Às vezes parece que a democracia não quer sair daqui. E no entanto, passe a prepotência do interpelante, há uma dúvida que fica: o que temos como poder de decisão quando o entregamos a outrem em nosso nome? Estamos a emprestar-lhe uma competência nossa? Ou a assumir uma fraqueza, arrostando a nossa incapacidade de governo ou de compreensão das matérias de governo?
Um dia teremos que dar uma resposta em massa, para nos conhecermos como eleitores e não como vítimas dos governos que elegemos. Ou pelo menos teremos, cada um, que proceder a uma introspecção que lhe permita dar uma resposta a esta questão. Com verdade. Sem ressentimento. Quando nos movemos, tomamos posição individual ou colectiva sobre determinado assunto, na educação por exemplo, somos qualificados de corporativistas por quem se nos opõe, ou por quem verbera contra os movimentos, e quando assobiamos para o lado, somos acusados de passivos e pouco participativos, uns paroquiais cidadãos. Temos que nos entender um dia sobre a natureza, a finalidade e a capacidade do nosso papel interventivo na política. Se calhar os cidadãos terão que se especializar por áreas de interesse, ou por necessidade. Mas a isto não se chamará depois precisamente defesa de interesses corporativos? Bom, então há que criar o cidadão interdisciplinar: que saiba de justiça, educação, diplomacia, segurança e defesa, tanto como de economia, finanças, medicina, arquitectura e agricultura, como de cultura, desporto e ambiente. Um cidadão a construir em laboratório. Com o que temos, temos cidadãos minimamente interessados num mínimo de assuntos. É pouco? Ou é perigoso? Se a democracia nos seus procedimentos jurídicos funcionasse, bastava para impedir a autocracia. E não, não era perigoso.
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