segunda-feira, junho 30, 2008



Este título revela a impotência da Grã Bretanha quanto ao assunto em causa. Se soubesse como o mandar embora já o tinha feito há uns anos, se soubesse como proceder agora não se questionava sobre o método.
Na verdade depende mais da própria África saber responder a esta questão que os ingleses não deixam cair. Para bem do povo do Zimbabué é bom que a África do século XXI encontre depressa uma resposta politicamente legítima para resolver esta questão. Há quem acredite na força de orientação geral de exemplos de acção particulares. Uma espécie de directriz civilizacional. Eu acredito, obviamente. Não acredito em tom estridente, nem olho de esguelha quando o faço, nem aceno com nenhum livrinho, não evoco a expulsão de impuros da minha comunidade, mas não tenho dúvidas da defesa de princípios de governação que se baseiam na ideologia do bem comum.
É curioso que apesar de achar o livro já aqui citado de Al Gore como um livro oportunista (para que eu lhe rendesse homenagem sem reservas era preciso que ele tivesse publicado o livro uns três anos antes de o ter feito, pois quer a causa de reflexão quer o material que potencia a mesma já estava todo lá), não deixo de aplaudir a leitura da acção política de Bush. Um homem deveras inteligente a servir a sua ideologia dominante: "o interesse público" é coisa que não existe. E agora? Como se responde a esta filosofia de acção política?
Tenho para mim que muitos dirigentes do mundo, da esquerda à direita, entraram em processo de mimetizarem esta postura ideológica.
Do ponto de vista de uma sociedade fraterna é uma perversidade, do ponto de vista de certas elites é um lugar comum. E agora, como se fica?

quinta-feira, junho 26, 2008

Esta questão, a da natureza humana comum relacionada com a afirmação "We stand united on Sudan"

Séculos de discussão filosófica sobre o tema da (in)existência de uma natureza humana. Mais séculos virão que continuarão a desenvolver o problema. E no entanto há uma compreensão relativamente absoluta quando nos dizem coisas como: "Darfur - Our common humanity demands an urgent response."
Relativamente absoluta porque não deixa de ser uma perspectiva, relativa, sobre uma questão de direitos humanos, questão civilizacional, e absoluta por vontade política e social. A absoluta escolha de uma forma de vida no planeta e que passa pela defesa dos direitos e da necessidade de proteger o povo de Darfur.
Curioso o apontamento que nos dá conta que "The recent joint statement on Darfur from Senators Clinton, McCain, and Obama was historic—the first time since World War II that presidential rivals have come together on a foreign policy issue." Save Darfur Coalition
O que quererá dizer na prática que os concorrentes à presidência americana têm a mesma posição acerca do Darfur? Quanto tempo será o tempo deles de agir, diferido em relação ao tempo necessário para uma efectiva acção?
E quem atende aos outros fogos sociais no mundo?
E a questão da nossa criminalidade ou da pequena e generalizada traficância de valores? Acredito na hipótese social de inclusão dos delinquentes que habitam na minha comunidade ou considero--a uma irrecuperável forma de perdermos socialmente tempo e de gastarmos erário público com essas tentativas? Até que ponto estou disposta a considerar a má educação, a arrogância alarve, ou a agressividade um valor existencial da contemporânea natureza humana? É tão mais cómodo falar dos habitantes do Darfur e encontrar uma solução política/social do que daqueles habitantes portugueses que nos nossos bairros pululam encostados com o rabo nas paredes e encostando a família ao abono.
Sem pensar na cama de rede da ideologia social, e mesmo da assistência social, quem, na verdade, gosta do lugar social que ocupam? Se não fossem as ideias, às vezes como tudo seria mais difícil em política.
O meu filho leu em voz alta, "Olhei à volta e não vi nada. Nada de nada. Nadinha de nada." de um livro de Geronimo Stilton. Eu muitas vezes também fico assim, sem ver nadinha.. Ainda hoje.

quarta-feira, junho 25, 2008

Subscrevo. Só agora algumas almas estremecem de espasmo e nem sabem verdadeiramente da missa a metade.

"Exames ou o choro desvalido dos comentadores
No começo da regência do eng. Sócrates, logo na primeira reunião do directório ministerial da educação, Maria de Lurdes Rodrigues mostrou ao que vinha: tomar medidas economicistas para a tutela de acordo com o plano socrático de "mercearia" financeira para o controlo do défice, limitação do poder educacional dos docentes via novo Estatuto da Carreira Docente e restituir a "dignidade" estatística do sucesso escolar dos nossos educandos – para Europa ver – estimulando a quase "passagem administrativa" dos alunos. Tudo isso estava ligado e tinha de ser feito em conjunto. Durante a insigne reunião e nos tempos seguintes, não teve pejo em insultar e caluniar os docentes, as famílias, a comunidade educativa e alguns investigadores em história da educação. Tudo a bem da escola, dizia.
Poucos entenderam aonde tudo isso levava. A não ser os docentes, como excelentes profissionais que são, e alguns poucos investigadores (o poder atemoriza, sempre, tais vates) do ensino e educação em Portugal, poucos mais se podem orgulhar de ter levantado a voz contra o desastre que se avizinhava. Pelo contrário, muitos desses carpinteiros da educação, sempre em tom desconchavado, não só não entenderam criticar as medidas preconizadas como apoiaram a putativa luminosidade disso tudo. O "cantar de amigo" funciona sempre muito bem entre nós.
Com apoio do bloco central dos interesses – veja-se como engorda a privada à custa da destruição do ensino público, note-se quem são estão esses senhores e os amigos que os sustentam –, mais a tumultuosa horda liberal que declamou na ocasião sonetos lurdianos e outras frases de efeito mercantil e de uma mão-cheia de ressabiados da vida e da coisa pública que escrevinham nos jornais ou abancam no ISCTE (caso do anarquista reformado João Freire que veio à praça pública fazer o mise-en-scéne sociológico que nos habituou e outros que tricotam em blogues), a opinião pública e publicada embriagou-se de eduquês. As famílias, com o pai dos pais em notas de aplauso, adocicadas e sensibilizadas pelo espírito da dissertação de todos eles, aplaudiram.
E pouco importava se a subtil estratégia que Maria de Lurdes prosseguia e a gravidade que adquiria a hecatombe colocasse em causa a linha educacional pública do partido socialista. O desaforo volante do trio do ministério da educação foi tal, que alguns dos seus antigos gestores foram ignominiosamente insultados e arrastados para a lama pública, apodados, também, como culpados da péssima (de facto!) prestação do ensino e educação em Portugal. A estratégia seguida foi (é) de uma ingenuidade pasmosa. Primeiro avança-se com medidas avulsas, desgarradas (sem visão global) e a existir convulsões há que passar imediatamente para outra medida e assim sucessivamente. Criar factos políticos quando o alarido é exibido na comunicação social é, convenhamos, uma bravata pouco pedagógica mas, desde o que o prof. Marcelo entronizou tais episódios, poucos a não utilizam.
Assim, ao longo da lista de mazelas, chegamos agora ao debate curioso dos exames, da sua manifesta pouco qualidade e exigência, das suas consequências presentes e futuras. O tom, o azedume e a reprimenda da resposta de Lurdes Rodrigues aos castos comentadores e outrora adeptos do lindismo educacional da ministra, não se fizeram esperar. Habituem-se! Até porque, a partir de hoje (quarta-feira) e com a reunião do ministério com os conselhos executivos das escolas, novo facto político será declarado: a figura do director escolar. Suspeita-se que não há tempo mais para debates sobre os exames, que serão esquecidos, como tudo o resto anteriormente. A espuma, o choro e o letrismo dos ex-amigos da senhora ministra, obscenamente, mudará. O país e a educação não. A destruição é já total! E para ficar!" in blogue Almocreve das Petas

terça-feira, junho 24, 2008

insustentável/sustentável

"(...)
Acresce que a polemologia do milénio não conta apenas com o uso da força militar.

De facto o globalismo económico destacou a agressão económica como um instrumento estratégico da maior importância e perigosidade. Neste caso, a Europa está numa situação de vulnerabilidade aguda, como subitamente se tornou evidente com a crise dos combustíveis.

A expansão colonial do século XIX foi justificada pelas democracias europeias da frente atlântica, nos respectivos parlamentos, pela necessidade de dominar as fontes de matérias-primas e garantir mercados de produtos acabados. Destruído esse império, a realidade, demonstrada pelas manifestações que desfilam pelas capitais europeias, é que a Europa é um espaço com debilidades, carente de matérias-primas, carente de energia, carente de mão-de-obra, e começa a dar sinais de carência de confiança.

A globalização implica sistemas abertos que sofrem as intervenções cuja origem a lei da reflexividade situa nas antigas dependências coloniais, e os sinais de que a capacidade europeia de reformular e reanimar o sistema está em dificuldades são eloquentes. A falta actual de lideranças poderosas e confiáveis também não ajuda a inverter a tendência.

Os noticiários parecem mais empenhados em abordar os debates sobre as mudanças dos modelos de comportamento social, ou sobre os vários circos de entretenimento dos tempos livres, incluindo a agenda de tempos livres de líderes políticos, do que os debates cívicos e políticos sobre a relação da Europa com a circunstância que a envolve de maus augúrios e de más notícias.

A crise que traz multidões para a rua em protesto pelas dificuldades de vida causadas pela disfunção do sistema económico globalista, que foi instalado com oferecida abonação científica e pouca governança, não é amenizada pelo recurso a semânticas paliativas porque a pobreza crescente, o desemprego, e a fome, incitam ao exercício de direitos naturais pouco condescendentes. Esses direitos naturais exigem uma sociedade de confiança para que a contenção recíproca, necessária para assegurar a coexistência efectiva de todos, seja um regulador natural. A pouco amiga circunstância externa, exige uma sólida mobilização cívica a que a UNESCO de longe apela, para que a política retome o comando confiável e oriente o rumo para horizontes menos inquietantes. Por isso, a busca de um projecto de governança confiável não pode ser fixada e dramatizada na rejeição de uma proposta de Tratado, como se apenas houvesse para cada futuro uma visão de método sem alternativa. Também não é o prestígio dos proponentes do método de Lisboa que está em causa: continua a ser o futuro, muito mais difícil de prospectivar e harmonizar do que encontrar depois o método apropriado.

Uma escolha de método que, para respeitar a comunidade europeia de direito, e não agravar a fragilidade, também não pode aceitar transpor a avaliação do exercício do direito da Irlanda para o plano dos imperativos de uma coligação política maioritária."

A FRAGILIDADE EUROPEIA in DN
Adriano Moreira, professor universitário

segunda-feira, junho 23, 2008

Enquanto eu digo e não digo

Cito: "Quando o consentimento dos governados é fabricado e manipulado por operadores de marketing e propagandistas, a razão desempenha um papel diminuto". p. 157

domingo, junho 22, 2008

Entre um ataque de vírus, muitas horas de cuidado e um longo suspiro de alívio e de cansaço aqui fica

uma citação do livro que ando a ler ( e que se revelou uma agradável surpresa, apesar dos meus preconceitos sistemáticos contra o autor), livro que me ajudou a focalizar após alguns dias de nevoaça: "Tal como disse Alexander Hamilton no nº 73 do The Federalist, "Ter poder sobre o sustento de um indivíduo é ter poder sobre a sua vontade." in O ataque à razão, p. 71

Pergunto-me, quando é que se deixa de querer ter poder sobre a vontade dos indivíduos? Não parece a existência uma luta de vontades, muito mais do que um confronto de argumentos? É como se o comportamento infantilizado e infantilizador se mantivesse eterno na cabeça e atitude de muitos. Nesse virote que é a luta entre o domínio das vontades e a força de ganhar por discussão racional, é como se de facto não houvesse solução à vista. Uma creche imensa é como pode parecer um país.
E no entanto há aquela esplanada sobre Lisboa ao lado do Mercado do Loureiro, a subir para o castelo, onde o encontro entre a beleza e a luz nos redime de qualquer desgosto que nos andasse a abocanhar. Há o nosso lugar no canto do universo, e não estamos sozinhas. E nenhuma perda no campeonato de futebol abate o desafio da multiplicação da bandeira com a qual os bairros populares de Lisboa engalanam as suas ruas nas festas dos Santos. E volta-se a comer sardinhas maradas que nos dão volta ao estômago, numa esquina qualquer, e o fado faz-se ouvir, mesmo sofrível, mesmo desalmado, até que a voz nos doa a todos. Uma vez, e outra, e mais uma vez ainda.

domingo, junho 15, 2008

Certo. Mas que falsos problemas? 1

« La politique est l'art de généraliser les faux problèmes, de donner des faux objectifs et d'engager de faux débats », professait Jacques Ellul.



E ao invés de me interessar pelo dilema que o povo irlandês apresenta para resolução às cabecitas europeias em geral, e à do nosso Primeiro em especial, passei muitas horas do meu fim-de-semana a pensar em duas coisas: no sorriso forçado que se colou à cara da Senhora Nixon quando o seu marido publicita a sua candidatura ao cargo de Presidente dos EUA sem a consultar (que excelente documentário este "NIXON, O HOMEM QUE AMAVAM ODIAR") e em comida. A cada um os seus problemas.

quarta-feira, junho 11, 2008

Ética pública: ela existe e nós buscamo-la. Podia ser pior...

podia nem haver o esforço.


CLAD

A minha amiga venezuelana participou na reunião que houve em 2004 em Lisboa e declarou-me o seu interesse. Eu só soube disto hoje.

terça-feira, junho 10, 2008

Segredinhos 2

Mas as pessoas não podem escolher para funções da mais diversa ordem aquelas que pululam nos próprios grupos que constituem, e com quem tenham proximidade de interesses? Não é natural que assim seja?

Katz afirmou que uma pessoa influente sê-lo-á pela força de três formas de vida orientadores da sua existência: 1. Pelo que ela é (os valores que a estruturam); 2. Pelo que ela conhece; 3. Pelas relações sociais que estabelecer.

Convidada por uma amiga a ir falar do tema "Líderes de opinião política", na sua cadeira de agendamento, ouvi-a desabafar: “Até ele defende essa circunstância da vida como determinante?” Pois.
Os dados têm vindo a ser coincidentes desde a década de cinquenta: as pessoas mais influentes, aquelas que são ouvidas com atenção, apresentam como características determinantes a sua capacidade de se relacionarem em rede alargada, e desse factor vir a contribuir por sua vez para a manutenção dessa propensão.
Os conhecimentos contam. Mas porque é que contam? Por aquilo que se é e sabe, competências básicas que irão depois atrair e desenvolver a capacidade de manter ou procurar relacionamentos? Ou, pelos relacionamentos que a sua posição no grupo social lhe dá à nascença, ou por meio de favores, ou por ser o protegido de alguém que por sua vez é influente, que irão depois contribuir para a formação daquilo que se é e sabe? Há distinções no processo relativo ao modo de se aceder a um ou outro benefício dos relacionamentos que se têm, embora a conclusão se mantenha inalterável: aqueles que nós conhecemos dispõem de certa forma de nós, e condicionam-nos na ordem social.

Não é propriamente uma novidade. Nem tem que ser uma constatação sobre o poder de um padrinho que dá a bênção e proporciona a cunha. Eu expliquei que a competência social é um factor de avaliação como outro qualquer, e que não se é escolhido para as funções de liderar a opinião, por exemplo, por se ser aquele que alguém conhece, mas em primeiro lugar pelo que se é.

Mas então e num grupo coeso onde membros partilham dos mesmos ideais e pactuam para se promoverem mutuamente chegada a circunstância? Há algum malefício para a sociedade que eles se escolham e se projectem para a governação dos assuntos públicos? Não. Desde que possam ser avaliados pelo público e não se escudem nas escolhas inter pares.

Antes do jogo de futebol os dois aniversariantes puderam escolher as suas equipas. Quando chegou a hora de seleccionar o menino não hesitou, preferiu só os que considerava melhores jogadores e deixou alguns dos seus amigos serem trocados por outros meninos que não conhecia de lado nenhum. Um deles, amiguinho desde a infantil, gritava: “Escolhe-me a mim! Escolhe-me a mim!”
Desapontada com a atitude do pequeno seleccionador perguntei ao rapazinho mais tarde: “Achaste que foste um bom amigo?” Ao que o rapazinho respondeu: “Mas mamã, os meninos que eu não escolhi não sabem jogar futebol e com eles íamos perder de certeza.”
Amigo é amigo, e dever de anfitrião é sagrado, retorqui liminarmente. Pois. Mas então como fica a ideia de que qualquer escolha das pessoas deverá ser feita pelas suas competências para o lugar exigível e não pela força do seu relacionamento connosco? Que valores passam para uma criança a quem ensinamos que os amigos devem ser sempre escolhidos para as brincadeiras das quais somos os líderes? E como ensiná-lo pela vida fora a distinguir o que é uma brincadeira e não é?
Um dia uma grande amiga disse-me que nunca me escolheria para ministra de nenhum governo que ela pudesse constituir, durante um desses exercícios de experiência pensada a que nos entregávamos. Fez bem. Eu não partilhava com ela senão uma profunda amizade, pois em comum não tinhamos nenhuma ideia política. Magoei-me profundamente. Aprendi sobre a distância entre mim e a amizade por mim. Eu tê-la-ia escolhido, claro, porque a julgava capaz de desempenhar funções competentemente, apesar de tão distinta ideologicamente. Mas o caso é que a recusa dela me fez pensar na equivocidade de uma escolha que a mim me parecia inquestionável. Um progresso no aprofundamento das ligações.

Um cargo político não é um jogo de futebol entre crianças. Talvez não. Se eu tiver a oportunidade de escolher quem irá trabalhar comigo irei fazê-lo em nome de que valores?
Como deixar isto ao critério de cada um é assunto muito complexo para uma democracia, esperando-se pela incógnita que é a formação cívica e pessoal de cada um pode-se ter belas surpresas, o melhor é que as instituições elas próprias tenham os seus princípios de selecção e que no maior número possível de lugares públicos, inclusive as chefias, só se possa aceder por concurso público com regras claras e objectivas.
Ainda que no final a igualdade de oportunidades continue a ser um caso de "Um violino no telhado".

segunda-feira, junho 09, 2008

Os segredinhos 1

Segredos só se compreendem se forem íntimos ou sob pedido de quem os partilha connosco por razões de pudor ou de segurança pessoal ou colectiva, pois no que diz respeito a assuntos da esfera da vida pública nem os concebo.
Andam a moer-me há dias umas declarações, publicadas em jornal, de certas personalidades identificadas como membros da maçonaria sobre o desvalor de um governo que não terá, supostamente, convidado nenhum dos seus membros para ministro. Incomodou-me o tom de intimação de uma frase, que, a ser verdade como princípio da organização e não uma mera leviandade de certos alguém que gostam de brincar em idade adulta à aventura dos cinco, é uma ameaça ao poder da democracia; li, então, em excerto de uma conversa gravada, que este governo iria sofrer grandes dificuldades em paga dessa omissão selectiva para com a organização propriamente dita. Poderia discutir aqui a questão das escutas em Portugal e ainda mais o problema relacionado com a sua publicitação, mas agora só vou discutir o conteúdo daquelas conversas publicadas.

Vamos lá ver, eu até acho que este governo nos dá razões de sobra para que lhe criemos dificuldades: é um governo inchado de presunção, cujo grande erro de “casting” começa logo por ser o primeiro-ministro. Eu disse-o naquele Verão, poucos meses depois da eleição legislativa, quando Campos e Cunha foi afastado após uma entrevista dada a um jornal, por já suspeitar, depois do discurso de tomada de posse que tanto aplauso mereceu então, que vinha aí um governo dirigido por um justiceiro com o mando de um regente de banda. E não comecei por ser contra o pragmatismo das ideias, era mesmo contra a forma de transmitir essas ideias.

Então ainda em férias, eu tive o primeiro desapontamento com um governo que eu própria ajudara a legitimar, e que mesmo durante esse período não deixei de seguir com preocupação. Seguiram-se outros momentos, com outros ministros a procederem pelo mesmo diapasão discursivo e de atitude no trato público, tal qual o seu líder. Deviam receber um prémio no ordenado do fim do mês se fossem discursivamente umas cópias, ou coisa que o valha.

Quando em Novembro de 2005 colegas e amigos, fascinados com a atitude pragmática de um ministro que entrou numa roda viva de reformas, me questionaram sobre a minha previsão eleitoral para 2009, eu disse-lhes que o sistema social não ia aguentar tanta pressão, sobretudo porque o discurso do primeiro ministro não era nacionalmente motivador, não instigava a sociedade a fazer uma inflexão profunda nos seus hábitos de produção e de vida de forma coesa, mas apostara nas rivalidades das classes profissionais entre si e criando divisões entre estas e a população que deviam servir, e tudo para fazer passar uma mensagem em que se estava a utilizar mal o modo e o tom. Mais tarde acrescentou-se ao tom desfasado a verdade desfasada. O que agravou a situação do governo. Avisei então para um sobreaquecimento da opinião e para um crescente afastamento dos eleitores do governo e do PS. Nunca quis ter razão. Nem sei se as eleições confirmarão esta previsão. Pouco me importa. Era uma intuição.

Um governo que tinha uma opinião pública bem preparada pelos media sobre a gravidade da situação no défice quando começou a governar e um povo convencido da inevitabilidade das medidas duras que aí vinham, só tinha que respeitar para ser respeitado, e para cumprir o seu dever para com uma população preparada para ver limitados ou suspendidos os seus direitos.
Se houvesse claramente intenções de mudar estruturas ao invés de actuar forte e feio nas conjunturas, era isso que tinha que acontecido. Mas não, era psicologicamente impossível a certos ministros, da cultura à agricultura, da saúde à educação, da economia ao ambiente, dos assuntos parlamentares ao das obras públicas, da defesa nacional à justiça não porem o dedinho em riste e desmandarem em “tal gente”, como parece ser o modo de existir do mestre Sócrates, o da filamórnica. Erraram.

Todavia, dito aquilo, também afirmo que o governo não deve ser atrapalhado por grupos de pressão que se apresentem como parceiros de poder mas sem se predisporem a fiscalização pública e sem qualquer legitimidade democrática, no seu método ou nas suas intenções de condicionarem o comportamento do governo. Não há, nem pode haver, viveiros privilegiados a criarem os funcionários para o governo da nação, a não ser os que publicamente dão conta da sua acção, em universidades, empresas ou serviços, em formas de vida partilhadas.
Que nenhuma instituição se julgue acima da liberdade de escolha popular assente, preferencialmente, em prova por serviço público e publicitado. E aí o primeiro-ministro pode e deve escolher quem entender, sem medo das acções de cortesãos socialmente bem relacionados a desejarem manipulá-lo.

domingo, junho 08, 2008

Uma questão de paixão

A editora Guimarães dedicou todo um pavilhão a Agustina Bessa Luís, a grande. Lindo!

A ideia é maravilhosa, mas a execução é horrível. Os muitos livros que a escritora publicou não chegam para atapetar toda a área do stand, que expõe assim as fragilidades estéticas da estrutura. Eu julgo que seria melhor ter optado pela profusão, pelo sentimento barroco, de expor em séries repetidas os volumes de Agustina até encher as bancadas e os expositores. As dezenas de livros de Agustina a replicarem-se em centenas e até em milhares como uma biblioteca de vertigem. Tal como está, a bela ideia mais parece uma cópia daqueles bazares de fim de feira, em que a quermesse resume-se a meia dúzia de objectos que deixam à vista o papel de decoração baratito e mal cortado, os papelotes das rifas a desmancharem-se, as luzes a piscarem em curto-circuitos, tudo num ambiente de certa desolação de alma.

Salvou-se a inexcedível boa vontade do velho senhor que nos atendeu, ainda a frase da autora em azul a falar do azul que decora a área, e a entrega final de mercadores de livros a apelarem à nossa atenção para a Birmânia.

Gosto deste tipo activo de publicitação: eu mostro-lhe que vendo um livro, por exemplo este Do outro lado do mundo, de laura Vasconcellos, e você pode ainda consultar o site burma campaign e apoiá-los nas suas iniciativas contra o governo de Myanmar. Pague um livro e leve duas coisas para fazer. Eu gosto. Mas eu já se sabe!

A paixão por Agustina devia ter-se mostrado absoluta, avassaladora na sua manifestação. Tal como está, está… benzinho. Parece mais um gesto de amor de um homem casado e acomodado à segurança que a presença da sua senhora lhe dá.
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Qual é o editor no mundo que não cobriria de homenagem, sobre homenagem, sobre homenagem, esta obra?

Assim como assim, prefiro a ideia editorial de exposição de livros da Guimarães à da Leya. Esta última parece-me um bebé birrento a espernear no meio da feira.
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Comprei os seguintes livros de Agustina: As chamas e as almas (não conheço essas obras da década de setenta e que falam desse tempo de pós revolução, agora aqui reunidas neste volume), Ordens menores e Contemplação Carinhosa da Angústia.

quarta-feira, junho 04, 2008

Aprendi que sim, porque não?


Há duas noites, entretida que estava a iniciar uma viagem para casa e a fazer uma inversão de marcha numa rua da cidade, ouço na rádio proferir o nome Heliodoro Salgado. A antena que estava a ouvir nessa hora era ocasionalmente a Antena 2.
Mudo de frequência de rádio mais vezes do que mudo de camisa.
Mais do que na televisão, a cuja imagem me rendo muitas vezes de forma passiva dando-lhe a subliminar ordem: entretém-me, na rádio procuro activamente o que me convém em cada minuto dos meus percursos motorizados.
Às vezes, sobretudo ao fim-de-semana em que se desfiam relatos atrás de relatos, ou de comentários desportivos sobre comentários desportivos, não encontro quase nada que me diga nada, nos outros dias tenho tido sorte. O género musical certo para o humor do momento, as palavras que me interessam ou que me intrigam ao ponto de ensurdecer para a realidade exterior, enfim. Só pode ser sorte que o acaso dos momentos e da sintonização baseada na impressão circunstancial me dê felizes ocorrências. Por exemplo: ouvir falar de Heliodoro Salgado no preciso momento em que inicio uma viagem nessa rua. É claro que a repetição do nome, pelo autor do programa no decorrer do mesmo, aumenta a probabilidade de mais pessoas estarem a passarem, em momentos diferentes, e pensarem: Olha, cá estou eu, e cá está a rua com uma placa a homenagear um dito cujo, da existência do qual se está agora mesmo a falar aqui na rádio.
Sobretudo se alguma dessas pessoas nessa rua tivesse morado, com uma casita sobre o miradouro a espreitar a cidade.
Não há nada de metafísico, mas há um momento de simpatia.

E ontem, ainda com o sortilégio da noite anterior nas ondas do ar, ouvi falar de um livro que me pareceu ser interessante o Uma janela para o infinito, mas o que me fez continuar a ouvir, já depois de ter chegado ao lugar por debaixo da minha janela, foi a entrevista dada pelo autor, um matemático e escritor francês. A certa altura o entrevistador pergunta-lhe sobre a importância da matemática, sobre o lugar da matemática na vida das pessoas, e eu, que esperava ouvir os clichés sobre a importância da matemática para a formação da pessoa profissionalizada contemporânea, e bla bla, ouço, ao invés, alguém dizer que não é importante não se gostar de matemática, que é possível dela gostar tanto quanto não se gostar, e que daí não advém particularmente nenhum mal, pois não é essencial para a vida que se goste de matemática, pese embora a vida dele de amante da matemática lhe seja muito querida. Tudo isto dito num tom sereno, nem panfletário, nem cínico ou sequer irónico. Um curador de paixões.
Não foi tanto a liberalidade valorativa do autor para com o objecto da sua paixão e pesquisa, foi antes a minha percepção de algo que me causa mal-estar acerca de uma certa postura na discussão de ideias em Portugal que nos leva (a mim seguramente me leva) a cruzar armas constantemente, de pôr sal em feridas, por uma dama: a nossa. Agora, eu que muitas vezes devo parecer uma cruzada em terra de infiéis a lutar contra um qualquer dragão quando dou aulas, envergonhei-me.
Gostar de Cantor não é expô-lo em praça pública para que todos lhe rendam a mesmíssima e obrigatória homenagem, como a que lhe é prestada por quem dele gosta. É antes dá-lo a conhecer, dizer como é, e depois não ser arrivista, deixar gostar dele quem gosta com amesma naturalidade com que se deixa não gostar. Assim, simplesmente em liberdade.
Falei de Cantor por causa do autor Denis Guedj. Podia dar qualquer outro exemplo. Certo, Isabel?

terça-feira, junho 03, 2008

O (nosso?) lugar nesta história

leio na blogosfera:
"Manuela Ferreira Leite, nesta sua comédia doméstica, não foi mais que um Sócrates em "tailler" e sob medida. Não tendo uma única ideia sobre a crise económica em curso (que aliás não entende nem pode entender), esquivando-se a qualquer proposta de estratégia política (assunto que sempre lhe tolheu a mente), sem fazer circular qualquer ideologia (social-democrata ou liberal) que agregue espíritos e vontades, Ferreira Leite apresentou o pregão eleitoral que as corporações e os interesses instalados no seu partido esperavam: discurso claro para chegar às "migalhas" que o poder político (por ora socialista) generosamente distribui entre os seus. O "bloco central" (clientela PS+PSD) dos interesses corporativos foi bem ensaiado e está a chegar. Até mesmo o sábio Cavaco, em ânsia inédita, a isso se referiu em doce pastiche. Ao que parece a profecia de Sá Carneiro está prestes a cumprir-se: "uma maioria, um governo e um presidente".
(...)
É só esperar para ver o que Ferreira Leite dirá das avultadas medidas anti-sociais que o eng. Sócrates e os seus boys tomam na economia, na saúde, na educação, na justiça, para ver a hipocrisia disso tudo. Até se entender que, mais que fazer frente a uma situação económica e social caótica (que seria um exercício académico respeitável), se promove a guarda do "rebanho" para o futuro e pavoroso bloco central em 2009. Até lá, não há milagre que nos salve. Que vos salve!"
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"Um é socialista democrático da ala direita do PS que gostaria de ser semelhante a Blair, quando estamos no tempo de Gordon Brown poder ser derrotado pelos conservadores, com uma Europa marcada por Sarkosy e Berlusconi. A outra, encostou-se a intervenções semanais na Rádio Renascença que não ficaram registadas em papel de jornal e não podem ser objecto de pesquisa no Google, pelo que tem sempre na memória os dossiers do Estado que lhe vieram de ser Directora-Geral da Contabilidade e dirigente do Instituto de Participações do Estado, por onde também andou Guterres."
Adelino Maltez no blogue "Sobre o Tempo que passa"
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"O nosso situacionismo, onde volta a dominar o conflito entre o partido dos funcionários e o partido dos fidalgos, como nas rixas de Campo de Ourique de 1803, não repara que falta um adequado partido dos trabalhadores e dos criadores de riqueza, pela mão de obra, pela cabecinha ou pela organização empresarial. Os defensores da feudalidade ou da mera tecnocracia estadual não deixam espaço para os sonhadores do novo reino e do melhor regime, nem que seja o império do espírito, do poder dos sem poder, para podermos coroar as criancinhas. Agostinho da Silva nunca percebeu nada de finanças públicas. O passado e o presente esmagam as saudades de futuro."
Adelino Maltez no blogue Sobre o Tempo que Passa

"Elogio ao amor"

Uma aluna enviou-me este texto por e-mail do prodigioso articulista Miguel Esteves Cardoso. Não sei quando foi escrito, só sei que vou buscar a minha satisfação profissional na atitude que os meus alunos revelam dentro e fora da minha sala de aula. E a escolha que a Cidalina fez deste texto deixa-me feliz.
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ELOGIO AO AMOR - Miguel Esteves Cardoso in Expresso
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Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática.Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões.
O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona?
Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra.
O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima.
O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal.
Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.A vida é uma coisa, o amor é outra.
A vida dura a vida inteira, o amor não."

domingo, junho 01, 2008

E a guerra dos pavilhões Leya pariu... uma ideia quadrada.

Porque o grupo Leya fez tanto barulho pela originalidade e pela individualidade na feira do livro é que eu não percebo. Tanto alarido e depois saem-se com aquilo!

Não tomei partido na questão que opunha a Leya à APEL aqui há umas semanas. Pensei esperar, ver, para depois tomar a minha decisão. Pois se o editor não estava a cometer nenhuma ilegalidade, então só podia restar um juízo estético, já que fazer daquilo um caso político de conflito entre a esquerda e a direita é carregar de naftalina o discurso.

Hoje, dia mundial da criança, bom pretexto para ir à feira. Entremos pois na área da Leya. Como? É isto?! Foi por isto?!


Vamos lá ver, as pobres editoras que fazem parte do grupo ficaram num quadrado que toma como centro as caixas registadoras, e por sua vez os livros estão fechados noutros quadrados: as caixas. Não só são pavilhões feios, o que seria de somenos para o objectivo do capital, como não permitem a fluidez de circulação. Mais de cinco pessoas dentro das "caixas" já é uma multidão a acotovelar-se e a tapar os livros expostos. Acanhados.
Espaço feio, fortaleza a enclausurar-se, previsível. Uma concepção de espaço medieval se comparada com a abertura, a linearidade, a geometria de espaço que os outros velhos pavilhões oferecem.
Se aquele espaço Leya é o melhor que o dinheiro e a criatividade individual dão como venda de livros... então não sei com que arquitectos o capitalismo português anda a falar! E isso é muito preocupante, porque se o dinheiro é privado já aquele espaço é público. Se fosse no jardim do editor, pronto, era lá com ele e com a dita câmara do lugar, agora, é aquela a ideia para o urbanismo de alguns dos detentores de riqueza?

Fiquei com uma pena dos diabos pelos livros expostos, e pelo nome das editoras que reconheço de sempre e que ali se anulavam entre si de tanto as querem a fazer forçada combinação.

Eu comprei a biografia literária de O`Oneill, editado pela D. Quixote, num dos feios caixotes. Talvez seja só isso que conte para o vendedor. Ou talvez não. Para mim, consumidora, decididamente, não.