No primeiro caso a empregada, simpática e disponível, resolveu pôr-se a uma distância confortável para poder assistir-me imediatamente. Ora para quem não está habituada a ter uma funcionária atrás de si, e para mais a pedir-lhe sistematicamente que leve e traga de volta livros dos quais queremos saber o preço, torna-se constrangedor. A partir de certa altura já tinha vergonha de lhe pedir que me elucidasse mais sobre os preços e dei por terminada a minha busca. Trouxe dois livros. Caros. Os livros no Brasil são mesmo caros. Fiquei a imaginar como é que as pessoas com os ordenados tão baixos conseguem comprar os livros a preços europeus! Sempre imaginei que aquele mercado gigantesco, com uma capacidade de tradução espectacular, conseguisse pôr no mercado livros mais acessíveis economicamente, mas qual o quê!
Bom, nessa altura um dos livros que adquiri foi a biografia de Arendt , escrita pela francesa Laure Adler. Comecei imediatamente a lê-lo, e nos dias brasileiros de sol, vento e água, Arendt na sua vida na Alemanha e nos Estados Unidos acompanhou-me.
Ir-me-ia arrepender de não ter comprado a edição em francês, mas mesmo se em francês penso que a perspectiva de Adler ir-me-ia sempre irritar. Passo a explicar a primeira afirmação.
A tradução aqui e ali dá conta do vocabulário coloquial brasileiro com as suas idiossincrasias, o que me burilou os nervos. O problema não está propriamente na tradução como acto, que na realidade respeitou o vocabulário comunicacional brasileiro, está é no facto de eu não conseguir imaginar Arendt a utilizar certo vocabulário do estilo "novela das nove". Não posso dar exemplos específicos porque não tenho o livro agora comigo, mas imaginamo-la a dizer por exemplo:"O cara quis me paquerar", ou coisa que o valha?
E depois também não gostei propriamente da biografia. Mas isso fica para amanhã.
2 comentários:
Dedico-lhe um texto, aqui: http://artedoperigo2.blogspot.com/
(Desculpe recorrer ao espaço do comentário para o efeito.)
Paulo Carvalho
Paulo, já tive a oportunidade de lhe expressar o meu agradecimento por outra via. Desta forma Semi-pública repito a ideia: fico sempre espantada quando alguém não só me concede a graça de me ler como, sobretudo, de reflectir a partir daquilo que eu digo, alcançando uma dimensão interpretativa que eu não vislumbrava sequer.
O seu texto é extremamente curioso porque escapa às ideias de senso comum relativamente ao tema em apreço, o espírito argumentativo.
Só posso ficar encantada.
Muito obrigada pela sua gentileza.
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