quarta-feira, julho 09, 2008

e na origem das crenças pode estar...

um livro que se leu.

Aqui há uns posts lá para trás fiquei de escrever sobre os livros que Churchill teria lido e que lhe teriam formado as crenças, ou pelo menos ajudado a legitimá-las, já que muitas vezes a crença decorre de uma certa forma de vida cultural que se desmultiplica socialmente em dado período histórico na linguagem e no pensamento.
Uma das minhas curiosidades é saber se as pessoas lêem certas obras de ensaios para que estas coadjuvem as suas escolhas prévias, ou se pelo contrário a leitura lhes provoca um novo tipo de pensamento, se dá origem a uma nova forma de compreender e agir sobre o mundo. Provavelmente dar-se-á os dois fenómenos, sendo que o segundo será mais raro, porque isso implicaria a leitura de algo que fosse simultaneamente uma realidade em que o leitor jamais pensara, uma explicação nova, ou uma interpretação original, com uma subsequente adesão racional e afectiva a essa teoria que provocasse por sua vez uma forma de vida nova.
Penso em Kant, por exemplo, que evoluiu para uma teoria própria no que a uma filosofia do conhecimento diz respeito, ao pensar na forma como a teoria heliocêntrica copernicana revolucionara o conhecimento sobre o cosmos, diz-nos ele, ou como Eça explica a paixão adúltera de Luísa pelo rapazola seu primo, o Basílio, pela leitura intensa de romances a que ela se dedicava, pois até tinha, para preencher as horas da sua ociosa existência, uma "assinatura, na Baixa, ao mês".
Mas nunca poderemos saber então porque afecta uma pessoa mais do que a outra a obra que se lê sendo a mesma obra? Porque há dezenas de outros factores a influirem na nossas escolhas, claro: a saúde mental e física, a educação, a personalidade, o estado social, a ocupação profissional, o grau de satisfação familiar, os relacionamentos, a existência de instituições cívicas fortes no nosso meio social, etc. O que nos deixa sem lei para declarar ciência sobre a real influência das ideias impressas sobre o indivíduo.
Mas enquanto isto, registo aqui as obra que Sir Martin Gilbert declarou ter Churchill lido após a sua formação académica ter terminado, e que o próprio define como tendo sido fundamentais para ajudarem a desenvolver o seu engenho oratório, nesse período que antecedeu de perto a sua entrada na vida política activa: o Annual Register of World Events, e as obras históricas de Macaulay e de Gibbon, assim bem como a obra filosófica de Platão. Procurava então o moço criar uma formação sólida em episódios sociais, histórico e filosóficos com que pudesse polir as suas ideias, mas na realidade a sua evolução ideológica faz-se a partir dos pressupostos partidários do próprio pai, até que àqueles se sucederão outras opções que serão ditados pela necessidade decorrente da sua experiência como político.
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Também Al Gore terá identificado o livro que Bush utilizou para fundamentar as suas intuições ideológicas, o livro de Terry Eastland, Energy in the Executive: The case for the strong Presidency, e que o seu conselheiro e assessor de comunicação, Karl Rove, lhe proporcionará ler em 1999; p. 268.
Ora, os livros encontram a pessoa certa (sem conotação moral) para os ler, ou produzem essa pessoa que os há-de transformar em acção?

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