quinta-feira, janeiro 31, 2008

As coisas como são e não como deviam ser

Na realidade este Ministério da Educação não tem mentido. Uma pessoa é que de tanto querer pensar no como as coisas deviam ser se esquece de analisar as coisas tal como elas são.
A resposta sobre o que se entende por escola está dada: 1. espaço de ocupação do tempo das crianças e dos jovens enquanto os pais cumprem as regras do mercado de trabalho ou dão vazão à sua preferência pela área profissional como factor identitário da sua personalidade (alargamento do horário escolar no ensino público); espaço de preparação para a vida económica (aprendizagem do inglês como língua de emprego universal seja a servir às mesas seja como programador informático ou neurocirurgião); espaço de mediação cada vez mais alargado da entrada dos jovens na vida activa e no reduzido mercado de trabalho das economias ocidentais (prolongamento da escolaridade obrigatória e incentivos financeiros às famílias); proletização do ensino, reduzindo os professores a meros vigilantes com alguma técnica de controle de grupos e superficiais conhecimentos sobre as matérias a leccionar, que deixam cada vez mais de corresponder ao cânone clássico das disciplinas a leccionar e procuram dar resposta aos supostos interesses dos jovens que na realidade são os meros interesses de uma sociedade de mercado que sabe que sai mais caro a tê-los como delinquentes fora das aulas do que pequenos delinquentes dentro das aulas e/ou da escola.

Para obrigar os professores a tornarem-se vigilantes, ou "professorzecos", o Ministério teve que desconstruir a imagem que ainda lhes podia restar de alguma autoridade ou poder num espaço profissional que conhecem melhor que qualquer teórico, ministro ou secretário de estado que andou a ler umas coisitas de educação segundo os códigos americanos ou do pós-modernismo francês. Até agora a formação humanista da maioria dos ministros da educação, ou a sua educação cívica, tinha-os impedido de afrontar a dignidade da posição institucional do professor (que este ministério deliberadamente confundiu com qualquer coisa como uma tentativa dos professores se subtraírem às suas obrigações em nome de uma coisa como direitos instalados).
A ideia social de uma classe não resulta só do reflexo do trabalho dessa classe sobre a sociedade, mais, como funcionários do Estado, os professores dificilmente se conseguiriam descolar da imagem que o Estado lhes atribuir, porque o seu papel individual se deve confundir, quando em exercício de actividade lectiva, com o seu papel social: representantes do Estado na reprodução de uma identidade social ou na criação de competências que o Estado requerer para si próprio.

Os professores passaram a ser como quaisquer outros assalariados sem formação especial, sem qualidades especiais, a quem o Estado concede uns salários para acompanharem as actividades que irão formar uma grande maioria de outros assalariados sem formação especial. Mas então, o sucesso imposto por decreto pela administração há-de colocar-nos à frente nos números de sucesso escolar da OCDE. Porque como em muitos países não há reprovações, como em muitos países o que se tem feito é adequar o ensino aos alunos, nós também o vamos fazendo, indo até ao nível onde os alunos se encontrarem e, como o senhor Bush dizia "Nenhuma criança será deixada para trás", e nenhuma criança será deixada para trás faça ela, ou não faça, o que quiser. Porém, e quando chegar o dia em que a mesma política de um qualquer outro senhor Bush disser: "Estes adultos não têm a formação necessária, vivemos numa sociedade em que as pessoas devem responsabilizar-se pelos seus destinos, não devem descansar as suas obrigações na ideia de um Estado paternalista, se têm formação universitárias mas isso só lhes garante um registo administrativo, defendam-se?"

Então o milagre da educação da Irlanda ou da Finlândia ou da Coreia do Sul ou ainda da Baviera, na Alemanha? Não é ele próprio um reflexo do milagre económico? E ainda, os professores não tiveram tempo para demonstrar as suas competência e capacidades para resolver os problemas do insucesso e o abandono escolar antes das desastrosas intervenções deste Ministério? Só agora é que acordam?
O milagre económico não surgiu antes do milagre da educação nesses países. Em todos eles se reforçou o papel de autoridade do professor no espaço aula e sobretudo o papel social do professor na comunidade, não se tratou só de uma aplicação de dinheiros públicos na educação (porque isso dizem os entendidos foi algo que se fez em Portugal sem obter resultados) mas instituiu-se uma política de ensino que diferenciou o que tinha que ser diferenciado: criar qualidade e exigir qualidade mas separar o ensino em ensino técnicoprofissional ou em ensino geral-universitário. Sendo este governo o dos licenciados em politécnicos admira não terem criado de forma universal, estruturada e consciente uma rede de escolas profissionais.
Depois, as regras de funcionamento das escolas ou dos processos educativos nunca foram criadas pelos professores. Ninguém lhes perguntava nada, iam acrescentando leis e decretos ao sabor das tendências governativas, e dava-se-lhes a ilusão de que se contava com eles como funcionários de excelência na regulação e manutenção do Estado português pela educação. Claro que muitos dos professores estão no sistema pelo emprego, como milhares de outras pessoas trabalham para ganhar um salário, e cumprem o mínimo. Mas a imensa maioria dos professores esteve sempre a cumprir escrupulosamente as legislações, a prestar-se a todos as fiscalizações. Eram poucas? Eram feitas com pouco sentido crítico? E a responsabilidade é do fiscalizado ou de quem tem o dever de fiscalizar? Vamos ver se o novo regime de progressão da carreira docente serve para melhorar a qualidade do trabalho a prestar ou serve, como eu julgo, exclusivamente os interesses economicistas do ministério em reter o maior tempo possível os professores em níveis salariais inferiores. Alguém acredita que havendo quotas, e havendo claramente um excesso de professores com boas classificações para ocupar esses lugares, os que ficarem de fora vão sentir o seu trabalho recompensado?
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Agora dizem-me que tudo vai mudar. Que no conselho de gestão das escolas vai finalmente passar a haver presidentes que irão pôr na linha os professores, porque não se lhes dá sequer a hipótese de estes poderem ser a voz dominante na escola. Para quê? Este ministério já lhes disse onde era o seu lugar: vigiem os alunos enquanto os anos passam e eles não se tornam adultos.
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Os professores que concorreram sistetamaticamente em concursos públicos desde o dia em que terminaram a sua licenciatura e com números clausus bem apertados, para ingresso nos ramos educacionais, para estágio, para a entrada na primeira escola, para a entrada em todas as escolas, para o quadro, para a mudança de escola, para fazer mestrados, doutoramentos, para fazerem cursos de formação, que deram constantamente provas públicas das suas habilitações e são diariamente avaliados pelos seus alunos, são agora remetidos ao lugar de subalternidade social profissional que permite a este governo, e deste para o futuro, fazer com os novos professores, pagos a recibos verdes, o que com eles bem entender, e com os outros hão-de tentar desprestigiá-los ao ponto de só os mais necessitados ou infortunados de entre eles se dedicarem ao ensino em Portugal.
E depois deixarão ser escolhidos por concurso público, porque, dizem, em cada Escola/autarquia alguém se encarregará de escolher os melhores. Ah, pois serão, serão mesmo os critérios de escolha, públicos e passíveis de serem fiscalizados. Ora aí, então, é que a objectivadade e a qualidade autonómica do ensino atingirá o seu zênite. Pois.
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À boa maneira do amigo americano, onde o papel subestimado do professor na maioria dos estados daquela nação só tem equivalência na ideia subestimada do saber e da disciplina. Mas depois a ordem capitalista há-de precisar de dar-lhes uma vassoura para as mãos e de ir recrutar os quadros ao exterior, assim como assim. E mesmo isto da vassoura é só no caso de não vir logo anexado às vassouras made in China um assalariado que fique mais barato e que manifeste melhores métodos de trabalho e de disciplina.

quarta-feira, janeiro 30, 2008

A escola por reformar ou uma ideia de reforma social para a escola

Para além da tremenda injustiça social que é o estatuto de carreira docente, dos abusos cometidos em nome de um Estado nitidamente em luta contra si próprio, não para se refazer, o que seria interessante num país de Estado monolítico há décadas, mas para se desfazer de si, e consigo levar a identidade social, ou ainda do que se está a querer fazer com as reformas absurdas para a direcção das escolas secundárias, o que mais me preocupa é a ideia de educação que gere o tempo presente. Dizem-me: "Esquece, não reajas, entra em greve de zelo crítico". Mas isso será como uma espécie de injecção de conformismo perante a inevitabilidade ou a arbitrariedade de leis que são simulacro de solução para o ensino. Como se não ousássemos pensar para além da imediata reacção às coisas por reflexo emocional.
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Mas o que há a pensar? Em primeiro lugar o que queremos reproduzir através da Escola, em segundo lugar o que queremos criar através da Escola. E não me digam que não é nada senão uma resposta espontânea às necessidades imediatas da realidade social, porque isso é uma mentira pós-modernista, e não me digam que têm um projecto iluminista de aperfeiçoamento da realidade social, porque eu também não acredito, sobretudo porque questiono a ideia de aperfeiçoamento ou o modo como se seleccionam e aplicam os critérios para avaliar esse aperfeiçoamento. É o quê? Uma sociedade mais livre, mais justa, mais equitativa, mais democrática, mais crítica, mais conformista, mais pragmática, mais funcional, mais economicista, mais produtiva ou mais coesa, mais soberana, mais sábia? E a Escola é o quê? Um centro de ocupação dos tempos livres, um centro social, uma clínica de apoio psicológico ou um centro de detenção ou um meio de atrasar a entrada no mercado de trabalho de milhares de seres humanos? O quê?

segunda-feira, janeiro 28, 2008

Uma estrela dentro do bolso

Lido no blog Sobre o tempo que passa : "Por nós, gostaríamos que a justiça comandasse o direito e que os princípios gerais de direito conformassem leis e regulamentos, fecundando a lei posta na cidade, a que chamamos direito positivo e que é flagrantemente injusto em muitos dos respectivos segmentos, agora reduzidos à defesa dos interesses dos instalados.
(...) O Terceiro Estado tem que se livrar desta sucessão de corporações que explodiram em vitalidade, exactamente quando se declarou oficialmente extinto o corporativismo.
A propósito do bastonário, dez observações sobre a corrupção: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10"
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Quem tivesse ido este fim-de-semana passear junto ao mar na Meia Praia encontraria centenas de pequenas estrelas-do-mar espalhadas pelo areal. A maior parte já seca. A tentação de pegar uma e pô-la no bolso só teve equivalência com a perturbação que a constatação do fenómeno nos induziu. E no entanto...nada ali parece ser desnecessário, nenhum acaso acidental de intervenção do homem. Apenas o ciclo da natureza que merecendo ser questionado não pode ser moralizado. Entra a ciência do mar e sai a moral. Ainda que não a ética, que vem a ombrear com a posição do cientista.

domingo, janeiro 27, 2008

As reformas sociais ideais existem

É claro que existem as reformas ideais, são aquelas que cumprem pelo menos uma das três condições aquando do seu exercício: 1. A maioria dos governados, e os que por ela são directamente afectados, acredita nessa reforma ; 2. A maioria dos governados, e os que directamente por ela são afectados, percepciona a utilidade da reforma; 3. A maioria dos governados, e os que por ela são directamente afectados, aceita essa reforma como algo desejável ou necessário. A história fala-nos de reformas assim em democracia, dão é muito trabalho aos políticos que as promovem e divulgam, ou necessitam de muita mais inteligência do que aquela que uma agência de comunicação consegue fazer vender, tal como aquela que ensinou a este governo: as reformas passam se puserem as classes profissionais todas umas contra as outras e a população toda contra a função pública.
Não foi trigo limpo aquela solução, pese embora durante um tempo tivesse funcionado quase perfeitamente. Agora que a população reage a este tipo de discurso, que o estratagema perdeu credibilidade ou utilidade, movimentam-se as mesmas forças. Como? Demonstrando os seus argumentos? Fazendo fé nas suas decisões através de uma atitude democrática do entendimento da opinião pública (que o fenómeno existe apesar de não estar completamente determinado)? Não, que isso implica que se queira realmente ouvir as posições que da nossa diferem. E mais, que respeitemos as pessoas que não concordam connosco. É muito melhor pois colocarmo-nos numa posição de iluminados que estão em marcha e trazem nas mãos um facho de luz à néscia população que se inquieta e tem a ousadia de, em democracia, protestar.
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Depois há as outras reformas, as que são impostas a golpes de soberba ou de falsa consciência sobre a necessidade, defensibilidade ou crença colectiva na reforma. A história também nos dá a conhecer muitas destas. São reformas com prazo de validade, e Portugal tem compêndios delas para mostrar a quem quiser. E de certa forma ainda bem, porque em democracia tudo tem um benéfico prazo de validade quanto às ideias que contra ela concorrem tanto quanto os ministros que dela fazem uso para impor as suas agendas pessoais.
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Utilizar uma linguagem "comicieira" para criticar uma linguagem dita "comicieira", não vejo onde esteja a justeza do apontamento dito crítico. Se as pessoas enunciassem a razoabilidade das medidas em situação, e não no papel, que as reformas aportam à sociedade, se conseguissem convencer pela argumentação, talvez alguma posição pessoal ou pública mudasse, assim através de relatos sentimentais de uma defesa do governo ou, mesmo que de um ataque ao governo fosse, ficasse com a sensação de se estar a fazer um frete a uma posição ideológica assente na adesão emocional de uma ideia de reforma deste governo pela ideia de reforma deste governo. Coisa pouca como argumento.

sexta-feira, janeiro 25, 2008

Estados caseiros1

Hoje li no JN: "A profissão de professor é aquela em que os portugueses mais confiam e também aquela a quem confiariam mais poder no país, segundo uma sondagem mundial efectuada pela Gallup para o Fórum Económico Mundial (WEF). " Desgraçadamente para o país, a ministra que coube em sorte à educação não pensa de todo desta maneira. Não só combateu com armas desiguais e sem nobreza o magro prestígio dos professores, normalmente uma classe que sempre acatou conformadamente todas as ordens e desordens dos sucessivos ministros da tutela (porque não há que confundir, como esta ministra quis fazer, o hipotético poder dos sindicatos dos professores com o real pouco poder dos professores), pessoas que tentam passar as mensagens educacionais/culturais do momento e valores mais assentes na partilha de conhecimento, numa tentativa de equilibrarem a sua função com a sua ideia de função.
O que se está a preperar na educação é exactamente igual ao que se está a passar na saúde, reformas que serão necessárias mas feitas sem reflexão e sem se escutar os verdadeiros conhecedores dos problemas, numa tentativa de empurrar os diferendos com a barriga. As afrontas são diárias, as ordens cruzam-se no éter em tons agressivos, o vocabulário utilizado por secretários de estado e directores para responderem às críticas dos professores, em sede própria, é de tiranetes, eles próprios sem sem educação. E se às portas das escolas não há filas de espera de anos, há perda de consciência e de sentido de comunidade e de ideia de país para décadas. E as pessoas sabem-no. E de certa forma estes dados dão ânimo a uma das classes socio profissionais mais vilipendiadas nestes anos de poder socrático, porque mais dependente do Estado que devia legitimar com a sua transmissão de saber.
Disse desgraçada sorte coube aos professores com este ministério, mas devia ter dito antes: desgraçada sorte coube aos alunos.
E agora tenho a certeza que a senhora virá dizer naquele tom em que todos acreditamos tanto, o quanto ela se regozija com estes resultados sobre a imagem social do professor. A mesma senhora que os desrespeitou publicamente como ninguém dessa tutela o fizera explicitamente alguma vez.

quarta-feira, janeiro 23, 2008

Estados do mundo 3

A ler a biografia de Churchill há meses e que durante a guerra de 1914-1918 me arrastou a leitura. Muitas coisa para escrever sobre o que leio, e sobretudo ainda a pergunta por responder, e que já aqui deixei registada neste espaço digital, da apresentação dos livros que o biógrafo diz terem sido requisitados com o intuito de formarem a personalidade política de Chrchill nos anos imediatos à sua entrada em cena como deputado.

Hoje deixo apenas aqui a seguinte nota: " A conferência* iniciou-se a 12 de Março. Entre os peritos encontravam-se Lawrence**, Cox e Gertrude Bell; em dez dias foram passados em revista todos os aspectos do futuro do Médio Oriente. A economia era o objectivo final, a estabilidade política era o meio. Uma das propostas apresentadas por Churchill visava a autonomia dos Curdos do Norte do Iraque. Ele era a favor desta solução porque temia um governante iraquiano que "ignorasse os sentimentos dos Curdos e oprimisse a minoria Curda", mas os seus conselheiros minimizaram estes receios acreditando que a Grâ-Bretanha teria sempre a possibilidade de exercer uma influência moderadora sobre Bagdade." (p.327).

Dez dias para se discutir o futuro do Médio Oriente... dez dias em 1921 que se tranformaram em semanas sangrentas, meses sangrentos, anos sangrentos, décadas sangrentas e está quase a fazer um século sangrento. Dez dias em que o futuro era sobretudo o futuro económico da Grã- Bretanha que estava em jogo, já que se queria fazer uma redução orçamental à custa das despesas militares no Médio Oriente e na Mesopotâmia. Dez dias. E o mundo ainda se admira de os acordos agora se multiplicarem sem soluções à vista. Ou ainda reclamam uma inquestionável visão dos governante ingleses sobre as suas colónias e sobre as suas relações exteriores com o mundo, por contraponto ao que muitos, e muitos brasileiros incluídos por exemplo, dizem ter sido a lastimável presença de Portugal no mundo. Pois sim. Façamos um balanço de visões, ou as coisas mal feitas não têm graduações?


* A Conferência do Cairo onde se discutiu a divisão e o governo dos territórios do Médio Oriente, dos dias 12 a 22 De Março de 1921.
** Lawrence da Arábia

Estados do mundo2

Agora que o partido nacionalista pró-China venceu as eleições em Taiwan, e que os Estados Unidos não estão propriamente muito entusiasmados com a possibilidade de vir a realizar-se um referendo sobre a adesão de Taiwan à Organização das Nações Unidas, o cerco da China, por via política e não pela retórica militar, aperta-se.
Se Taiwan se preparar para negociar a autonomia e deixar cair a questão da independência da China lá se vai mais um foco de tensão para o mundo. Mas o que é que os Estados Unidos têm a ganhar com a afirmação de que a realização do referendo é um erro ? Preferem um acordo com a China, a troco do quê? Não será com certeza a pensar no respeito pela opinião da população de Taiwan, pois não? Ou será que têm como moeda de troca o aquietar pela China da Coreia do Norte?

Estados do mundo1

"Nos países muçulmanos há o mesmo número de pessoas a dizer que respeita o Ocidente e que o Ocidente não os respeita. Entre estes, os iranianos são os que se sentem menos desrespeitados, apesar do diferendo sobre o programa nuclear. Já no Ocidente, a percepção mais comum é de que nenhum dos lados se respeita. Mas, apesar do pessimismo, também nenhum dos lados aceita a ideia de um confronto de civilizações inevitável.O estudo, Islão e o Ocidente: Relatório anual sobre o estado do diálogo, foi realizado com a colaboração da Universidade de Georgetown.
79% dos inquiridos na Dinamarca respondeu sentir-se "ameaçado" pelo aumento da interacção com os muçulmanos."
Pode-se ler no jornal Público de hoje.

Curiosas estas percepções. Sublinho:"Apesar do pessimismo, também nenhum dos lados aceita a ideia de um confronto de civilizações inevitável." O estudo parece revelar o que pensam as sociedades ocidentais e muçulmanas, e é muito interessante que as pessoas recusem a ideia de choques ou diferendos civilizacionais no que ao relacionamento social diz respeito, mas não nos esclarece sobre o que pensam os seus líderes políticos e, mais, não nos diz como essas populações tenderiam a comportar-se se submetidas a uma reconfiguração das suas certezas no que a um conflito aberto, dito de civilizações, sob a influência de uma ideologia terrorista. E o que estariam dispostas a defender de valores universais comuns contra as ideias mais radicais, do lado ocidental e islâmico? O estudo também não no-lo indica. Todavia o que sabemos já permite ter uma visão do nível de entendimento e de razoabilidade das sociedades ocidentais e islâmicas. É uma base comum de entendimento.

domingo, janeiro 20, 2008

Jogos de poder caseiros

Há duas coisas sobre as quais gostaria de escrever hoje, uma era sobre as mulheres no mundo, e a propósito da fotografia, que não deixa de ser muito bonita, de uma Simone Beauvoir nua numa capa de revista dita séria, e que vi no jornal Expresso, outra é sobre o artigo de Cintra Torres no jornal Público de sábado. Por agora o segundo tema ganhou ao primeiro, pois preciso de pensar melhor naquele assunto. Já Cintra Torres fala de um assunto que gosto de acompanhar: a liberdade de expressão e a democracia.

O argumento de Eduardo Cintra Torres é que este governo é voraz, e arrecada sucessos nessa sua voragem, na sua vontade de controlar a informação em Portugal, e dá o exemplo da agência nacional de notícias a Lusa. Ora o que aconteceu aí? Cintra Torres dá conta que a direcção da agência e os seus jornalistas estão em "guerra". E, acrescenta, essa luta está a ser travada por jornalistas que acusam a sua direcção de estar ao serviço dos interesses do governo de Sócrates.
Aqui Cintra Torres acrescenta ao nome do primeiro-ministro um outro apelido, o de "Putin", numa manobra linguística que eu julgo que desvirtua o tom e a seriedade do tema. Mas pronto. Ora em que é que a direcção é vista a fazer favores a Sócrates? Porque os jornalistas se apercebem que certos telefonemas vindos do exterior fazem alinhar convenientemente as notícias do dia. E ainda que os jornalistas temem a intervenção que possa vir a ser feita sobre as peças, e aqui não se percebe bem, os jornalistas temem que no futuro os seus textos sejam alterados por conveniência dos interesses do governo, ou os jornalistas já viveram experiências desse tipo e esse facto realmente lhes aconteceu? É que é diferente termos uma percepção de uma coisa que julgamos vir a ser possível acontecer ou estarmos a relatar um acontecimento vivido de facto. Bom, e de quem eram esses telefonemas? Telefonemas de agências de imagem, de assessores ou de órgãos todos eles afectos ao governo (a confirmar-se é uma acção muito grave, é claro, e com a qual nenhuma democracia pode ter grandes complacências senão à custa dos seus próprios procedimentos como rgime livre e não sujeito a pressões independentes das que são discutidas e aceites em sede de parlamento).


Factos parecem ser os que relatam os jornalistas da Lusa que dizem ser frequentemente destacados para dar cobertura aos fenómenos ditos propagandísticos do governo (eu também penso que o governo tem muitos actos propagandísticos, mas, por outro lado, se os jornalistas não estiverem presentes também não os podem desmascarar, como aconteceu daquela vez em que uma inteligente jornalista perguntou ao belo infante que tinha ido fazer de figurante na sala de aula de apresentação de novas tecnologias para o ensino, aquelas coisas de fogacho, quem é que o tinha convidado para estar ali, e se descobriu que o pimpolho estava a ser pago por uma agência). Ora se o governo obriga os jornalistas da Lusa a fazerem cobertura dos seus momentos, estes podem retribuir-lhes desempenhado o seu papel e questionando até à fímbria tudo o que com esse acontecimento se relacionar. Como moscardos, e aqui penso no grande Sócrates, o filósofo.
Mais sério é adiar ou não considerar a cobertura de acontecimentos importantes, como é o acompanhamento de uma greve, e fazer sobressair os actos governamentais. Isto sim, não depende dos jornalistas mas dos seus editores e aí... Se estes se impõem sobre o trabalho estrito do foro jornalístico, se há pressões, há que investigar. Mais, há que saber se a ERC sabia ou não que a nomeação de Luís Miguel Viana, o director da informação da Lusa, foi concertada pelo governo. Este assunto é da máxima importância para a democracia portuguesa: o serviço regulador para a comunicação é ou não de forma inequívoca e acima de toda a suspeita livre na sua acção fiscalizadora? Se não, mais vale pensarmos bem no que este governo está a fazer ao Estado português numa área que em princípio afecta menos a população do que a área da saúde, da justiça, da educação ou da economia, mas que tem um alcance mais pernicioso no que implica de falta de garantias e de insegurança quanto à ausência de estruturas fixas que representam uma sociedade livre, crítica e consciente.


No 5º congresso da SOPCOM, em Setembro de 2007 em Braga, um dos intervenientes num painel que tive o privilégio de moderar, o Prof. Vasco Ribeiro, da Universidade do Porto, apresentou uma comunicação subordinada ao título: "Fontes sofisticadas de informação – Análise do produto jornalístico político da imprensa nacional diária de 1995 a 2005". Tendo seguido a sua comunicação com atenção, conclui que as suas investigações apontavam todas para o facto de a informação portuguesa apresentar um grande equilíbrio na quantidade e na apresentação de notícias quer do partido que estiver no poder quer dos da oposição, e que o respeito pelas fontes é generalizado, sendo que em Portugal a maior parte das fontes são oficiais, 90% contra 10% das que são recolhidas de fontes não oficiais, em "off". Fiquei intrigada. Sabendo que Santos Silva é um homem que lê, e segue os estudos, porque é que as conclusões deste tipo de trabalho científico não o faz serenar e perseguiu, agora está mais quieto o que não quer dizer que esteja parado, com uma nova lei mais rígida para liberdade da comunicação social, quando a realidade, a prática dos jornais confirma-o, é que o sistema de comunicação tem um muito razoável exercício de auto-regulação?

Há vontades de submeter e de dominar que nunca perceberei. O que estará na origem, como ideologia, de concepções de reformas autoritárias e impostas em nome de uma realidade falsa ou de uma imagem deturpada de como fazer melhor as coisas, é algo que me aflige. E o pior é que não vemos a oposição preocupada com este tipo de representações sociais que se querem impor para Portugal, e Menezes, esse, até gostaria mais do que nomear um editor de informação, parece querer ser ele mesmo um editor de informação. Coisa triste para uma democracia. Coisa triste, minha nação.

sábado, janeiro 19, 2008

"jogos de poder"

Mike Nicholas apresenta um filme “Jogos de poder” que quanto a mim perde em toda a linha. Salvaguardada a legítima vontade de contar a história do ponto de vista do que terá sido efectivamente o papel da intervenção americana (mais propriamente o papel de três ou quatro indivíduos americanos) no Afeganistão aquando da invasão soviética, tudo o resto me pareceu rígido no estereótipo das personagens: a mulher rica imbuída da crença maniqueísta de uma luta a travar entre as forças do bem e do mal, com o mal a ser representado pelas forças militares comunistas ali encarnadas pelo exército e poder soviético; o cínico, competente e libidinoso agente da CIA; o mariola lúcido, com uma agenda de contactos sociais e políticos verdadeiramente trabalhada e influente, senhor de humor inteligente a representar a personalidade de um congressista americano, o qual irá ser o motor a pôr em marcha o plano americano de apoio à resistência afegã.

Não me convenceram as representações. O volte face dramático da adesão emocional do congressista Charlie Wilson à causa dos afegãos após ter visitado um campo de refugiados no Paquistão, está filmado, e é representado, de forma superficial e vulgar. Com aquelas imagens e aqueles testemunhos não nos conseguem dar provas sobre o imperativo da mudança de posição do congressista, sobretudo quando sabemos que as imagens e testemunhos reais devem ter tido realmente um peso e uma dignidade existencial muito superior à que aqueles segundos do filme conseguiram transmitir. É verdade que a imagem da vastidão do campo de refugiados nos esmaga. É certo, mas foi uma imagem mal aproveitada para nos dar uma amostra da real magnitude do sofrimento e do desespero do povo afegão (e depois pôr aquela mãe a chorar por detrás do congressista quando este sobe à colina…para quê?! Tudo tão redundante, tão sem chispa e alma!).
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Por outro lado, há ainda o recurso frequente à câmara a pôr-nos no lugar de voyeurs à força, a grudar-nos nos decotes e nos rabos bamboleantes das competentes profissionais, e atraentes, assistentes do senador Wilson. Já sabíamos o que queriam dizer nas personagens os seus decotes e as suas saias curtas, já percebíamos, pela reacção das personagens masculinas que passavam pelo gabinete, qual seria o efeito, não era necessário a câmara sublinhar o obvio. Há mesmo uma cena em que a câmara segue o rabo da assessora de Wilson enquanto ela caminha por um corredor do congresso, sem que nada na história ou no que se possa acrescentar à caracterização da(s) personagens(s) o justifique. Só porque sim. É uma razão que a mim não me diz nada.
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Há ainda a dança do ventre da bailarina americana, uma espécie de oferta de uma menina de luxo em versão Las Vegas aos altos dignitários do Egipto. Então, mas os homens que vivem num país com centenas de bailarinas do ventre, algumas com requintada arte de sedução e superior execução sensual, vão embasbacar com a vulgaridade da execução artística ali apresentada ou com a vulgaridade da pessoa ali apresentada? A mim também não convenceu a facilidade da adesão à proposta política de se conluiarem os egípcios com os israelitas, para mais no conturbado contexto das suas relações nos anos 80, sobretudo com a explicação dessa facilidade se ter potenciado numa reunião enquanto os presentes desfrutavam do vislumbre do corpo de uma bailarina que os terá…digamos… amaciado nas suas resistências a trabalharem todos juntos. A mim não me convenceu, mas se calhar é bem mais do que verdade que há certas reuniões assim, sei lá.

Finalmente a cena da destruição dos helicópteros soviéticos… aquela música, chico aquela música…, e ainda aquela cena extravagante de pôr os resistentes a manusearem uma arma como se fossem mimos numa cena burlesca, sem saberem bem como tinham atingido e abatido um helicóptero soviético nos primeiros segundos, para logo depois já aparecerem atiradores experientes e treinados (raios, tantos milhões gastos pelos americanos e pelos sauditas para se treinar os muhajedin, e eles vão logo aparecer no filme como se fossem o Charlot na guerra?). Há ainda aquela conversa ficcionada entre os pilotos soviéticos a raiar a estupidez, do tipo, “Olha, enquanto vamos matar velhos, crianças, mulheres e homens indefesos daquela aldeia ali à frente, aproveitemos para discutir sobre o conceito de fidelidade sobre o qual eu e a minha namorada estamos em vias de facto de divergir, sim?”
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Finalmente, reprovo a leviandade daquela lista de tanques, helicópteros, aviões, camiões de transporte abatidos ou destruídos sem uma única referência aos soldados mortos em combate. Os soldados soviéticos eram o inimigo a bater, mas não eram objectos, eram pessoas. O filme redu-los à não existência, sub representa-os ao evocar com euforia a destruição dos seus veículos ou das suas armas. Num filme de propaganda é compreensível que se anule o inimigo a menos que nada, num filme maduro e com tempo de distanciamento era possível o reconhecimento à dignidade dos combatentes militares soviéticos, mesmo que se lhes retirasse a possibilidade de justificação ou possibilidade de explicarem a sua acção, que, de um ponto de vista meramente dos interesses do império soviético até tinham uma explicação. Era uma explicação abominável no método proposto, para uma acção ainda mais execrável, mas tinham-na.

Quando é que o filme, do meu ponto de vista, ganha interesse? Nos últimos cinco minutos. Porque só aí as personagens envolvidas saem da excitação e da compulsão em que estiveram envolvidas durante todo o filme, porque em defesa frenética de um projecto de resistência e de independência para o Afeganistão, ou de uma ideia de contenção dos interesses comunistas no mundo, o que não é bem a mesma coisa, ainda que acredite que o congressista as tenha misturado nas suas decisões, e compreendem finalmente que esse projecto militar não terá continuidade no que ao apoio de uma sociedade destruída diz respeito. Compreendem, impotentes, então, que o povo afegão rapidamente saindo de um domínio estrangeiro totalitário se verá submetido ao poder totalitário do exército dos Taliban que a mesma América e seus aliados potenciara.
Esta impotência de mudar as coisas em paz, de atribuir alguns milhões para construir as instituições que permitam a um povo tornar-se soberano dos seus destinos, depois de terem sido derramados muitos milhões para prosseguir uma guerra, é que eu gostaria de ver filmado. Mas como o foi, o pouco que o foi, esteve bem. Pena tudo o resto.

sexta-feira, janeiro 18, 2008

ter ideias 1

Muitas pessoas pensam que fazer política é tomar decisões. Eu penso que fazer política é fazer ideias. Faz-se ideias para a saúde, para a educação, para a economia, para as relações externas e por aí fora. Ora fazer ideias é difícil, que o digam os grandes político-teóricos, e mais difícil ainda é impedir que essas ideias se transformem nuam espécie de engenharia social. As duas coisas juntas, isto é, não ter ideias próprias, andar ao reboque das ideias dos outros governantes ou ideólogos de outras nações que dão soluções para os seus respectivos problemas sociais, e querer transformá-las em mecanismos de controle ou transformação dos seus governado, é o diabo.
O equilíbrio, sempre à procura de um equilíbrio, entre o particular e o universal, o colectivo e o individual, é o que o político deve fazer. E já agora ter ideias próprias para resolver os problemas de cada comunidade e depois responsabilizar-se imediatamente pelos maus resultados que dessas ideias possam advir. É assim tão complicado?

quarta-feira, janeiro 16, 2008

país moral ou salto do tigre

Às vezes há dias assim. Dia em que sentimos o tempo instalar-se definitivamente no nosso corpo ou no corpo dos que nos estão mais próximos. Sabemos racionalmente que essa instalação é contínua, que é inexorável na sua lei, que é natural que assim seja, mas só de vez em quando a razão se torna matéria e conhece de experiência física o que o espírito lhe ensinou. São momentos que eu chamo de viver ao rés-do-chão. Podem ser provocados por qualquer coisa, talvez uma dor ou uma alegria intensa, um desapontamento ou uma alegria, uma humilhação ou um orgulho em si, uma sensação de impotência ou pelo resultado de um esforço bem sucedido. Não sei quantas formas haverá de o provocar. Depois cada um processará essa experiência como souber ou conseguir. Eu gosto da maneira como o filósofo procede. Quando digo filósofo penso nos filósofos que conheço da história da filosofia e na ideia que nos deram desse seu trabalho. Onde muitas pessoas dizem o filósofo aéreo eu digo-o concentrado, onde dizem longe da realidade eu digo-o reflexivo à realidade, onde o dizem rebarbativo eu digo-o paciente pesquisador de palavras e ideias novas, onde o vêm a querer ser orgulhosa criatura a pensar-se de uma espécie acima da comum atitude humana eu vejo-o pesquisador de novas formas de compreender e de comportar em face da natureza, onde o dizem supérfluo eu entendo-o criador.
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Não há como fugir à necessidade. Quase não há como fugir à necessidade, melhor dizendo. Seres pelo mundo tentaram. Dostoiévski diz-nos que Zóssima, o stárets Zóssima, o conseguiu durante um tempo. Dominar a necessidade, entenda-se. Mas já antes a literatura nos dá testemunho de outros eremitas no mundo, de outros monges de várias confissões religiosas que procuram de forma ascética controlar a necessidade dos seus corpos.
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Há a realidade temporal, os acontecimentos que circunscrevem a história pessoa ou dos povos e há a possibilidade de reflectir sobre tudo isso num ritmo próprio do pensamento. É como saber que se está ali mas que também se pode estar noutro lugar. É uma espécie de liberdade. Uma preparação mental como se fora um salto do tigre. Agora o que me acontecer será trampolim e não uma teia de conformismo, podia dizer o filósofo. Mérito o dele. Posição consagrada.
Está a ter lugar no grupo de discussão phimopo uma discussão que versa sobre a questão: "Dans quel pays serait-il le plus moral de vivre ?" Veja-se, no país de Sarkozy, o bobo, e sem dispromor para o presidente porque basta ver o papel do bobo no filme de Kurosova para se compreender como um bobo é importante, mas como escrevia, de um país que tem Sarkozy como presidente vem uma discussão tão fascinante.
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Quem colocou a questão "Qual seria o país onde se poderia viver da forma mais moral?" quis partir de uma situação semelhante ao processo do "véu de ignorância" de John Rawls. O filósofo Rawls propôs a seguinte experiência pensada: ponha-se numa posição em que por amnésia entrou num estado em que desconhece inteiramente o seu estatuto social, o seu papel representativo na sociedade, as suas aptidões e os seus recursos relacionais, emocionais, cognitivos, psicológicos ou físicos. Ponha-se nessa posição que admitamos ser uma posição original, um grau zero da identidade, o que acha que iria defender como princípios de justiça se se mantivesse sob esse "véu da ignorância"?
Para Rawls, só a imparcialidade pode fazer aceder ao enunciado de princípios universais, e se pessoas distintas não souberem como hão-de defender os seus interesses pessoais porque não têm hipótese de conhecerem as suas qualidades ou defeitos, então defenderão os seus interesses no sentido de preservar que em qualquer circunstância da sua história pessoal ou social lhe garantam uma vida justa. Assim, Rawls identificou que os interesses que toda a gente quer ver assegurados são os que cabem na satisfação dos seguintes princípios: Princípio da liberdade e o da equidade (as desigualdades sócio-económicas devem ser distribuídas tendo em conta a igualdade de oportunidades e que sejam a consequência de uma distribuição equitativa de oportunidades).
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A ideia do dinamizador do grupo de discussão filosófica supra citado era saber em que país uma pessoa podia viver, se pudesse completamente escolher, por ser o mais moral. E assim a discussão tem corrido entre saber se a moral de um país pode ser definida a partir dos seus governantes, ou dos seus cidadãos ou dos seus indivíduos. Curioso. Até agora fala-se dos países que melhor tratam os seus imigrantes, como um dos critérios para definir a moralidade de um país, apontando-se assim a Itália como um país moral. Mas outros lembram a baixa taxa de natalidade da Itália que obriga as autoridades e a sociedade a aceitarem, por interesse, os emigrantes como bem vindos. Ora um país moral, como uma pessoa moral, é tal como Kant a definiu, aquela que realiza acções sem outra intenção a não ser o de respeitar os direitos da pessoa, independentemente do que isso lhe trouxer como benefícios ou como obrigações.
Então qual será o país mais moral para se viver? Que Estado há no mundo que seja o mais moral? O Estado português enlameado como anda em interesses privados que não dizem respeito a todos e, no que à educação diz respeito, apostado em destruir ainda mais a ideia de sociedade de conhecimento e saber de muitos, não será com certeza. Mas a moral começa no indivíduo. Em cada um de nós. A tarefa começa pois em mim, antes de poder olhar para os outros. Difícil.

terça-feira, janeiro 15, 2008

Liberdade de expressão na blogosfera

'POR QUE NÃO USAS A ARMA?'

"George W. Bush está, hoje, na Arábia Saudita e, amanhã, no Egipto. Em ambos os países ele chega fortemente armado. Mas não deve usar a arma que tem. Infelizmente. A arma: na altura dos salamaleques com rei Abdullah e com presidente Mubarak, uma palavrinha. Ao saudita, fazer-lhe saber que gostaria que Fouad Al-Farhan fosse libertado; ao egípcio, o mesmo sobre Abdel Karim Suleiman. Na verdade, seriam precisas mais do que uma palavrinha, mas os assessores saberiam fazer Bush curto e persuasivo. Al-Farhan e Suleiman tinham um blogue. Em 2006, o saudita fora avisado que devia fechá-lo e fechou-o; mas voltou em Julho do ano passado, explicando as 25 razões por que voltava. Resumidas eram estas: "Quero falar." Em Dezembro foi preso. O egípcio escreveu contra "os professores da Universidade Al-Azhar [cairota] que não admitem que se pense diferentemente." Em Fevereiro, foi condenado a quatro anos. Pensando bem, talvez bastasse uma palavrinha a Bush: "Não." "
Ferreira Fernandes in DN Online

domingo, janeiro 13, 2008

Casuística

À entrada de Rio Maior há umas bombas de gasolina. Quando entrei no escritório, para proceder à operação de pagamento com cartão pelo combustível de que acabara de ser servida, olhei com curiosidade a fotografia que sobressaía na capa de uma revista ali abandonada em cima do balcão: Manuela Moura Guedes montada num cavalo.
Estava em terras ribatejanas, é certo que terras de fronteira com as terras de Oeste, mas mesmo assim ribatejanas. Sei que nestas terras se pode sempre falar de cavalos, que se repara em cavalos, mesmo se a tradição de vender equinos nas feiras de Rio Maior terminara, na minha recordação, com o fim da minha infância, ou com o princípio das pestes, coisas a que eu me recuso a identificar como períodos coincidentes. A feira de Setembro, a das cebolas, aliás, é hoje um fenómeno fantasmagórico na mente de todos os que as conheceram imensas e populosas. Hoje é assinalada como uma coisa pindérica, desequilibrada entre a tradição saloia e a vida cosmopolita. Adiante. Comentei pois o belo cavalo de Moura Guedes. O funcionário que me prestava o serviço, reparando no meu interesse pelas coisas escritas em cima da mesa, foi senhor de extrema gentileza e desdobrou completamente o jornal que estava ao lado da revista. Manhã solarenga deste sábado de Inverno, o jornal era o "Correio da Manhã". Leio as parangonas que me anunciam o aumento de 15% nos terrenos em redor de Alcochete. Comento: "Então o novo aeroporto lá se foi para Alcochete...prejudica aqui a zona, não?"
"Que sim, talvez - responde-me o senhor - mas que os interesses do país vêm antes dos da região e já que diziam que ele não oferecia hipóteses de crescimento... então mais vale ir para onde ficar melhor." Sorri.
O funcionário é o dono de uma estação que podia ser a daquele anúncio antigo da Citroën "E eu aqui a vê-los passar...". A dita gasolineira, primeiro com o desvio da estrada do Norte para fora do centro de Rio Maior, e mais tarde com a construção do auto-estrada para o Porto, solidificou-se numa pasmaceira, e a terra só não definhara pelas razões aduzidas, porque a pecuária e a camionagem ali criara empreendedores, como agora se gosta de dizer. Cidade feiota, apesar das salinas e dos agradáveis montes à volta, mas sem desemprego, com razoável nível de vida e com uma enorme fuga ao fisco na forma florescente, até agora, de diminutos negócios familiares.
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À tarde, num escritório imobiliário, converso com um empreiteiro que conheci miúdo magrinho a acompanhar-me nas minhas cavalgadas pelas redondezas de uma aldeia de Rio Maior com uma sua bicicleta todo o terreno com a qual operava manobras de uma perícia que nem eu, fraca cavaleira, nem a minha dulcíssima e nobre égua Deméter ousávamos, ou desejávamos, copiar. O miúdo transformou-se num jovem adulto com pinta de jogador de futebol da liga inglesa. Não o conhecia já. Apresentou-se, e da minha memória retirei a criança sorridente, filho de primos de primos, amigos meus lá dos bailaricos de província, que por vezes cruzava trilhos nos pinhais na minha companhia, ou eu na dele, vá-se saber quem tomava conta de quem, a adulta do rapazinho ou este dela. A conversa caiu na notícia do novo aeroporto. Posição crítica e veemente a do rapaz. Falo-lhe do interesse nacional, responde-me com o interesse das pessoas que durante onze anos, e sublinhava, "onze anos", não tiveram autorização para construir o que quer que fosse nos terrenos que lhes pertenciam, pois a todo o momento se aguardava uma decisão de construção de uma infra-estrutura que podia reclamar todo o terreno disponível nas redondezas.
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"Imagina - pediu-me ele - o que foi para todos os jovens que quiseram construir a suas casas ao pé dos seus pais, em terrenos de família, e se viram obrigados, pela contingência, a ter que ir comprar terrenos ou comprar habitação fora das aldeias onde moravam os seus parentes. Achas bem que essa gente agora não tenha nenhuma contrapartida ao sacrifício e à inconveniência de ter as suas terras sob resgate do estado durante mais de uma década?! Não achas que há que pagar-lhes indemnizações por essa expropriação sem retribuição ou finalidade?"
Acho. O interesse nacional e o interesse individual devem ser mantidos sob equilíbrio numa sociedade justa. Pois se é verdade que quem sabe da sua tenda é o tendeiro, já o político tem que saber das tendas todas e precaver todo o tempo ou então ir montar tenda para o deserto.

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Para debater a construção europeia com...

a senhora Simone veil.


"Le lundi 14 janvier, Le Soir et le Musée de l’Europe vous invitent à débattre avec Simone Veil et Elie Barnavi, directeur du Musée de l’Europe et ancien ambassadeur d’Israël à Paris."

Não foi por falta de empenhamento dos políticos e dos jornalistas franceses que a Constituição europeia chumbou lá por terras gaulesas. Não deixa de ser uma obrigação: a de explicar as ideias que orientam tratados, propostas ou políticas. Lá como cá.

segunda-feira, janeiro 07, 2008

O recrutamento terrorista e a sociedade civil 4

"Amiga, é o petróleo", diz-me voz avisada lá da venezuela. "
"Olha bem para o gráfico do aumento do preço do crude por barril durante, por exemplo, o governo de Chávez."
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Não o disse, mas podia ter acrescentado na mesma linha de pensamento, julgo eu: " Já viste o que este aumento exponencial não rendeu ao Estado directamente? E o que com isto se pode comprar em armas, ideias, meios de transmissão dessas ideias e pessoas? Para além do reforço psicológico que uma personalidade autoritária neste acumular de riqueza relativamente fácil vai buscar, e ainda que em cumprimento de um mandato legítimo?"

Pois é, esqueço com demasiada facilidade como a economia, esqueço menos o papel da violência, é uma excelente cobertura ou um reforço dos trabalhos de todos os sapadores ideológicos. Quando ouço alguém no mundo ocidental a dizer que as ideologias já morreram fico estupefacta, pois então nem considerarem por um segundo a hipótese de essa sua afirmação, por exemplo, resultar ela própria de uma crença ideológica?
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Nota 1. As televisões deram ontem em espaço nobre (o dedicado à informação) mais tempo de antena a um terrorista americano do que aquele que inicialmente ele deve ter pensado ter, visto que recorreu a um meio de divulgação ainda com um menor número de audiências. Ou talvez não, talvez a organização dele saiba muito bem que ao pô-lo a declarar insanidades sobre o mundo e a política, sendo ele um cidadão americano, isso atrairia os media ocidentais como peixes ao anzol. Seja como for o dever de informar não se confunde com o dever de fazer passar propaganda por actores não regulares no espaço público democrático. Para quê tanta exposição à sua mensagem? Não seria suficiente anunciar a existência dessa mensagem e contextualizá-la com informação critica sobre os meios e os objectivos propostos pelo dito "operacional" da al- qaeda?
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Nota 2.
Quem está naturalmente desapontado com a suspensão do rali Lisboa-Dakar por parte da França (os amantes do desporto automóvel, os concorrentes, a organização, Portugal, Marrocos, Mauritânia e Senegal) devia pensar nas hipóteses: 1. Invadir a Mauritânia com forças estrangeiras? 2. Bombardear interesses terroristas na Mauritânia? 3: Pressionar o fraco governo da Mauritânia a actuar urgentemente sobre as forças terroristas que operam no seu território sem seu conhecimento ou autorização e que põem em perigo a vida de nacionais franceses?
O governo francês optou por esta terceira via. A via do reforço diplomático e pela penalização económica antes da via mais musculada. Não estou a dizer que o esteja a fazer bem. Estou a dizer que me parece ter sido esta a via de pressão escolhida. Lembro-me que Israel há ano e meio entrou num Estado soberano, o Líbano, exactamente pelos mesmos motivos: proteger os seus cidadãos contra forças que operavam a partir do Líbano sem que o Estado libanês tivesse poder para as dominar, mesmo sendo elas organizações estrangeiras e apoiadas por países como a Síria ou o Irão. Preferiamos agora que o mesmo tivesse acontecido, mesmo se para proteger a organização, os concorrentes e o público desta corrida?
Claro que para a França os interesses franceses estão sobre todos os outros interesses antes enunciados (o dos amantes do desporto automóvel, os concorrentes, a organização do evento, Portugal, Marrocos, Mauritânia e Senegal). Não foi uma desistência em face da al-qaeda foi um aviso sério aos países onde a al-qaeda labora de forma mais ou menos impune, e onde assassinou três franceses ainda há dias, que a França não finge que nada aconteceu.
Bem pode o ministro da Mauritânia dizer que não nos podemos render ao terrorismo pois enquanto não houver acções visíveis que demonstrem essa intenção os governos mais fortes imporão sempre os seus interesses. E às vezes a favor dos direitos dos seus cidadãos mesmo contra os direitos de todos os outros.
Pois, a universalização dos direitos na prática é ainda uma luta de soberanias e não uma conjugação de esforços.

domingo, janeiro 06, 2008

Mar e música


Ideias todas enfileiradas a bramirem. A atenção sobre elas descansei-a hoje nos quadros de Laura Cesana. Coincidência o encontro com a autora que nos guiou pela sua obra. Senhora muito bela, uma amiga.
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"Diga-me Laura, porque há tantos peixes nestes seus quadros?"

Contou-nos a história dos peixes vermelhos que um após outro pais amados tinham feito com que nunca deixassem de velar junto à cabeceira de uma menina muito doente, como se do mesmo e primeiro se tratasse. E eu gosto tanto, tanto desses seus quadros de peixes e de música. Como gosto dessa sua história. O meu filho ficou encantado com ela, Laura, como você sabia que ele ficaria.

"Mamã, os pais estavam sempre a mudar os peixinhos que morriam para que no fim estivesse o mesmo peixinho, não era?"

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Ramos Rosa gosta dos quadros de Laura Cesana. Fala deles na sua poesia. Ouvimo-lo em gravação vídeo.
"Conhece Ramos Rosa, Isabel?"
"Oh, Laura, conheço. Conheci o seu livro "Matéria de Amor" como se me conhecesse a mim mesma. Mil vezes o devo ter tido em mãos, mil vezes a alucinação de que ele foi escrito para aquele momento meu. O livro mais manuseado da minha existência."

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" O livro mais importante numa década de sensibilidade emocional e devaneio erótico à flor da pele num tempo que se está a transformar em antigo, um livro onde pratiquei a arte da adivinhação de sinais, a juvenil e inquieta arte da bibliomancia", não ousei acrescentar.


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"Há-de escrever sobre a importância na sua vida da poesia de Ramos Rosa para eu lhe dar a ler, ele há-de gostar de saber".

Corei e balbuciei uma palermice, afoita a procurar uma caneta a esconder a desordem de emoções. Hoje sou adulta. Mas como? Eu vou escrever a António Ramos Rosa? Eu a dizer-lhe que confundi o sentido da sua poesia com o sentido que queria na minha vida? Como ousarei? Não é uma perturbação na ordem da escrita e no sentido que devia ter guardado dessa escrita com distanciamento e sentido crítico?
Ainda se eu soubesse pintar ou escrever a mar e música.


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Laura Cesana expõe no Centro Cultural de Cascais até dia 13 de Janeiro.


"(...)

Este homem que parou

no meio da sua vida

e se sentiu mais leve

que a sua própria sombra"


António Ramos Rosa, Matéria de Amor, editorial Presença, p. 29



sexta-feira, janeiro 04, 2008

O recrutamento terrorista e a sociedade civil 3

"Convém lembrar que a Convenção Europeia (dos Direitos do Homem) admite muito poucos direitos que devam beneficiar de uma protecção sem reservas. Os textos da Convenção e os protocolos adicionais são claros. A maior parte dos direitos acordados, como o direito à vida, não gozam de pretecção absoluta, por exemplo, quando a integridade nacional está ameaçada. Os direitos objecto de protecção absoluta são muito reduzidos, implicam o direito a não ser torturado ou de não ser objecto de expulsão colectiva."

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“Desta forma, seriam precisamente as pessoas que mais aderem à ideia de mundo justo que melhor aceitariam certos actos de descriminação.”
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William Doise, Direitos do Homem e Força das Ideias, trad. Maria F. Rosado, Lisboa, Livros Horizonte, 2002, p. 66 e p.10 respectivamente.

quarta-feira, janeiro 02, 2008

O recrutamento terrorista e a sociedade civil 2

Há em Barcelona uma chama "eterna" em memória dos que morreram pelas liberdades públicas e pela constituição da Catalunha em 1714. Um monumento discreto este "Fossar de les Moreres" a assinalar o cemitério onde alguns daqueles que combateram pela defesa da cidade e da sua Constituição foram enterrados. Hoje o monumento situa-se numa praça, igual a tantas outras dos bairros velhos do centro da cidade, praça esta que fica numa lateral da bela igreja de Santa Maria del Mar.
Podemos deter-nos a ler a inscrição retirada do poema de Soler :
"Al fossar de les moreres
no s'hi enterra cap traïdor;
fins perdent nostres banderes
serà l'urna de l'honor."
E se por mero acaso, mesmo acidental, o turista, se português, estiver a ler, e para mais, o último livro de Urbano Tavares Rodrigo Os cadernos Secretos do Prior do Crato, que poderá levar consigo por ser um livro levezinho que não pesa na mala, compreenderá então muito bem as palavras de Soler e saberá que esta questão da identidade nacional poderá bem ser uma lástima civilizacional, uma chaga para os direitos universais dos povos, uma afronta à globalização das instituições que gerem os conflitos, mas não deixa de ser uma paixão social. E se a nossa paixão por Portugal se aquietou por uma haver uma independência garantida, ainda que sempre ameaçada (afinal porque mandou Salazar na década de trinta armar os fortes de Setúbal?), o que farão os outros com essa paixão nunca realizada? Encontrar formas de a sublimar, claro. Daí as formas de negociar contratos de autonomia. Daí também que nenhum movimento terrorista leve a nossa simpatia.
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E no entanto em algum momento se terá que fazer a distinção entre um grupo que seja entendido como exército de libertação e um grupo terrorista. E esse momento parece-me que será o do apoio popular expresso em eleições livres pela causa. Mas muitas das vezes não se pode referendar essas questões pois tal o impede o poder central. E pode parecer ao turista que a história final é a versão do que teve do seu lado, por estratégia ou por sorte, o melhor ou o maior exército. Do que teve mais força. E aí o turista pode pensar que a história dos fracos também se faz nas entrelinhas do poder dos mais fortes.
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Se calhar Joan R. Resina tem razão , a história dos mais fracos nesse preciso momento da história em que lutaram por qualquer coisa e não ganharam essa coisa, a homenagem à sua luta mesmo se perdida, ainda não terá acabado para os catalães:"En “El vientre de Barcelona: Arqueología de la memoria”, encontramos la imagen más evocativa del libro: la de la ciudad como cuerpo que esconde en sus entrañas los restos de un genocidio político y cultural. A través de esta fértil metáfora, Joan Ramon Resina examina la relación entre la ausencia de lugares de memoria de la historia nacional catalana en Barcelona y el urbanismo practicado en esta ciudad durante las últimas décadas. Siguiendo la idea de Nora de que los lugares de memoria existen como recordatorios de un pasado ya acabado, se sugiere que la ausencia de lugares conmemorativos de las víctimas de las represiones españolas en Barcelona se debe a que la historia que éstos deberían recordar no ha concluido del todo. Como ejemplo aparece el debate institucional surgido en torno al destino de los yacimientos urbanísticos de la derrota de Cataluña ante las tropas de Felipe V en la batalla de 1714, a raíz de su descubrimiento bajo el mercado del Born hace apenas tres años. Puesto que “la relación entre derrota y destrucción de la memoria no es contingente” (86), se advierte perspicazmente que los intentos de no conservar el escenario de esta derrota particular de Cataluña revelan el deseo de hacer desaparecer los incómodos restos materiales –esa “masa indigesta en el vientre de Barcelona” (94)– que legitiman la persistencia de la memoria de los vencidos en 1714, así como de otros posteriores, incluidos los de la guerra civil. Trazando un sugerente paralelismo entre excavación urbana y excavación en la memoria social, Resina reclama el valor de las ruinas como memoria visitable (y visible en las fotografías que complementan el ensayo), es decir, como espacio alegórico de la masacre y de la pérdida de libertades de una nación."
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E é também essa relação de derrota e de destruição da memória, da identidade e da localização no espaço e no tempo social presente e futuro, que deveria ser estudada nos grupos de onde os jovens são recrutados pelos terroristas islâmicos.