nenhuma razão ideológica assim o entendo mas sim por apego inerte a um nome, a chamar-lhe "grémio", como ainda por os produtos estarem todos aos molhos como sempre estiveram, e cheiram como sempre cheiraram os adubos e os pesticidas, as madeiras e os plásticos, dos fitomarcêuticos às mangueiras e alfaias, passando pelas rações para animais ou pelas sementes embaladas em carteirinhas vistosas, abandonado que está o gavetão de madeira a abarrotar de futuras semeaduras; tudo aquilo se ajeita num caos funcional, enquanto são inspeccionados por homens entendidos, muitos deles agricultores de fim-de-semana, de meia idade, barrigudos, quase todos, muitos de boné a condizer com a camisa de riscas aberta até meio do peito. Um mundo que está de passagem.
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Os artigos que se escreveram na imprensa sobre o livro de Margarida rebelo Pinto a dizer mal do livro de Margarida Rebelo Pinto! Se o livro tivesse sido bem recebido pela crítica a autora não poderia ter maior visibilidade do que a que teve nos media portugueses. Para mim é um mérito. Se não um elogio à sua arte como escritora pelo menos à sua arte com relações públicas que se representa enquanto determinada personagem na cultura portuguesa, como dizer?, uma personagem incontornável. Ah, pois, a palavra é incontornável para o ciclo de críticos.
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Numa coisa, que ouvi em entrevista na rádio Clube, não concordo eu com Rebelo Pinto: dizia a autora que o facto de Portugal ter escapado a uma grande guerra terá de certa forma coartado o nosso ímpeto reformista ou transformador da realidade. É no entanto claro que esta teoria é defendida por pessoas urbanas, provenientes da classe média, média-alta. Qualquer rural mais velho sabe que a Grande Guerra se não trouxe a morte e a destruição dos edifícios de vilas e aldeias portuguesas, trouxe igualmente a fome e a ansiedade, tanto quanto às restantes populações europeias. Qual paz, qual o quê? E em Espanha onde a guerra civil atirou para as fronteiras de Portugal milhares de deserdados, com que a população portuguesa procurava colaborar, mitigando a sua fome em muitos casos? Relatos há, não sei o absoluto grau de veracidade pese embora quem mos contou fosse um oficial da GNR, que dão conta de pessoas a irem buscar os alimentos aos cochos dos porcos.
E nos anos sessenta, enquanto o resto da Europa se ponha em remanso, Portugal entrava em guerra em várias frentes, com os seus rapazes a morrerem por um pedaço de terra que já deixara civilizacionalmente, e como está certo, de poder ser dita ou sentida como deles? Isto tudo não é realidade destruição e morte para a sociedade portuguesa? Foi então o quê?

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