sexta-feira, outubro 31, 2008
A hipocrisia que move a política internacional, e a nacional
"É como se estas mulheres nunca tivessem existido."
VISTO DO DEUTERONÓMIO
«Aconteceu um destes dias. "Os extremistas islâmicos da Somália executaram uma jovem de 23 anos, por lapidação. A mulher foi acusada por adultério na localidade Kismayu, no Sul do país." A mulher não tem nome, quem a matou também não, a história tem dez linhas. Não há imagens nem entrevistas, nada daquilo que faz "o interesse humano". Não é pois uma grande notícia, morrer à pedrada. Pedra após pedra da mão de gente que ainda ontem talvez nos dissesse olá, que ainda ontem era um vizinho ou um primo ou um irmão, que ainda ontem julgávamos amigo. Mas morremos ali, cercados como por lobos, golpe após golpe. Nenhum profeta para entrar no círculo e suster o massacre com uma parábola, nenhum sinal divino, nenhum raio a fulminar os monstros. E depois nenhum julgamento, nenhum castigo.
quinta-feira, outubro 30, 2008
Como mãe também me pergunto isto mesmo:
No princípio do mês de Agosto, o senhor engenheiro apareceu na televisão aanunciar o projecto e-escolinhas e a sua ferramenta: o portátil Magalhães..
No dia 22 de Setembro (segunda-feira), ao fim do dia, o meu filho traz um novo papel, desta vez uma extensa carta a anunciar a visita, no dia seguinte, do primeiro-ministro para entregar os primeiros 'Magalhães' na EB1 Padre Manuel de Castro. Novamente uma explicação respeitante aos escalões doIRS e ao custo dos portáteis.
No dia 23 de Setembro (terça-feira), o meu filho não traz mais papéis, traz um 'Magalhães' debaixo do braço.
Por favor, senhor engenheiro, não me obrigue a concluir que acabei de pagar por uma inutilidade, um capricho seu, uma manobra de campanha eleitoral, um espectáculo de fogo de artifício do qual só sobra fumo e o fedor intoxicante da pólvora.
Movimento mobilização e unidade dos professores
Acerca da biografia de Arendt... 3
Desde aquele confrangedor triângulo amoroso com Heidegger e a mulher deste, que Hannah arrasta atrás de si toda uma vida, ao ponto de nos embaraçar a nós leitores pela sua disponibilidade para ser utilizada como interlocutora, confidente, apoiante e procuradora/editora durante o tempo e nas condições rigorosamente impostas por Heidegger, sendo que nunca parece claro o seu corte emocional com o seu antigo mestre e amante, e ainda que em nome de uma profunda afinidade pela natureza do pensamento filosófico, até àqueles maridos e amantes que proclamam ser seus mentores e se sentem aliás mesmo autores de alguns dos seus pensamentos, achando-se frequentemente superiores a ela em termos intelectuais, Harendt parece querer deixar-se ver como uma senhorita sem querer consciencializar a ideia da sua real influência para a história do pensamento. Deverá ser difícil tendo um marido que se acha um ser muito especial e que lhe diz, meio a sério meio a brincar, que ela devia era estar a secretariar a sua fenomenal obra por escrever (e assim ficou, pois)!
Penso em John Stuart Mill e na sua esposa Harriet Taylor, na confirmação por parte dele da importância da sua mulher na obra, escrita para reflectir precisamente o pensamento comum. Penso nele como poderia pensar noutros autores que fazem relato semelhante, mas Arendt, como muitas outras mulheres de então e...não só, parece-me em luta com a ideia de si própria enquanto mulher, no grupo, no casamento e na sociedade.
Diz ela: "Os homens têm sempre esta vontade enorme de exercer uma influência, mas, de certa maneira, vejo isso de fora." É que isso era verdade, pois ela tinha sido bem ensinada a senti-lo desde a sua entrada na universidade, e lá em casa haveria quem lho recordasse igualmente, no caso de ter alguma ilusão a esse respeito. Ela foi a amante de Heidegger, escolhida também pela sua inteligência para o interpretar, para seguir, divulgar e proteger a obra do professor, não foi escolhida como criadora de uma futura obra prima.
A questão da influência só era masculina porque não se lhes afigurava a importância, ou a necessidade, de aceitarem a influência das mulheres. À maioria dos académicos, pelo menos. Vamos pensar que hoje as coisas são diferentes nas academias (então não são!).
segunda-feira, outubro 27, 2008
"O poder de nos dominarmos a nós mesmos"
domingo, outubro 26, 2008
O príncipe feliz
Ao "príncipe" de Maquivel eu respondo com o "príncipe feliz" de Wilde.
Ai é um ensaio político contra uma pequena narrativa ficcionada? Dizem. Ficção por ficção eu escolho a segunda. Em paz. Mas também reconheço ameaças, e também sei como anulá-las sem desfalecer.
Lá precisei eu de escrever isto. Será um incitamento ou um testemunho?
sexta-feira, outubro 24, 2008
Quando o emprego sobe em Espanha...
E penso, onde vai agora aquela gente encontrar um trabalho para se sustentar?
Depois leio o seguinte:
Portugal está em risco de ser ultrapassado pela Ucrânia no ranking da UEFA mas, ao menos, continuamos no topo, logo abaixo do México e da Turquia, do ranking dos países com maiores desigualdades sociais. Segundo a OCDE, se houve em Portugal uma melhoria da distribuição de rendimentos entre os anos 70 e 80 (o período "gonçalvista", origem, como se sabe, de todos os nossos males), a partir daí, durante 30 anos de governos de partidos com "socialista" e "social" no nome, nunca mais pararam de crescer as desigualdades, com os ricos sempre mais ricos e os pobres sempre mais pobres.
Hoje até famílias das classes médias pedem, em número cada vez maior, ajuda ao Banco Alimentar contra a Fome. Mas nem tudo são más notícias: se os portugueses (os que têm trabalho) ganham pouco mais de metade (55%) do que se ganha na zona euro, os nossos gestores recebem, em média, mais 32,1% que os americanos, mais 22,5% que os franceses, mais 53,5% que os finlandeses e mais 56,5% que os suecos. Portanto, como Cesariny diria (cito de cor), "se há gente com fome,/ assim como assim ainda há muita gente que come".
No outro dia
quinta-feira, outubro 23, 2008
As vezes falamos do nosso passado político...
Ouvi uma entusiasmante conferência sobre António Jorge Dias, o famoso antropólogo, por um dos seus discípulos, o prof. João Pereira Neto. Falou-se então em como se desafiava o governo de Salazar e as administrações coloniais para se fazer investigação, e como se tinha que aprender a ter que conviver com regras e pessoas de quem se dependia economicamente. Mais importante, compreendi o quanto na metrópole se ignorava do que se passava realmente nas colónias, e o que as suas administrações não queriam que se soubesse onde quer que fosse e a tudo o custo.
E o que eram os cientistas enviados? Relatores e críticos da situação, ou cientistas? Ou, como se lhes apontou num pós vinte e cinco de Abril causticado, colaboradores do regime?
Como se tivéssemos a veleidade de pensar numa ciência sem contexto político. Como se não houvesse feridas para lamber ou postulas para lancetar.
Ainda bem que eu não tive que compactuar com nada nem ninguém daquele tempo. A vantagem de viver em tempos diferentes é que não me obrigou a formar uma consciência sobre o abismo que era então a vida política, e a ter que assumir uma atitude radical sobre o estado de ignomínia social que então se vivia, até ao ponto em que isso iria confundir-se para sempre com a formação da minha personalidade.
Este meu tempo já me chega bem, e às vezes até sobra de saturação. Apesar de tudo, uma saturação da vida cívica diferente.
quarta-feira, outubro 22, 2008
Sobre a Ossétia do Sul...
terça-feira, outubro 21, 2008
Não me querem lá ver...
segunda-feira, outubro 20, 2008
Algo que os parlamentares portugueses deixaram de saber fazer:
democrático se instala el juego retórico del verbo como persuasión,
comienza a operarse “el paso de los espacios prepolíticos a aquellos
políticos”, y ello supone “la transmutación de la violencia en palabra,
de la palabra en discurso, del discurso en deliberación, de la deliberación
en consensos, de los consensos en normas justas y eficaces” (Pino,
2004, p. 124). En consecuencia, se abandona paulatinamente toda práctica
de exterminio del otro (lo que puede ir de un simple insulto al uso
de las armas), y en su lugar aparece la práctica dialógica y polifónica
del verbo, la asunción conjunta de desacuerdos en voces acordadas
que, como en el caso de una sinfonía, logran construir desde su particular
distinción el producto final armonizado."
"El discurso alcanza su máxima expresión de ardid suasivo cuando construye
la siguiente falacia: “He preguntado. Ustedes me han dado sus
respuestas. Ustedes son parte del pueblo, y sus respuestas son las respuestas
del pueblo alemán” (Goebbels, 2004). Esta falacia se conoce
como falacia ad populum, y es pretender, en este caso, que la decisión
de apenas quince mil alemanes pudiera ser vinculante y extensiva al
resto de la nación. Más adelante presenta un entimema truncado: “Yo
me paro ante ustedes no sólo como el vocero del gobierno, sino como
el vocero del pueblo” (Goebbels, 2004), y como la voz del pueblo es la
voz de Dios, Goebbels es la voz de Dios."
Retórica, democracia, demagogia y
autoritarismo
Jerónimo Alayón Gómez*
"Buraco 9"
Obviamente que é uma ideia errada que o golfe seja para gente rica, o golfe é para quem gosta de desportos praticados ao ar livre, e se há campos de golfe que são estupidamente caros e esses sim são para gente com posses, também os há acessíveis e muito bonitos. Na verdade devia haver em Portugal campos públicos, algo que nos países onde a modalidade é mais praticada existe, claro. Mas adiante.
A verdade é que é típico de certas pessoas comportarem-se como reizinhos do regime absolutista, pois eu recordo-me como o ministro da justiça Laborinho Lúcio, em funções, e acabado de sair de uma conferência da Gulbenkian, permitiu que o seu motorista praticasse uma manobra ilegal, e perigosa, a meio da AV. da Berna. Só com estupor os podemos ver a ter semelhantes atitudes de imaturidade cívica.
E não é que o dia estava lindo, a competição foi renhida, e o campo cheio de gente simpática e feliz que aplaudiu com entusiasmo a vitória do espanhol, como se fora um português a ganhar? Lindo.
O poeta
terça-feira, outubro 14, 2008
Mil poemas para um querido poeta. Mil poemas.
E contra as palavras que remendam a realidade do nosso orçamento baseadas na ausência de efectivas leis do arrendamento justas, empréstimos bancários com critérios, de fiscalizada utilização do dinheiro público , moralização do papel da função pública dos servidores do Estado, boa credibilidade e eficiência da autoridade judicial, entre outras coisas, só estas palavras:
Escrevo-te com o fogo e a água
Escrevo-te com o fogo e a água. Escrevo-te
no sossego feliz das folhas e das sombras.
Escrevo-te quando o saber é sabor, quando tudo é surpresa.
Vejo o rosto escuro da terra em confins indolentes.
Estou perto e estou longe num planeta imenso e verde.O que procuro é um coração pequeno, um animal
perfeito e suave. Um fruto repousado,
uma forma que não nasceu, um torso ensanguentado,
uma pergunta que não ouvi no inanimado, um arabesco talvez de mágica leveza.
Quem ignora o sulco entre a sombra e a espuma?
Apaga-se um planeta, acende-se uma árvore.
As colinas inclinam-se na embriaguez dos barcos.
O vento abriu-me os olhos, vi a folhagem do céu,
o grande sopro imóvel da primavera efémera.
António Ramos Rosa, Volante Verde - 1986 in Antologia Poética, Selecção de Ana Paula Coutinho Mendes
Poderá ser a isto que Nietszhe chamou de eterno retorno, não só para descrever uma teoria sobre o que aconteceu voltar a acontecer uma vez mais, mas uma que nos explique porque conseguimos tão bem suportar a realidade, pois entre o insustentável e do qual temos aversão, e o sustentável e desejável, há efectivamente um movimento de eterno retorno, numa tensão harmoniosa que nos permite de facto continuar aqui e continuar a acreditar.
Isto, aquilo e aqueloutro , com atenção e um "arrepio na espinha"
domingo, outubro 12, 2008
sexta-feira, outubro 10, 2008
Santos ao pé da porta também fazem milagres
quinta-feira, outubro 09, 2008
Desviamos os olhos um segundo e...
Na crise económica, ou política, como podemos não desviar os olhos, nós que não sabemos olhar sequer para o que vemos? Sabemos nos entanto que os economistas que temos e os políticos que temos, os que ouvimos pelo menos, não estão a dizer nada que seja confiável, que seja uma linguagem nova, que invente uma solução, ou que exceda uma resolução que não passe pela do tempo que há-de correr. Porquê esperar na resolução que há-de vir com os outros? Deve ser o síndrome da princesa indefesa e aprisionada na torre à espera do seu princípe, alimentado por séculos de governos políticos que premeiam a menorização das gentes.
quarta-feira, outubro 08, 2008
terça-feira, outubro 07, 2008
"Adjectivar a economia com (nova) política"
segunda-feira, outubro 06, 2008
domingo, outubro 05, 2008
Este país não precisa de heróis
sexta-feira, outubro 03, 2008
O que pararece ser a União Europeia? O que é: sem federalismo e sem constituição, cada um salva-se como pode.
Face à la crise financière, l'Union européenne vous paraît-elle constituer plutôt…
1. un atout, qui permet d'affronter la crise à plusieurs
2 … ou pas un atout, chaque pays tire de son côté
3 Sans opinion"
Pergunta o Le Monde em inquérito on-line ao qual os franceses que participaram respondem:
2... ou pas un atout, chaque pays tire de son côté . 56.8 %
E a capa do jornal traz na capa a seguinte constatação "Chacun pour soi: les Européens se divisent sur la crise financière". O que me espanta então? Não é que haja 56,8% que percepcionam a Europa dividida (uma vez mais) em assuntos de interesse global, mas sim que haja quem continue a acrditar (39, 4% à hora em que li os resultados) na Europa.
quinta-feira, outubro 02, 2008
Com um abraço
Raios de luz a cruzarem o meu céu de solilóquios.
Acerca da biografia de Arendt...talvez 1
quarta-feira, outubro 01, 2008
A universidade e o forte 5
No primeiro caso a empregada, simpática e disponível, resolveu pôr-se a uma distância confortável para poder assistir-me imediatamente. Ora para quem não está habituada a ter uma funcionária atrás de si, e para mais a pedir-lhe sistematicamente que leve e traga de volta livros dos quais queremos saber o preço, torna-se constrangedor. A partir de certa altura já tinha vergonha de lhe pedir que me elucidasse mais sobre os preços e dei por terminada a minha busca. Trouxe dois livros. Caros. Os livros no Brasil são mesmo caros. Fiquei a imaginar como é que as pessoas com os ordenados tão baixos conseguem comprar os livros a preços europeus! Sempre imaginei que aquele mercado gigantesco, com uma capacidade de tradução espectacular, conseguisse pôr no mercado livros mais acessíveis economicamente, mas qual o quê!
Bom, nessa altura um dos livros que adquiri foi a biografia de Arendt , escrita pela francesa Laure Adler. Comecei imediatamente a lê-lo, e nos dias brasileiros de sol, vento e água, Arendt na sua vida na Alemanha e nos Estados Unidos acompanhou-me.
Ir-me-ia arrepender de não ter comprado a edição em francês, mas mesmo se em francês penso que a perspectiva de Adler ir-me-ia sempre irritar. Passo a explicar a primeira afirmação.
A tradução aqui e ali dá conta do vocabulário coloquial brasileiro com as suas idiossincrasias, o que me burilou os nervos. O problema não está propriamente na tradução como acto, que na realidade respeitou o vocabulário comunicacional brasileiro, está é no facto de eu não conseguir imaginar Arendt a utilizar certo vocabulário do estilo "novela das nove". Não posso dar exemplos específicos porque não tenho o livro agora comigo, mas imaginamo-la a dizer por exemplo:"O cara quis me paquerar", ou coisa que o valha?
E depois também não gostei propriamente da biografia. Mas isso fica para amanhã.