e para atenuar a animosidade que aporto contra o estado político e burocrático que é este meu, pôs-me a ler mais afincadamente o livro de Miguel Esteves Cardoso, Em Portugal não se come mal. O sorriso esse está garantido, e, talvez daí eu consiga ficar com um pouco mais de paz.
Sorrio, concordo, aceno com a cabeça até ficar com dores no pescoço, rio-me e..,.lá me vem a conversa do privilégio... Eu juro a mim mesma que compreendo. Compreendo, mas não aceito. Porque o privilégio é uma conquista que leva o seu tempo, e há quem não tenha esse tempo para gastar, ou como saber gastá-lo para usufruir do privilégio, ou até ter ideia sequer que existe qualquer coisa como ter um privilégio.
O privilégio é acidental, mesmo que depois haja muito trabalho para mantê-lo , e mesmo que seja um trabalho do domínio do sortilégio e da empatia, mais do que do domínio do esforço descarado. Mas mesmo assim, sendo necessário o privilégio do trato à ideia de ventura da existência de cada um de nós, por muitos nós, para abalar por exemplo estados de carência, não se pode dizer ser ele um critério suficiente para instituir qualquer forma de procedimento universal no trato social. Porquê? Porque fala da pessoa para a pessoa, de relações de simpatia, pequenos gestos de descriminação, relativos, não de direitos aplicados de pessoas para todas as pessoas.
Eu gosto de ser bem recebida no restaurante cujos proprietários, meus vizinhos, me conhecem desde pequena, mas também gosto de ver as pessoas ao meu lado, que só lá vão por acidente, saírem de lá satisfeitas. É uma questão de partilha de privilégios: eu não fico com menos, os outros é que podem ficar com mais.
Com um sorriso. E estou quase, quase a sentir que posso dizer "peace and love" sem arreganhar os dentes!
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