Dizem que o primeiro ministro não tem uma ideologia de esquerda. O mesmo, quando interrogado a esse propósito, tem a atitude de enfado e de irritação que lhe crispam muitas vezes o olhar. Falta de paciência para com a interrogação e pouca capacidade de negociar de forma mais persuasivamente branda. É um estilo. Eu não gosto, mas isso é pouco relevante.
Mas só quem não quer ver é que não percebe qual a ideologia que está na base da sua acção: a procura de uma maior igualdade social. Só que essa igualdade não é pensada a partir das categorias marxistas de uma sociedade sem classes, e no pressuposto de que essa experiência seria conduzida pela consciência e pela força do proletariado, mas de uma igualdade de oportunidades e de salvaguarda dos mais desvalidos por um Estado social. Um estado contemporâneo, menos monopolizador e inibidor das energias económicas, mas capaz de potenciar a criação de riqueza que taxará para garantir uma distribuição mais equitativa. E esta é uma ideia meritoriamente socialista.
Perceber-se-á melhor a ideologia de base da acção de José Sócrates se lermos o seguinte:
"The Nordic societies can be characterized as countries with rather subtile class differences. To define which class people belong to has become harder in the last 50 years, when the democracy has led to compulsory education and social insurances for everyone. Equality has been the slogan best remembered from the French revolution, and strong labor unions have achieved many of their goals, with for instance manual workers often earning well as much as lower officials and teachers." L
er mais.
exemplo prático de utilização de tons mais persuasivos e menos agressivos na forma de lidar com problemas laborais/sociais: Estado da Baviera, Alemanha.
F. é engenheiro, trabalha para uma empresa pública do estado da Baviera situada em Munique. A empresa precisa de se transferir para uma região bastante afastada de munique. Como fizeram os responsáveis por essa decisão:
1. Enfrentaram os trabalhadores com a inevitabilidade dessa deslocalização de forma abrupta, fazendo-lhes sentir que eles eram uns felizardos de uns funcionários públicos que tinham mais era que seguir as ordens e não andarem a entravar o progresso colectivo?
2. Puseram os trabalhadores que não aceitaram as novas condições na lista dos excedentes da função pública?
3. Organizaram inúmeras reuniões durante anos, prepararam cuidadosamente a saída dos trabalhadores, ajudando-os a encontrar soluções profissionais, e planearam a transferência de todos os outros, salvaguardando empregos e ordenados?
Sei, pessoalmente, que a atitude adoptada foi a 3. MUDOU-se porque havia necessidades económicas e logísticas para mudar, mas sem confrontos ridículos de egos. As políticas públicas são para serem usadas com esclarecimento. É uma questão de respeito entre cidadãos.