sábado, setembro 30, 2006
Durão Barroso no Sudão por Darfur
Não me vejo num comício a gritar por nenhum indivíduo, mas isso não é propriamente uma atitude cínica. E uma reserva. Essa reserva, porém, não me impede de aplaudir as acções que julgo dignas de o serem. Aplaudo, de pé, a decisão de Durão Barroso de ir ao Sudão. Não quero saber se podia ser mais cedo, não quero saber que a sua acção tem a aprovação tácita das Nações Unidas como a instigá-lo. Não quero saber de intrigas institucionais. Quero só aplaudir de pé e acreditar na boa-fé do Presidente da Europa. Pelos habitantes de Darfur, sobretudo, mas também por nós europeus.
quinta-feira, setembro 28, 2006
O império português
O império derrotado?! Estranhei. Fui ver a tradução que em Portugal se adoptara e verifiquei que o tradutor da Presença escolhera para título da mesma obra: A Construção da Democracia em Portugal. Na realidade mais próximo de uma tradução à letra, já que Maxweel dera como título ao seu livro The Making of Portuguese Democracy.
O tradutor brasileiro ainda acha que destacar a ideia da derrota do império português faz mais sentido do que destacar a criação da democracia. Será porque a ideia de derrotar o o império, ou o discurso imperial, continua a ter algum significado no discurso político no Brasil? Haverá ainda essa inquietação no Brasil relativamente à matriz de construção da identidade nacional?
A não ser que o tradutor se esforce por representar em título o espírito da obra, e considere que em democracia não pode haver impérios, porque esta os derrota sempre. É uma ideia poética, para além de ser objecto de estudo da Ciência Política e da Teoria Política. Faz sentido. No sentido clássico de império, claro. Em que por império se entende uma unidade política formada por um conjunto de territórios, nações ou populações sob o governo de uma só autoridade.
quarta-feira, setembro 27, 2006
Entre o que eu quero escrever, o que posso, o que não posso deixar de escrever, onde está a verdade?
Como equilibrar a minha tendência panfletária, que me faz pender às vezes para o lado mais populista das questões, e a minha profunda vontade de objectivar e de conhecer fundadamente a realidade em apreço? Como evitar dizer que o Primeiro-ministro teve o tom e o conteúdo certo no parlamento, dificultando, às vezes caricaturalmente, as intervenções da oposição, sem que isso me impeça de criticar as políticas que os seus ministros da Saúde e da Educação, sob seu consentimento, têm conduzido em alguns aspectos pontuais? Como ignorar que por mais projectos de investigação que veja ser financiados me sinto tão confundida como no primeiro ano em que entrei para a universidade? Como esquecer a fome e a violência sobre os que não conheço, e a doença e a morte dos que caminham a meu lado, sem saber o que lhes hei-de fazer?
terça-feira, setembro 26, 2006
Sim, mas há excepções. Como é que elas acontecem?
Políticos e blogosfera - artigo de Rachman 2
Passo a explicar, optei por fazer uma "colagem" integral do artigo de Rachman porque o achei integralmente interessante, e porque ele tem as ligações a blogues de figuras como H. Clinton, Jospin ou M. AhmadiNejad, entre outras.
Os políticos e a blogosfera - artigo de Rachman
By Gideon Rachman
Published: September 25 2006 19:31, FT. com (Financial Times)
A few weeks ago I mentioned to a friend, who works in the “new media”, that I was to start a blog for FT.com. He was not impressed. “Blogging is over,” he informed me coldly.
I shrugged off the rebuke. After all blogs – personal online journals – are proliferating. According to Technorati, a firm that monitors such things, more than 50m blogs had been created by last month – and the number is doubling every six months.
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My doubts returned, however, when I saw an ominous message on the website of Britain’s main opposition party: “Conservative Party enters the blogosphere”. It announced that David Cameron, Tory leader, had started a blog. When the world’s least fashionable political party discovers a social trend, it is surely a sign that it is peaking.
Mr Cameron is far from alone. Over the summer a strange array of politicians started blogging. They included Hillary Clinton, who hopes to be the next president of America; Lionel Jospin, who hopes to be the next president of France; and Mahmoud Ahmadi-Nejad, who is already president of Iran.
Political advisers around the world are clearly giving the same advice to their bosses. Blogging is meant to let politicians communicate directly with voters in a folksy style. In practice it makes aspiring statesmen sound like Mr Pooter, the character from Victorian fiction whose Diary of a Nobody was famous for its banality.
Mr Cameron’s entries from his recent visit to India have cheery little headlines, such as: “Going green in a Delhi tuk-tuk”. The Tory leader is shown around by a tour guide who is “a real character”; he sees the Delhi metro and pronounces it “amazing”. This kind of deadly dull stuff crosses the political divide. David Miliband, Britain’s clean-cut environment minister, got blogging earlier this year – claiming that this might help bridge “the growing and potentially dangerous gap between politicians and the public”. One of his most recent entries has the scintillating headline: “Three cheers for Brighton library”.
Mrs Clinton and Mr Jospin are saved from Pooterisms by their inability even to attempt chatty informality. By contrast, Mr Ahmadi-Nejad’s first blog was full of strange personal details. He notes, for example, that he did very well in his university entrance exams, in spite of suffering from a nosebleed. But after a promising debut in August, he has fallen silent – perhaps distracted by other tasks, such as governing the country and building a nuclear bomb.
Ferenc Gyurcsany , prime minister of Hungary, is more conscientious. He posts new comments on his blog most days – sometimes twice a day. He also has a dangerous frankness, making him a natural for the blogosphere. In a recent speech – now posted on his blog – he confessed to lying constantly to get elected; a revelation that prompted riots in Budapest.
Mr Gyurcsany’s blog is apparently a good read – if you have mastered Hungarian. But it is not clear that it has worked to his political advantage. In fact – for all the interest that consultants are showing in blogging – there is only one politician’s blog that has clearly had a real impact.
In France, Segolene Royal, who is likely to win the French Socialist party nomination to stand for the presidency next year, has been running a website and blog that has generated lots of interest and new support. Ms Royal puts essays on topics such as unemployment or immigration on her site and invites readers to post responses. She claims that she will then incorporate the best ideas into her platform for the presidency. It may be a gimmick, but it has helped her appear modern and in touch with the people – qualities in short supply in French politics.
The Royal experiment will certainly be watched with great interest by other politicians. But so far it seems to be a one-off.
That will hardly surprise the apostles of the blogosphere, however. They have always argued that blogging is politically significant, precisely because it is not a tool of the elite. Bloggers are, as a book on the phenomenon, An Army of Davids by Glenn Reynolds, puts it, holding the Goliaths of the media and the political world to account.
In the US, bloggers are claimed to have played a key role in forcing the resignation of Trent Lott as Senate majority leader in 2002, after he made comments that seemed to express nostalgia for the South in the days of segregation. It is argued that blogs kept the issue alive when the mainstream media was prepared to let it drop. The blogosphere is also said to have been crucial in mobilising support for Ned Lamont, an anti-war candidate, who defeated Senator Joe Lieberman in Connecticut’s Democratic primary in August.
In reality, it is hard to measure the precise impact of bloggers on such events. But the idea of an insurgent grass-roots movement, energised by folk tapping away at their computers, appeals to the romantic, anti-elitist strain in US politics. Many politicians in America and elsewhere clearly feel the need to pay their respects to the blogosphere – if only as a precaution.
It is not self-evident, however, that the blogosphere’s influence on politics is all for the good. A political consultant once complained that his bosses’ reliance on focus groups handed power to people who were prepared to sit around for hours talking about politics with strangers, in return for a free sandwich. Similarly if politics is increasingly shaped by the blogosphere, it will mean more power and influence for a sub-section of the population willing to waste hours trawling through dross on the internet.
Blogging as a medium has virtues: speed, spontaneity, interactivity and the vast array of information and expertise that millions of bloggers can bring together. But it also has its vices. The archetypal political blog favours instant response over reflection; commentary over original research; and stream-of-consciousness over structure.
Was that last judgment fair? Does it really follow logically from the rest of the argument? I am not sure and I have no time to think about it further. I have to get back to my blog."
segunda-feira, setembro 25, 2006
Giordano Bruno
Campo de Fiori, Roma. Há dois anos, vi que aos pés da estátua imensa de Giordano Bruno havia muitos e variados ramos de flores frescas, lindas.
Não sei porque estou a escrever sobre isso hoje.
"...it`s funny, how things go."
domingo, setembro 24, 2006
grupos de reflexão e influência
Um livro prático que apresenta uma lista dos “Think-tank” franceses, com os contactos e identificação, ao mesmo tempo que delineia em traços breves a sua história. Com este guia ficamos a saber a quantidade e as características destes “clubes de reflexão”, nomeadamente o tipo de financiamento que os mantém, os temas sobre os quais reflectem, as suas publicações, a organização que escolhem para se estruturarem e as condições em que aceitam os seus membros.
O autor aceita a definição de “Think-tank”, expressão original de uma realidade americana, como sendo a que descreve a existência de um “centro de pesquisa independente que produz um tipo de trabalho de investigação com o intuito de modificar a política”. Centros que se querem financeiramente independentes quer da universidade quer dos governos, com estruturas não lucrativas, que tomam por objecto de investigação o estudo de políticas públicas, tendo como membros pessoas independentes em relação aos poderes públicos e com formações multidisciplinares.
Nos Estados Unidos há grupos que funcionam com um orçamento suficiente para lhes permitir contratar pesquisadores que trabalham exclusivamente em investigação, em França há apenas um pequeno grupo de instituições que consegue ter um corpo próprio de investigadores de forma permanente.
Estes grupos de reflexão e influência manifestam-se com estruturas e formas bem diferentes entre si, sendo no entanto que todos visam influenciar os decisores políticos. O impacto desta influência é dificilmente mensurável, porém é registado como um sinal de sucesso da capacidade de influir, o facto da imprensa fazer eco do seu comunicado, notificando e premiando assim a difusão pretendida. Ainda que haja outros grupos franceses que tenham dito que “preferem que um relatório de duas páginas chegue a um ministro a que um artigo vir a ser publicado num determinado jornal”.
Às questões de Moog terão que se acrescentar as de Helena Garrido que, no seu artigo de sexta--feira passada, se interogava por que razão os indivíduos presentes na organização e constituição do grupo “Compromisso Portugal”, por exemplo, não começam por alterar as práticas que apontam como necessárias a serem modificadas pelo governo, no seu próprio círculo de influência e competência profissional. A ler.
sábado, setembro 23, 2006
Visconti
Take 1.
ou era isto ou era um poema ou era uma fotografia
Museu Militar
Uma instituição com tantos recursos humanos deixa assim, sem imaginação nem glória, passar os dias sobre a memória?
sexta-feira, setembro 22, 2006
comunicação política
Vou deixar aqui algumas ligações à "Rede" sobre os nomes de autores por ele referidos.
Robert Hariman
Murray Edelman
http://www.amazon.com/exec/obidos/search-handle-url/index=books&field-author-exact=Murray%20Edelman&rank=-relevance,+availability,-daterank/002-3506302-5470457
Não identifiquei nenhum E. Lakoff. Mas nesta área temos dois autores com apelido Lakoff, sendo o primeiro mundialmente reconhecido:
Chilton
Georg LaKoff (link ao seu blogue)
e
Robin Lakoff
Derian
http://www.watsoninstitute.org/contacts_detail.cfm?id=24
Shapiro
Lasswell
Bentham
John Rupert Firth
Apter
Dorsey
Roig ( será uma referência a Artur Andrés Roig, o filósofo argentino?)
Não consegui saber quem era e o que escrevia M. Golg Bliss.
quinta-feira, setembro 21, 2006
O que eu ouvi na rádio ou na televisão que me fez ficar a pensar:
Televisão, RTP 1, programa “prós e contras” da passada segunda-feira. Falava-se sobre o estado da educação. Dizia uma senhora professora, Presidente do Conselho Executivo de uma escola: “As creches já não aceitam uma criança logo que ela tem uma pontinha de febre, por isso as mães (professoras da dita escola) têm que faltar muito”.
Nem sinto vontade de comentar. Isto e outras coisas que por lá se disse. Mas vou esforçar-me: Na cabeça desta senhora Presidente, uma criança com uma pontinha de febre (isto não existe, ou se tem febre ou não, logo ou se está doente ou não) não tem nada que ficar no aconchego do lar com a sua mamã ou papá, preferencialmente, a cuidar dela. Não, é ir para a escola que é assim que se faz em Estados em que os indivíduos estão submetidos aos interesses da administração central.
TSF, ontem ao fim da tarde. Falava o Vice-presidente da Câmara de Oliveira de Azeméis a comentar o anunciado encerramento para o dia seguinte (hoje) de escolas por parte de pais que protestam dessa forma contra a falta de auxiliares nas escolas dos filhos. Que sim senhora, que era verdade que havia falta de auxiliares, mas que os pais têm que compreender que o país não está em condições económicas de dar resposta a estas questões. Realmente há que saber que muitas das escolas públicas só conseguem dinheiro para que se compre material escolar e outro, como o papel higiénico, por exemplo, porque os pais dão um dinheiro extra por mês para satisfazer essas necessidades. As pessoas dão o que podem. Os amigos que me contaram isto contribuiam todos os meses com 20 Euros para a escola que a sua filha frequentava. Logo, o ensino público não é inteiramente gratuito e o ensino público está mal financiado e/ou mal gerido. As câmaras que vejam bem onde andam a gastar o dinheiro e quais as prioridades. O Ministério que não ande doido à procira de contenção de despesas que passe a ficar como o cão que persegue a própria cauda.
Antena 1, hoje de manhã: Nicolau Santos comentava a proposta do documento proposto pelo Think Tank “Compromisso Portugal” sobre o tema da Segurança Social, criticando a defesa que António Carrapatoso fazia da ideia de passar a haver uma conta individual, gerida por entidades privadas ou públicas, onde cada trabalhador poria o seu dinheiro a capitalizar para a sua reforma. Aquele seria só o seu dinheiro. Como Nicolau Santos referiu e muito bem, isso iria destruir uma ideia social base para a coesão de um grupo alargado que é o da solidariedade inter-geracional, sendo que a longo prazo os mais pobres iriam ficar ainda mais pobres (os seus descontos iriam ser proporcionalmente muito inferiores o que lhes daria a perspectiva de acabarem na velhice com muito pouco). Ora é na contenção de um tecto a aplicar às reformas, a partir de uma determinada quantia não se pagaria reformas exorbitantes, que pode passar a solução, sendo que estas pessoas, pelo seu próprio percurso económico/profissional, teriam sempre a hipótese de aplicar as suas poupanças em fundos de investimento para a reforma, algo que os trabalhadores com salários mais baixos obviamente não conseguem ao longo de uma vida de descontos.
Sendo eu o mais possível a favor da responsabilização dos indivíduos, não concordo de maneira nenhuma que se deixe fora da esfera dos deveres do Estado as suas responsabilidades sociais com os mais desfavorecidos, e que isso seja feito sem o sentido de solidariedade social que tem formado as sociedades europeias nas últimas décadas. Não são só questões económicas, são questões que se prendem com o tipo de socialização que queremos promover. Se o sistema falir em termos económicos terá que se proceder a um reajustamento das contas, a uma nova ordem de destribuição, mas não a uma fuga das responsabilidades colectivas.
O homem anda a fazer de propósito...só pode.
Há Presidentes que se atraem na asneira, e Chávez anda a provocá-las.
quarta-feira, setembro 20, 2006
Os rapazinhos e a escola
Hoje apetece-me escrever sobre as histórias fabulosas do “Menino Nicolau" de Goscinny e com ilustrações de Sempé, para aproveitar e falar sobre os que falam de educação? Ou falar do livro de Fukuyama sobre a construção de Estados, para falar sobre o nosso Estado? Hum… e o vencedor é: “O menino Nicolau”!
Ainda não estou completamente convencida de que não devia falar da importância social de proferirmos ideias "proibidas". Eu posso dizer o quê? Quando? E Porquê? Respondo primeiro perante quem? Perante a minha consciência ou perante os meus parceiros sociais, mesmo os que eu amo, mesmo a quem eu devo obediência? Perante a intuição ou perante a convenção? Digo alguma coisa de novo ou repito o que já li, escutei ou vi? E em quantas vezes me enganei, me confundi e disse asneiras sem balbuciar? Quais são as minhas certezas? E as minhas dúvidas? Quando falo não abro caminho para que outrem fale também, me responda pelo menos? E isso não é já uma provocação ao diálogo? Adiante.
O tempo da infância não pode tudo, é o tempo precisamente da aprendizagem de que não se pode tudo, mas, para os mais sonhadores, aqueles para quem a disciplina chega de forma tangencial porque não a provocam, logo não a enfrentam inequivocamente, há todo um espaço, de auto-sugestão, de uma liberdade infinita. Julgo que para estes chega a ser surpreendente descobrirem um dia que cresceram e que são pais, e que agora há na sua esfera de gravidade um outro ser a procurar tudo de novo, tudo para si, tudo da primeira vez. E o sonhador ou se torna um moralista desgraçado que prega o que não fez, por desistência da vontade de resistir e de ser difícil ou porque não estava ali, ou se torna espectador dessa natureza e observa-a a seguir o seu curso, planando sobre a existência, escutando.
Porque é que as pessoas que nunca foram professores do secundário ou do ensino básico, que nunca tiveram que andar seis anos a estudar, com vários concursos públicos pelo meio, só para iniciar a carreira, só, falam dos professores como se tudo soubessem destes? Porquê encher a boca com os mestrados que os professores no estrangeiro têm (onde é que isto fica?), como se não soubéssemos que esses graus não se comparam ainda em termos de exigência com os nossos trabalhos? Porque é que quem sempre leccionou no superior e levou anos e mais anos a fazer em doce remanso um doutoramento, debita sobre o que falta aos outros professores em Portugal? Algum professor, sem ser os do ensino não universitário, deixou de cumprir escrupulosamente os critérios de admissão pública ao ensino, providenciados pelo Estado? Conhecem algum professor, fora das universidades, que estivesse a dar aulas porque, com toda a legitimidade, mas uma legitimidade mais que subjectiva, alguém o convidou? Porque é que de repente o estado se vira contra os seus professores na voz de alguns ex-ministros, ministros e afins? O estado do ensino deve-se exclusivamente à política da educação e social escolhida para Portugal e nunca aos seus agentes. Quem é que tem dúvidas?
Não falei ainda do livro “o menino Nicolau”. As histórias, só ligeiramente datadas, porque na realidade algumas coisas mudaram nas estruturas familiares e na escola, contam-nos a vida do menino Nicolau com a sua família e amigos. Era um tempo em que não existiam pedagogos e pediatras, nem a ansiedade de pais a ouvirem pedagogos e pediatras sobre tudo e mais alguma coisa, era o tempo de brincar na rua com os amigos e de ir para a escola sozinho. O tempo em que os pais, ou o estado, não tinham que obrigatoriamente preencher as horas de brincar dos miúdos com actividades pedagógicas, para que os papás possam produzir muitos produtos para o país ser rico. Ou o que quer que seja que se quer rico. Como são histórias pequenas cabem bem na hora de ir deitar. Esses rapazes são os nossos rapazes, sempre a resolverem com os punhos o que não conseguem através do discurso. O humor é superior. Compreendo o desespero do Clotário quando diz aos seus amigos, que "pintaram a manta" na festa dos seus anos: “Ele explicou-nos que queria conduzir uma locomotiva quando fosse grande, mas depois da festa de ontem ele não iria crescer mais porque o papá dele lhe tinha dito que não ia haver mais aniversários”. (p. 84).
um pirata português em Washington
terça-feira, setembro 19, 2006
Uma mudança não uma cruzada
"carta sobre a tolerância"
Muitas pessoas estão a confundir a intervenção do papa Bento XVI na Universidade de Ratisbona com se de um tocar de sinos a rebate para reunir a congregação cristã se tratasse. Eu continuo a julgar que antes de mais o papa está a fazer uso da sua capacidade de raciocinar e de usar argumentos para falar para a humanidade, em nome da capacidade de cada um poder utilizar a sua razão, desenvolver o seu espírito crítico e manifestar-se livremente. Isto não é uma prerrogativa do ocidente, são faculdades comuns a todos os seres humanos que devem poder discutir em público as suas ideias e crenças.
Mais do que uma defesa dos valores ocidentais, o papa está a defender os valores universais da pessoa humana. Temos tendência a esquecer que os radicais islâmicos não nos fazem mal a nós ocidentais em primeiro lugar, fazem-no ao seu próprio povo que está constrangido a moldar o seu comportamento de acordo com os ditames de suas excelentíssimas individualidades supremas. Quantas pessoas moderadas se sentem forçadas ao silêncio, porque senão serão perseguidas, presas ou mortas? Quantas pessoas que não crêem o podem afirmar sem incorrer em penas de morte? Quanta liberdade existe para o povo muçulmano pensar e agir para além da que os seus líderes religiosos/políticos lhes ditam? Isto é viver sob ditadura, e, a esquerda que não se engane, não é passível de ser contextualizada na esfera do respeito pela diferença cultural de cada povo. Isso é entregá-los a forças violentas que não os atendem ou prezam em nome de uma vontade de poder abusivo.
Não se trata de um discurso que contraponha o mérito dos cristãos (até porque a história ensinou-nos bem, onde e como tão mal se empregou esse mérito) ao desmérito dos muçulmanos, a direita que não se engane. É um discurso que anuncia a possibilidade de cada um interpretar as crenças num quadro alargado de reflexão e uso da vontade autónoma. O mundo muçulmano está a guardar por um John Locke que escreva a sua “Carta sobre a tolerância”, e nós não devemos ignorá-lo em nome de uma ideia de que não nos devemos imiscuir nos seus assuntos internos. Claro que não devemos, mas daí a calarmo-nos cobardemente com medo dos urros da populaça há uma diferença enorme para o animal que pensa. O papa não temeu nem se acobardou. Falou pelos intelectuais do mundo inteiro, sobretudo pelos que não podem exprimir o que pensam.
Eu penso nas muitas crianças e nas mulheres muçulmanas que continuadamente são reféns da violência, penso sobretudo nas crianças afegãs que ontem foram vítimas de uma maliciosa criatura que não suportou vê-las felizes a receber pequenas lembranças. O ódio pelo ocidente é grande, mas o sentimento do ocidente por eles não deve ser o de uma indiferença maior, em nome dos que lutam pela liberdade.
segunda-feira, setembro 18, 2006
O papa com os intelectuais árabes. Eu com o papa: pela liberdade de pensar e de interrogar.
Esta é igualmente a razão pela qual o estatuto de intelectual árabe é um dos mais frágeis, não tendo teoricamente um intelectual nenhuma razão de existir num meio no qual o Corão tudo explicou e no qual os únicos comentários que ainda resta fazer são do âmbito das autoridades religiosas”.
Quem dizia que a ONU tinha morrido? Quem?
By Joseph Curl
Entre a apanha das uvas e o lavar dos cestos
Fazer vinho é um hino de louvor à ideia de imortalidade do meu pai que envelheceu em seis meses o que a vida não conseguira fazer envelhecer em 75 anos.
Deixámos de discutir as nossas diferenças ideológicas no dia em que começamos a discutir a necessidade de aplicação de químicos nos pomares e a poda das árvores. Eu chamava para minha defesa os autores que eram contra as podas, e evocava o grau de dividendos que no futuro a agricultura biológica daria, dando exemplos práticos. O meu pai chamava os velhotes da aldeia que me ouviam entre um sorriso distraído e outro condescendente para concluírem: “Ò filha, isso são tudo lérias de quem nunca plantou coisa nenhuma. Não é possível haver agricultura biológica tal como nos querem fazer crer. A bicharada dá cabo de tudo.”
Entre a experiência dos antigos e o meu saber livresco o meu pai não tem hesitado. Eu por mim continuo a ler Gonçalo Ribeiro Teles e a deixar aberto o capítulo sobre “como se deve podar” do livro que este escreveu há muitos anos com Francisco Caldeira Cabral A Árvore em Portugal, reeditado pela Assírio & Alvim em 1999.
Tal como já ouvi dizer ao especialista João Canavilhas sobre blogues: “O que me preocupa não é que apareçam muitos, porque nunca são de mais, o que deve ser investigada é a razão porque eles desaparecem.”, eu digo o mesmo para os jornais. Saúdo o seu aparecimento e lamento quando algum desaparece.
quinta-feira, setembro 14, 2006
pensamento e acção política: acerca da biografia de Mao
Tal como não aceito o estafado aforismo atribuído a um general romano sobre os portugueses, qualquer coisa que tem a ver com o facto de que os “portugueses não se sabem governar, nem se deixam governar”, como se, na realidade, nos interessasse muito aquilo que um ocupante da nossa terra tem para dizer acerca dos povos que quer dominar…também passo a não aceitar o aforismo de Mao de que “Se vires um homem com fome não lhe dês um peixe, ensina-o a pescar.” Como se interessasse muito o que diz um homem que deixou morrer de fome milhares dos seus compatriotas e que nem a pescar os ensinou.
O mais que fica é o comum na história das relações que se tecem no poder, para manter o poder. Da incompetência dos líderes ou dos seus conselheiros, sejam eles de ditaduras ou governem em democracia. Pese embora os erros de uns e outros não terem o mesmo preço a nível pessoal em ditadura ou em Democracia. Nixon que o diga.
Tudo o mais é avassalador. A ideologia de uma engenharia social que trata o indivíduo, a família, o grupo, os valores culturais e religiosos tradicionais, como meros elementos ao serviço de uma ideia de estado absolutamente adversa à liberdade, à responsabilização, à crítica e ao respeito pela vontade da pessoa e centrada no culto de personalidade de um líder.
A figura é odiosa, mas julgo que os autores poderiam distanciar-se dessa aversão e justificarem pelas palavras de outrem a caracterização da figura, com testemunhos ou registos, ao invés de consecutivamente utilizarem um discurso próprio valorativo que, a mim, me incomoda. Eu advogava um maior distanciamento.
Mas, fora a questão emocional relativamente à figura, há umas questões que o livro não resolve: explica porque é que Mao não recuperou à Inglaterra o território de Hong-Kong, mas não explica qual o interesse em não ter recuperado Macau tirando-o do governo de Portugal. Ambos os territórios eram governados por potências coloniais, inclusive Portugal perdeu os seus territórios na Índia em 1961, então porque deixar Macau em mãos portuguesas? Os autores não avançam com explicações para este caso.
A inteligência na Rede
É claro que os critérios de selecção pertencem à fundação que edita o “site”, mas não deixam de ser muito interessantes, ainda que nos possamos perguntar porquê estes e não outros? Como em quase tudo na vida.
Os salários dos professores e a OCDE
terça-feira, setembro 12, 2006
A crítica ao imperialismo, no discurso antigo da crítica às acções injustas
Na antiguidade, a história teve o desfecho trágico que todos conhecemos: se buscas a verdade e perdes de vista a lisonja para com os poderosos, e a paciência em condescenderes com as opiniões dos altaneiros néscios, então poderás ser condenado à morte. Se o fores, sendo-o injustamente, o que fazer?
Criticar o Estado, o nosso ou o dos outros que sob o nosso exercem uma esfera alargada de influência, é tarefa, para não utilizar um termo com conotação ética mais forte, o dever, de todos os que têm que considerar se as acções praticadas, por si, ou por outrem em seu nome, são justas ou injustas. Saber dar as respostas é que é difícil, porque estas fazem-nos cair nos quadros de explicações culturais, sociais ou políticas em que estamos socializados de ordinário. Que método de análise, para que tipo de prova da argumentação, com que tipo de fundamento para a conclusão, eis uma questão.
E agora Sr.ª deputada Odete Santos?
O velho e recorrente discurso do anti-imperialismo. O que se aprendeu com ele?
“During the sharp debate leading to adoption (Universal Declaration of Human Rights) Andrei Y. Vishinsky, soviet deputy foreign minister, charged it was the leaders of the West – not Hitler – who share the chief blame for the second world war.
“The cause of the second world war”, he said, “is not so much Hitler, but the leaders of France and Britain, supported by the USA.”
Um sonho académico quase tornado realidade
Porquê quase um sonho? Falta Portugal na lista de países que dispõe de uma base dados deste género, e falta a comunidade presencial de investigadores, para discussão, análise e fiscalização mútua das nossas conclusões.
segunda-feira, setembro 11, 2006
Por mais e melhor democracia
"The Dust Cries Out: Homage to September 11"
Karen Swenholt
Temporary World Trade Centre Memorial and Eternal Flame
Para relativizarmos as coisas analisemos com cuidado as décadas de sessenta e setenta no mundo. Era terrífico. A China ditatorial, o Paquistão descontrolado, a Índia à procura da sua identidade política, a desenvolverem todos a bomba atómica. Os EUA e a ex União Soviética, a prestarem apoio logístico nesta área aos novos recém-chegados que mais lhes interessavam e todos a mostrarem os "dentes" entre si, ameaçando-se mutuamente com o uso de tal arma. Fora as outras ditaduras, as guerras coloniais e civis por esse mundo fora. Era um tempo muito seguro, para quem?
Há uma luta de culturas ou de civilizações? Não me parece nada. É um erro que alguns analistas vão alimentando. Há uma luta clara pela hegemonia do poder nos países muçulmanos e vontade expressa de a exportar desta esfera mais restrita para o mundo. Começa por ser uma forma de controlar o comportamento da sociedades muçulmanas mas com intuitos de proceder à sua expansão e consequente erradicação dos valores ocidentais. Neste caso a ideologia que combate a ocidental afirma-se em nome dos valores da religião muçulmana, mas a verdade é que os discursos são exactamente os mesmos que os líderes com tendências totalitárias marxistas ou ditaduras militares de direita ao longo dos tempos utilizaram. O combate faz-se contra as mesmas questões com que anteriormente era feito, utilizando o terror e a violência tal como então se utilizara. Basta ver como procedia Stalin, Mao, Kim Il Sung (o filho deste continua a proceder), Pol Pot, e outros tiranetes menores , ou Augusto Pinochet e Perón.
Seria um trabalho pedagógico interessante analisar em paralelo os discursos de Stalin ou Mao, por exemplo, e confrontá-los com os de Bin Laden, e outros líderes muçulmanos defensores da luta contra os ocidentais.
O que fazer? Manter-se vigilante em relação a todos o s poderes, sobretudo os que não são escrutináveis, reconhecer a importância e o valor das oposições dos países sob governos ditatoriais, destacando o seu papel, e chamando-os a representaram a sua posição no concerto mais global da discussão pública. Tendo o cuidado de fazer com que um tirano não seja apoiado pela inteligência ocidental só porque se opõe a outro tirano. O que aconteceu no Irão com a revolução islamista devia ser um aviso a todos nós ou na Indonésia, ou...
sexta-feira, setembro 08, 2006
professores portugueses
Contas da organização feitas com base nos salários de topo de carreira", foi muito bem conseguida por alguém que sabia que esta notícia ía decididamente sair antes:
Sindicato contesta regime de transição para nova carreira".
A isto chama-se saber impor uma agenda política. É um bom caso para estudo de como um ministério usa a comunicação para reforçar uma certa imagem do alvo das suas políticas junto da opinião pública, com o intuito de retringir o grau de influência dos sindicatos na discussão sobre o Novo Estatuto da Carreira Docente. Resta saber a verdade, toda a verdade, dessas contas. De um lado e do outro. Só.
pacto de reforma na justiça
Parabéns Belém!
Belém, a ti devo a minha entrada na blogosfera. A ti devo dias de respirar solto e sensibilidade alerta em tempos que eram para mim complicados.
quinta-feira, setembro 07, 2006
O filósofo iraniano Ramin Jahanbegloo foi libertado
"Sometimes the trigger for a person to confess to his or her mistakes is not torture by a brutal bunch of interrogators but his or her honest and couragous encounter with the larger picture to which he or she is contributing. Thanks to the work of the reformists who governed the country until 2005, Iran has passed the stage of state terror. The danger now is that the regime-change plan of the Bush administration has the effect of turning everything in Iran back to a pre-Khatami stage. Such a policy must be opposed."
Mas há muitos mais prisioneiros políticos no Irão. Neste site podemos ficar a conhecer os seus nomes, em seu nome e no da liberdade.
luz para Darfur
Today, as the first of those days, we encourage you to "Shine a light for Darfur." Join thousands of other Darfur activists by organizing a local candlelight vigil to remember the victims of the genocide in Darfur.
Place a single lit candle in your window as a remembrance, or ask others in your community to join with you and hold your event in a public place.Please take photos of your event, no matter how large or small, and email them to shinealightphotos@savedarfur.org. We will post them online for all to see.
As we approach the September 17th events, we also need your help to ensure the genocide in Darfur remains in the news and on the minds of decision makers.
There is no better way to do that than with a letter to the editor of your local newspaper.
The editorial page is one of the most widely read sections of the newspaper, especially by elected officials who want to know what’s on their constituents' minds. Let newspaper readers know that you will not stand by and watch a government-sponsored genocide take the lives of hundreds of thousands of innocent men, women, and children in Darfur.
Click here to write your letter to the editor today.
We have provided some information to help you, but the more personal your letter is, the more likely it will be printed.
So please take a moment to make your letter as unique as possible by telling your own story. Are you planning on traveling to the New York City event? Do you know a Darfur refugee? Has your church, mosque, or synagogue done something distinctive to raise awareness of the genocide in Darfur?
Click here today to write your letter to the editor.
Thank you for everything you continue to do on behalf of the people of Darfur."
David Rubenstein, Save Darfur Coalition [darfur@mail.democracyinaction.org]
quarta-feira, setembro 06, 2006
Filosofia
El Greco, pormenor do quadro Madalena de 1576-78.
Fiquei a pensar no seguinte por estes dias (2):
bebés e heranças
terça-feira, setembro 05, 2006
comunidade de blogues
Considero este também o tempo de agradecer a leitura do JPT do Ma-schamba
A ONU e a FIFA
Enquanto comentava as últimas notícias relativas ao caso Mateus e a sua relação com as instâncias desportivas internacionais, o jornalista desportivo e comentador sobre futebol da Sic, Rui Santos, dizia o seguinte, cito de memória: “A FIFA quer ser uma espécie de ONU do futebol”. Ora, não. De todo. Pelo que eu tenho lido e ouvido tomara ao lunático mais favorável à ONU que esta tivesse o poder da FIFA. Nem eu, que sou uma bocadinho lunática a favor da ONU, quereria que a ONU tivesse este poder que a FIFA parece ter.
cais do ginjal
Eu gosto tanto, tanto, do cais do Ginjal. Porque a água do rio bate prendida ao cais, porque a luz sobre Lisboa é um dos melhores espectáculos da natureza em Portugal, porque há lá uma casinha que tem uma varanda de ferro forjado em semicírculo, porque um menino pequeno ali brincou ontem aos piratas, porque se pode ir lá comer, porque nas noites quentes os pescadores amadores se misturam com os pouco passeantes, e estes passam entre grupos de homens meio bêbados, meio drogados, meio lúcidos. Homens que respondem às boas-noites dos que passam tensos e vigilantes, olhando-os de soslaio e estugando o passo a caminho dos restaurantes que ficam mais à frente.
Um dia o cais do Ginjal ficará como o "jardim do rio", o percurso que lhe dá continuidade e de onde se pode ter acesso, quando o elevador funciona, ao miradouro de Almada. Tubo bonitinho, com a relva aparada e verde, as árvores certas e as pedras em destaque, como nas revistas. Daí até ao lugar de “olho-de-boi” vamos percorrendo um caminho iluminado, limpo e seguro. Há quem deixe aí ficar o carro e ande no caminho mais perfeitinho até à mesa do restaurante. Mas isso é batota. Há que fazer a travessia de barco, sobressaltar-se com a beleza do lugar logo que se vira à direita na estação fluvial do Seixal, quem quiser pode suspirar pela recuperação das pessoas e dos edifícios, sobressaltar-se com a destruição, sentir até um pouco de medo por causa desses seus desconformes moradores. Mas não se espera que sinta repugnância. Será de esperar que no fundo, no fundo, peça que não transformem o cais do Ginjal em mais um “jardim do rio”. E que o cais de desembarque dos “táxis do rio” junto ao primeiro dos dois restaurantes desapareça
segunda-feira, setembro 04, 2006
como se estivesse a falar de futebol
Novo blogue
sexta-feira, setembro 01, 2006
Estabelecer prioridades 1
Darfur - a política de interesses nessa parte do mundo
do everything possible to actually put that force on the ground."
(...)
"Russia, a major supplier of weapons to Sudan, and China, a major consumer of Sudanese oil, both abstained in today's vote on the resolution, which sends an extremely unhelpful signal about their lack of
willingness to press Khartoum to accept U.N. troops."
(...)
The U.N. reports that violence in Darfur is worse than ever despite the Darfur Peace Agreement, leading to the forcible displacement of 21,000 people since July in the state of North Darfur alone. Humanitarian access in Darfur is at its lowest level since 2004, with almost 500,000 needy civilians beyond the reach of humanitarian aid.
For more of Human Rights Watch's work on the crisis in Darfur, please
visit: http://www.hrw.org/doc?t=africa&c=darfur