quinta-feira, julho 10, 2008

Estado da nação

Passamos a vida a copiar. A copiar modelos, teorias, discursos, comportamentos, como objectos manufacturados.
Eu defendo, em todas as áreas, a necessidade de estudos comparativos. E defendo até, em áreas que relevam da ausência de estudos, como a produção de opiniões baseadas no senso comum, que se confrontem essas percepções da realidade com o conhecimento da existência de outras realidades distintas. Aqui, mais do que comparar opiniões, comparam-se a justeza das opiniões quando comparadas com realidades diferentes sobre as quais elas julgam poder descrever. Por exemplo, a qualidade do comércio e o talento dos balconistas portugueses em comparação com a de outros países europeus. Quanto mais conheço certas formas de comportamento dos comerciantes na Europa mais aprecio o estilo português, mas esta opinião não invalida uma outra, a de que o meu conhecimento dessas realidades é ainda, mesmo que relativamente alargado, insuficiente para constituir uma opinião fundamentada sobre o assunto.
Mas aquilo a que se chama "ter mundo", não advém exclusivamente do facto de ter que se possuir dinheiro para se poder viajar, há sociedades que têm essas possibilidades e até viajam mas para se encontrarem exactamente com os valores do seu mundo, pois o resto é paisagem.
Deriva talvez de uma predisposição natural, ou forçada exteriormente, para viver no "fio da navalha" de quando em quando, para sopesar a sua passagem por esta existência. Absorver todos os outros valores sabendo quais são os que no fim vai deliberadamente defender.
Esta conversa toda para que eu possa reclamar sobre a ausência de autores portugueses que influenciem as opções teóricas, ou pelo menos as estratégias comunicacionais, dos nossos políticos e economistas. Onde estão os grandes teóricos sobre a cultura portuguesa? Só vejo seguidores de pensadores anglo-saxónicos, ou franceses ou alemães (como? eu?!), de teorias de autores autores de países fortes. Admito claramente que para mim o pensamento não tem pátria. Mas já creditei mais profundamente nisto de forma intuitiva e não racionalizada, sobretudo se em certos autores que excluem na sua doutrina enquanto critério avaliador dos valores o da própria universalidade. Daí que a adopção de certos modelos internacionais sobre a nossa sociedade me desorientem.
É certo que os resultados de inquéritos internacionais terão que dar conta de realidades semelhantes entre si, não se poderá falar de resultados na educação, por exemplo, se uns países se aplicam em oferecer aos seus alunos exames de escolha múltipla em que ao aluno se pede apenas que ponha uma cruz no quadrado certo, enquanto outros têm um tipo de exigência analítica e discursiva superior; mas a questão está em saber porque é que esses países que têm por esse método um número mais elevado de sucesso, hã-de servir de modelo para todos os outros? Que outras provas nos dão que são eles que estão no caminho correcto e não nós, por exemplo? A economia, dir-me-ão. Outra vez o número, está bem, nem tudo contra. Mas a economia está, mesmo nesses países, em trânsito constante entre o sucesso e a crise profunda, porque não haveremos nós de encontrar então as teorias e os modelos certos para a realidade portuguesa, que nos dê uma justa percepção do nosso valor?
E os nossos políticos pensarão na realidade portuguesa para depois irem procurar explicações internacionais para a mesma, nos últimos gurus dos últimos eleitos com mais exposição mediática, ou saberão encontrar para esta mesma realidade a explicação que ela de uma forma ou outra fará ouvir?
Eu como teórica também cometo o mesmo erro. Primeiro faço a pergunta, depois vou para os livros e só mais tarde olho a realidade...através da perspectiva que li. Mas a minha explicação é que preciso de conhecer a literatura sobre o tema. E a daqueles que adoptam a terminologia do processo de governo dos outros países, qual será?
Estado da nação, pois sim! Quem são os seus conselheiros sobre o estado do país? E dirão eles aos portugueses que fora a possibilidade de criar um governo e umas autarquias de gestão da coisa pública, quem define o estado da nação são as instituições internacionais? E esses fazem-no em nome de que teorias? Ah, pois, ninguém nos diz quais são, como são e de quem são as ideias que mandam em nós.

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