quinta-feira, outubro 23, 2008

As vezes falamos do nosso passado político...

... e afagamos um amigo envolto em polémica.
Quando eu falo de polémica os meus alunos do Secundário dão um salto e ficam atentos que nem galgos em dia de caça.
Ouvi uma entusiasmante conferência sobre António Jorge Dias, o famoso antropólogo, por um dos seus discípulos, o prof. João Pereira Neto. Falou-se então em como se desafiava o governo de Salazar e as administrações coloniais para se fazer investigação, e como se tinha que aprender a ter que conviver com regras e pessoas de quem se dependia economicamente. Mais importante, compreendi o quanto na metrópole se ignorava do que se passava realmente nas colónias, e o que as suas administrações não queriam que se soubesse onde quer que fosse e a tudo o custo.
E o que eram os cientistas enviados? Relatores e críticos da situação, ou cientistas? Ou, como se lhes apontou num pós vinte e cinco de Abril causticado, colaboradores do regime?

Como se tivéssemos a veleidade de pensar numa ciência sem contexto político. Como se não houvesse feridas para lamber ou postulas para lancetar.

Ainda bem que eu não tive que compactuar com nada nem ninguém daquele tempo. A vantagem de viver em tempos diferentes é que não me obrigou a formar uma consciência sobre o abismo que era então a vida política, e a ter que assumir uma atitude radical sobre o estado de ignomínia social que então se vivia, até ao ponto em que isso iria confundir-se para sempre com a formação da minha personalidade.

Este meu tempo já me chega bem, e às vezes até sobra de saturação. Apesar de tudo, uma saturação da vida cívica diferente.

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