quanto a mim foi sobretudo a política de comunicação deste governo.
A estratégia comunicacional que marcou o primeiro discurso de Sócrates como ministro foi o mote de toda esta governação crispada, autocrática, convencida e alheada da realidade. Com este governo podemos entrever, com a devida distância e com o devido respeito pelo grau de sofrimento desses povos, o que terão vivido as sociedades sob regimes totalitários. Foi só um vislumbre das tácticas comunicacionais e do tipo de práticas administrativas de Estados ditatoriais, claro, mas vislumbre que me deixou em estado de choque quase permanente contra esta política, contra este governo. E os efeitos da sua política, no corte de acções de promoção da participação democrática e aprofundamento dos métodos dessa participação, sinal civilizacional, ainda estão por chegar.
Repare-se como este PS "encheu" casas recorrendo a efeitos cénicos, como ajeitou as objectivas sobre o seu líder (um homem que dá a cara, admito - quando não está a sair pelas portas traseiras de escolas) e se esqueceu, num minuto de absoluta emoção e desamparo do líder e desnorte dos famosos e "duros" estrategas, de impedir que filmassem a sala do Altis vazia, os ministros a deambularem por entre carros a saírem acabrunhados do local onde se velava uma ideia de PS e de Sócrates que há muito só existia na cabeça deles e nas agências de sondagens, o azedume de certas personagens mal amadas politicamente deste governo, o desfazer do cenário, quando, em plano paralelo, se mostrava a festa de vitória do PSD.
Afinal onde está o profissionalismo daquela famosa máquina de comunicação que tanto me gabavam ainda há poucas semanas? Onde estava a opinião pública ganha para as políticas?
E onde estavam os delegados do Congresso PS que em Março último tinham incensado José Sócrates como o supremo líder, não criticando políticas, não reformando atitudes, não propondo, a tempo, um conjunto de medidas que atenuassem o desastre que qualquer simpatizante do PS, com dois dedos de testa, via há muito que viria a ser as próximas eleições?
Auto-centrados, líderes e militantes deste PS onde a maioria das pessoas não se reconhece, ficaram finalmente em face de si mesmos, e o que viram não lhes deve ter agradado: conversas acintosas, agressões públicas contra personalidades ou classes profissionais que se lhes opusessem, idolatria pela via do não diálogo como sinal de virilidade ou de afirmação, manifestação contínua de actividade e de espírito de decisão. Agora deve soar tão a falso aos seus ouvidos (ontem na RTP1, o Ministro Santos Silva ensaiava um tom melífluo para fazer substituir o seu estilo argumentativo ou caceteiro habitual) como soa aos meus, desde aquele primeiro discurso no dia da posse do Senhor José Sócrates.
Paulo Rangel, uma excepção no PSD, tem um discurso de uma beleza política inqualificável. É um notável comunicador e, quero crer, acreditará no que diz. Aliás, como Sócrates acredita no que diz. A diferença é que o primeiro tem o discurso que constitui matéria de vivência democrática, de respeito pelo pluralismo de ideias e pela adesão ao conceito de "escuta" da voz dos cidadãos, o segundo tem a crença que os cidadãos ao darem-lhe uma maioria absoluta, lhe deram uma carta em branco para ele agir de acordo com as suas exclusivas e superiores interpretações da realidade.
Nunca um governo teve tantos "fazedores de opinião" a defenderem as suas políticas, e nunca um governo perdeu tanto sem o esperar, iludido nessa teia de interesses mútuos com que deixou de ouvir o povo, quotidianamente.
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Leia-se Cintra Torres.
terça-feira, junho 09, 2009
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